País poderia economizar R$ 17 bi com boa gestão de energia

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Carlos Alexandre de Souza

Especialistas convidados pelo Instituto Clima e Sociedade mostram que a insistência no modelo com termoelétricas representa um custo de R$ 37 bilhões somente este ano. Segundo eles, é urgente a utilização de fontes renováveis para diminuir o peso da conta de luz no bolso do consumidor.

Especialistas em crise hídrica alertaram nesta segunda-feira (18/10), em mesa redonda promovida pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), para o alto preço pago pelo consumidor brasileiro por causa do mau gerenciamento da energia. Ao longo dos últimos anos, a política energética brasileira tem confiado em São Pedro para os brasileiros terem luz elétrica em casa, ou no trabalho. Quando a chuva não vem, recorre-se a uma modalidade de energia cara e altamente nociva ao meio ambiente: a termoelétrica. A cada ano, com a progressiva redução de chuvas em razão das mudanças climáticas, a inefiência do modelo energético adotado no Brasil se torna flagrante. E quem paga a conta, no final, é o consumidor.

Um estudo de autoria de Donato da Silva Filho, sócio-fundador da Volt Robotics, mostra que o acionamento de usinas termoelétricas para compensar a falta de chuvas representa um custo de R$ 37 bilhões somente em 2021. Segundo Donato Filho, o custo de geração de energia poderia cair para R$ 20 bilhões se houvesse um gerenciamento da energia termoelétrica durante o verão, época de maior precipitação de chuva. Com o uso de fonte termoelétricas mais baratas, haveria menor necessidade de utilizar esse recurso no período da seca.

Esse custo adicional de R$ 17 bilhões, que recai sobre o consumidor, resulta, em primeiro lugar, de um erro de diagnóstico. Donato Filho afirma que é preciso esquecer a ilusão do “verão chuvoso”. Nos últimos anos, destaca o especialista, os principais reservatórios do país operam com menos de 60% da capacidade. Esse fenômeno é evidente ao menos desde 2013, em uma demonstração de que o sistema é ineficiente. “Acreditar em verões chuvosos tem se mostrado um verdadeiro desastre para o setor elétrico”, comenta Donato Filho.

Em outro estudo sobre a crise hídrica, o matemático Sérgio Margulis, autor do livro “Mudanças climáticas: tudo o que você queria e não queria saber”, expõe claramente a tendência de seca em praticamente todo o país, com exceção da Região Sul, para as próximas décadas. Esse prognóstico, elaborado a partir de modelos matemáticos, mostra-se catastrófico, na medida em que bacias importantes do Brasil situam-se nas Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Para se ter uma ideia da gravidade, ressalta Margulis, os reservatórios do Sudeste/Centro Oeste e do Nordeste registraram, em julho, o pior nível de armazenamento de água desde 1930. E o futuro é sombrio, se nada for feito.

Margulis aponta conclusões duras no seu estudo. Defende, por exemplo, fechar imediatamente toda e qualquer usina de carvão no Brasil. E uma meta mais difícil, em razão dos fortes interesses políticos e econômicos contrários: o fim total de qualquer desmatamento da Amazônia.

Outros especialistas fazem coro ao alerta de Donato Filho e Sérgio Margulis. Para o engenheiro Luiz Eduardo Barata, ex-diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), está claro que o “problema não é divino”. Segundo ele, é preciso “quebrar o paradigma” das termoelétricas com urgência.

Teresa Liporace, diretora programática do Instituto Clima e Sociedade (iCS), ressaltou os danos ao consumidor final ante tanto negacionismo energético. Segundo ela, os estudos evidenciam como o setor elétrico trabalha sem previsibilidade. “Quem paga essa conta é o consumidor”, lamenta a ex-diretora-executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

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