Coluna Eixo Capital publicada em 8 de outubro de 2024, por Ana Maria Campos
Depois de conquistar o maior número de prefeituras no primeiro turno das eleições municipais, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, tem duas metas: manter o desempenho no segundo turno e alcançar a presidência da Câmara dos Deputados. O nome para o cargo é o do líder do partido, Antônio Brito (BA). No DF, o presidente regional, Paulo Octávio, comemora a performance da legenda e espera um fortalecimento de seus projetos para 2026, entre os quais eleger o filho caçula, André Kubitschek, deputado federal.
Onda da causa animal
Com 113.820 votos, o terceiro vereador mais votado da cidade de São Paulo foi Dr. Murillo Lima (PP) elegeu-se com a bandeira da causa animal. Mesmo enfoque da campanha do segundo mais votado em Osasco, Ralfi Silva (Republicanos), defensor da implantação de hospitais veterinários gratuitos na cidade.
Mulheres na minoria
Como resultado do primeiro turno, por enquanto, apenas 11% das prefeituras serão comandadas por mulheres.
Vice
Procurador de Justiça aposentado, ex-presidente da Terracap e ex-administrador de Brasília, o advogado Antônio Gomes topou ser vice na chapa encabeçada por Carolyne Guimarães na disputa pela presidência da OAB-DF.
Filhos eleitos
Os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro tiveram o melhor desempenho possível nas eleições municipais. Carlos Bolsonaro (PL) teve 130.480 votos, mais do dobro de votos do segundo colocado na disputa pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, Márcio Ribeiro (PSD). O filho 04, Jair Renan (PL), também foi o mais votado em Balneário Camboriú e se elegeu vereador.
Devagar
O PSDB sumiu do mapa no município de São Paulo. Em 2020, o partido reelegeu o tucano Bruno Covas. Agora, não tem sequer um vereador. Em Goiânia, o partido do presidente nacional da sigla, Marconi Perillo, elegeu apenas dois vereadores.
À Queima Roupa
Bruno Eduardo, vice-diretor da ONG A Vida no CerradoEm meio a enchentes no Rio Grande do Sul, seca dos rios na Amazônica, recordes de temperaturas e incêndios em vários pontos do país, a ONG A Vida no Cerrado, sediada em São Sebastião e com ramificações em vários estados, lançou o Guia para Candidaturas Ambientalistas. O material é dirigido a candidatos a prefeitos e vereadores, com orientações de como integrar a temática do meio ambiente às políticas públicas municipais em uma era de emergência climática. E, nesta entrevista, Bruno Eduardo, biólogo e mestre em ecologia, vice-diretor da Avinc, fala sobre a cartilha e o engajamento dos jovens nas questões ambientais.
O que vocês miram ao conceber uma cartilha sobre as ações para mitigar as mudanças climáticas dirigida a candidatos a prefeitos e vereadores?
A ideia nasceu de uma análise conjunta de voluntários de todas as redes que atuam com juventudes mobilizadas pela pauta da consciência ambiental, com foco no bioma Cerrado. Nunca antes vimos tantas oportunidades de intervir na pauta ambiental quanto neste momento em que estamos vivendo eventos extremos cada vez mais frequentes. O Brasil pegou fogo quase que nacionalmente. Tivemos mais de 190 mil focos de incêndios. Faço um recorte de que 35% desses alarmes de queimadas ocorreram no Cerrado. Os municípios são os lugares onde as pessoas, efetivamente, moram e constroem suas identidades. Então, ao exercer o direito ao voto, o cidadão pode influenciar os candidatos a oferecer políticas públicas para o meio ambiente.
Qual deve ser a perspectiva dos políticos em relação ao meio ambiente em um contexto de emergência climática?
Não devem olhar o meio ambiente como uma bolha, mas, sim, como um tema transversal. A crise climática envolve tudo: meio ambiente, saúde pública, educação e mobilidade urbana. Tivemos em mira, justamente, criar um material capaz de fornecer aos candidatos as principais ferramentas de como agir para enfrentar as mudanças climáticas no âmbito local. Os prefeitos e vereadores estão na linha de frente das cidades assoladas por enchentes, secas e calor extremo. Com políticas públicas, eles podem promover a resiliência em seus territórios e a sustentabilidade nas cadeias produtivas.
Uma pesquisa recente mostrou que somente um em cada três políticos mencionam as mudanças climáticas em seus programas. Como lidar com esse nível de consciência em uma situação tão grave?
A pesquisa revela uma desconexão total entre a realidade e a percepção da política, apesar de ser um tema presente no cotidano de milhões de brasileiros. Os candidatos não conseguem compreender que isso terá um impacto profundo e precisa ser enfrentado com as políticas públicas locais. A gente está vivendo em um novo clima. Não é mais o de 20 anos atrás. Hoje, a gente precisa repensar as nossas cidades, temos de falar em estruturas verdes relacionadas, construir soluções baseadas na natureza. Tem uma frase muita boa do Ailton Krenak: “A melhor tecnologia para sequestrar carbono a natureza já deu para a gente, que são as árvores.” Temos de transformar essas tecnologias em políticas públicas municipais, estaduais e federais.
Que soluções seriam possíveis para enfrentar as mudanças climáticas nas cidades e qual o papel dos prefeitos e vereadores nessas ações?
Adotar soluções baseadas na natureza. Isso é muito importante. Áreas mais verdes podem reduzir a sensação térmica. As cidades são verdadeiras ilhas de concreto que absorvem muito calor. E, também, tornar as cidades mais permeáveis. A gente sofre com a falta da chuva, mas quando ela chega, temos dificuldade de drenagem. Os solos são altamente compactados, não conseguem infiltrar a água. Nossas cidades precisam ser permeáveis. É necessário investir em inovação e pesquisa. E, pensando no papel dos prefeitos e vereadores, é fundamental a participação deles na aprovação das leis para direcionar os recursos do orçamento municipal para lidar com a crise climática. É preciso ter um orçamento distribuído para grupos prioritários, a partir de um recorte . A vida no Cerrado coloca isso em jogo. O Cerrado está, em média, 1,2ºC mais quente. Isso significa menos água na caixa d’água do Brasil, que é o bioma Cerrado. A Cartilha veio com essa perspectiva nas eleições. A ideia é plantar a sementinha do ambiente como um tema transversal. A chave é integrar a temática ambiental em todas as esferas das políticas públicas.