ANA MARIA CAMPOS
HELENA MADER
A Divisão de Combate aos Crimes contra a Ordem Tributária deflagrou nesta quinta-feira (06/09) a Operação Blindness, que investiga a prática de lavagem de dinheiro envolvendo repasses de prefeituras e de verbas indenizatórias de parlamentares. Os policiais cumpriram sete mandados de busca e apreensão na Atos Dois Propaganda, na Cloud Technology e na residência de pessoas ligadas às empresas. As firmas receberam nos últimos três anos mais de R$ 10 milhões. A operação foi autorizada pela 3ª Vara Criminal de Brasília, com a anuência do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Um dos investigados, Francisco Edielson, é secretário parlamentar lotado no gabinete do deputado Alberto Fraga (DEM/DF), candidato ao Governo do Distrito Federal. A reportagem apurou no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados que o parlamentar repassou R$ 968 mil a empresas ligadas a Edielson que estão sob investigação, com recursos da verba indenizatória da Casa.
A divisão, que é subordinada à Coordenação de Combate ao Crime Organizado, aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária da Polícia Civil do DF (Cecor), cumpriu mandados em um prédio comercial do Setor de Indústrias Gráficas, onde funciona a Atos Dois Propaganda.
A empresa está registrada em nome de Flávia Ferreira dos Santos. Ela é ex-mulher de Francisco Edielson, funcionário do gabinete de Fraga desde julho deste ano. A Atos Dois usa o nome fantasia Xeque Mate Publicidade. A reportagem visitou o escritório da empresa, no SIG. Na sala divulgada no site da firma, não há nenhuma identificação.
Em outra sala, que aparece como endereço da Atos Dois no registro da Junta Comercial do DF, há apenas um adesivo recém-arrancado com a logomarca da Xeque Mate. Segundo a Polícia Civil, a empresa faturou quase R$ 11 milhões a partir de 2015. Mas os números são incompatíveis com a vida simples da família Ferreira dos Santos. Os integrantes do clã, de acordo com os investigadores, atuam como testas de ferro. Segundo o delegado Virgílio Agnaldo Ozelami, responsável pela investigação, trata-se de um núcleo familiar que atua no suposto esquema de lavagem de dinheiro.
A Atos Dois Propaganda também recebeu recursos da Câmara Legislativa. Ela foi contratada pelo gabinete do deputado distrital Rafael Prudente (MDB) que, no ano passado, repassou à firma R$ 13 mil de dinheiro da verba indenizatória.
Cloud
A Cloud Technology, alvo da investigação, está registrada em nome de Fátima Ferreira dos Santos. Ela é irmã de Flávia Ferreira dos Santos e ex-cunhada de Francisco Edielson. Segundo a Polícia Civil, Fátima atuava como diarista, enquanto seu nome já constava no registro da firma.
A empresa registrada em seu nome, atualmente inativa, recebeu R$ 1,2 milhão de verba indenizatória da Câmara dos Deputados entre 2013 e 2017. Os recursos foram repassados por oito deputados federais. Só do gabinete do deputado Alberto Fraga, a Cloud Technology, nome fantasia da empresa Fátima Ferreira dos Santos ME, recebeu R$ 298 mil.
O delegado Fernando Cesar Costa, coordenador da Cecor, explica que a investigação começou a partir de uma denúncia de que essas empresas movimentavam volumes altos de recursos sem que houvesse um serviço compatível com a arrecadação. Na investigação, foi constatado que as proprietárias têm uma vida modesta, apesar de as empresas terem recebido mais de R$ 10 milhões em três anos. “Essa investigação faz parte de uma estratégia nacional das Polícias Civis de combate à lavagem de dinheiro”, explicou. Ele ressaltou que nenhum parlamentar é investigado. Por enquanto, apenas as empresas e os sócios são alvos do inquérito.
A assessoria de imprensa de Alberto Fraga informou que a empresa Atos Dois é contratada pelo gabinete de acordo com a legislação que regulamenta o uso de verba indenizatória. Segundo a assessoria do deputado, a firma presta serviços regularmente e com emissão de nota fiscal. O parlamentar classificou a operação desta quinta-feira como “uma ação política do governador Rodrigo Rollemberg”. Ainda segundo a assessoria do deputado, Francisco Edielson trabalha regularmente no gabinete.
(Colaborou Alexandre de Paula)
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