ANA MARIA CAMPOS/EIXO CAPITAL
ENTREVISTA: Manoel Arruda, advogado, presidente do União Brasil-DF
“O Consórcio da Paz é gestão e coordenação entre estados que estão entregando resultado. Quem politizou o tema foi o governo federal quando empurrou a conta para os estados”
Governadores de direita se reuniram e criaram o “Consórcio da Paz”. Participam apenas integrantes da oposição. O tema virou embate eleitoral?
Segurança pública não pode virar palanque. O Consórcio da Paz é gestão e coordenação entre estados que estão entregando resultado. Quem politizou o tema foi o governo federal quando empurrou a conta para os estados e se omitiu no que é competência da União. Artigo 144 é claro: segurança é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e a União tem de participar.
Na sua opinião, a megaoperação do Rio nos complexos do Alemão e da Penha foi bem-sucedida?
Sim. A triste ressalva refere-se a perda da vida de 4 policiais e de outras dezenas de agentes das forças de segurança feridos nesta guerra contra narcoterroristas. Sem dúvidas, enfraqueceu a capacidade bélica e logística do crime. Agora é garantir perícia rápida, cadeia de custódia e continuidade para impedir recomposição. A opinião pública respaldou: segundo o Datafolha, 57% dos moradores do Rio e da região metropolitana consideraram a operação um sucesso.
Como o governo federal pode ajudar o Rio e outros estados nas questões de segurança?
Agindo onde é sua competência. Fronteiras vigiadas com tecnologia e presença regular. Inteligência financeira integrada entre Polícia Federal, Receita e Banco Central para bloquear o dinheiro do crime em tempo real. Cooperação internacional viva. Política penitenciária que silencie comunicação ilícita e isole lideranças. Apoio jurídico e material às polícias estaduais. Além do emprego regular das Forças Armadas no monitoramento das fronteiras.
O União Brasil vai apoiar a PEC da Segurança no Congresso?
Apoiaremos o que protege o cidadão e fortalece quem está na linha de frente. Vamos trabalhar por aprimoramentos que garantam proteção jurídica ao policial, confisco ágil de bens, banco nacional de organizações criminosas, bloqueio efetivo de sinal e aparelhos em presídios e metas de desempenho para órgãos federais.
Qual a sua avaliação das mudanças propostas pela PEC?
O mérito está em endurecer o regime e dar instrumentos modernos. Mas lei forte sem execução vira manchete. É preciso prever mecanismos de implementação, metas e avaliação. Endurecer no papel e afrouxar na prática não resolve. A regra é cortar o oxigênio financeiro das facções e manter liderança isolada. É dever da União assunção de responsabilidade, não apenas com apoio logístico pontual, mas com uma política de fronteira contínua e integrada, e com mecanismos de compensação financeira aos estados.
Como o Distrito Federal pode e deve contribuir para solucionar a crise no Rio?
O DF pode e deve adotar uma postura de contribuição. Isso significa na prática firmar convênios com o Ministério da Justiça para troca de dados e apoio logístico, ceder estrutura de comando e efetivos da polícia civil e militar em operações conjuntas quando requisitado, reforçar o bloqueio de celulares nos seus presídios e compartilhar protocolos, reprimir lavagem de dinheiro e receptação na sua jurisdição e encaminhar provas à Polícia Federal e ao Ministério Público, além de apoiar planos integrados nas rodovias federais que cruzam o DF. Cooperação técnica com direção federal e respeito ao pacto federativo.
E o debate local sobre segurança pública? Como será na campanha?
Sem lacração e sem corte de vídeo. As forças de segurança do DF (Polícias Militar, Civil e Penal) têm atuado e reduzido os índices de criminalidade, entretanto, a segurança pública está, segundo pesquisas recentes, no topo das prioridades. Em 2026, os candidatos deverão apresentar proposta, meta e exigir maior transparência. Mais patrulhamento orientado por dados, videomonitoramento útil, integração real entre polícias e discutir a criação de uma Guarda Distrital, proteção jurídica e material aos agentes que atuam na ponta, e foco total em reduzir crime violento e roubo. O cidadão quer sair de casa, trabalhar e voltar em segurança. É isso que o União Brasil irá discutir, colaborar e exigir dos candidatos, em nome da população do Distrito Federal.

