ALEXANDRE DE PAULA
Para desmantelar uma das facções criminosas mais fortes do Distrito Federal, a Polícia Civil cumpre, na manhã desta terça-feira (12/8), 55 mandados de prisão (49 preventivas e 6 temporárias) e 54 de busca e apreensão. Os agentes encontraram armas e drogas com os suspeitos. Os alvos são líderes e integrantes do Comboio do Cão, organização criminosa que é investigada por, ao menos, 24 homicídios, tráfico de drogas, lavagem de dinheiros e outros delitos. O grupo atua também dentro do sistema carcerário do DF.
No presídio, o grupo ganhou força e controla atividades de tráfico e de jogos de azar, de acordo com as investigações da Polícia Civil. A facção tem até um estatuto que regulamenta as práticas dos integrantes. Entre as regras, está a definição de que quem se opuser ao grupo ou ao membros do grupo enfrentará a punição dentro ou fora da prisão.
Para sustentar as atividades, a facção se valia de uma complexa rede de lavagem de dinheiro envolvendo laranjas. O esquema é alvo de um inquérito próprio e é peça fundamental para desmantelar a organização criminosa. A Operação Rosário viabilizou o sequestro das contas bancárias de 60 pessoas, além de 17 veículos e 11 imóveis.
A operação, batizada de Rosário em referência ao costume religioso utilizado também para espantar demônios, é um trabalho conjunto da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP) com as Promotorias de Justiça do Riacho Fundo, Recanto das Emas e com o Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional – Nupri. A investigação começou com base em uma série de assassinatos registrados com os quais a facção tinha envolvimento.
Ao analisar os crimes em conjunto, a equipe da CHPP encontrou elementos para analisar na atuação da organização. Os assassinatos mantinham relação com disputas por território com outros grupos criminosos. A partir disso, a investigação seguiu com uso de medidas cautelares sigilosas, autorizadas pela Justiça, que permitiram coletar dados e provas sobre os crimes praticados.
Fora da cadeia, a facção mantém atividades de tráfico em quase todo o DF, pratica roubos de veículos e comércio ilegal de armas. Segundo a apuração da Polícia Civil, as ações eram marcadas por violência e pelo uso de forte armamento, com uso de pistolas que permitem tiros de rajada. Diversos homicídios foram cometidos pelo grupo, em geral em decorrência de problemas e desentendimentos com outros criminosos.
O grupo também se envolveu em crimes praticados na porta de fórum e cadeias do DF. Em 2016, um homem foi executado com 30 tiros em frente ao Fórum de Santa Maria. O tio da vítima foi morto, dias depois, com 50 tiros na mesma região.
Investigação
O delegado-chefe da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa, Fernando Cesar Costa, explica que a Operação Rosário faz parte de uma mudança de metodologia no setor em que os crimes de homicídio são analisados em conjunto com outros delitos. “Nós sabemos que grande parte dos homicídios que ocorrem no Distrito Federal estão vinculados à atuação de grupos criminosos organizados voltados sobretudo para o tráfico e para grandes roubos. Dentro dessa lógica, nós passamos a agrupar os inquéritos e analisá-los sob a ótica de atuação de um grupo organizado”, afirma.