ANA MARIA CAMPOS
ANA VIRIATO
Integra os autos da denúncia por estelionato contra a deputada Sandra Faraj (Sem partido), que tramita no Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF, uma agenda apreendida na casa da parlamentar durante as buscas e apreensões da Operação Hemera.
Nas páginas, constam pedidos registrados pela distrital. Um ano antes de ser investigada, ela incluiu na lista de desejos “livramento” de toda ação do Ministério Público, do Tribunal de Contas do DF, Polícia Civil e Federal. A descrição dos desejos ocorreu no fim de 2015.
No diário, Faraj revela o anseio pela influência no meio político e aponta o interesse em indicações em diversos órgãos do GDF: “Que o governador nos dê a Sedest [Secretaria de Trabalho], a Administração de Taguatinga, Subsecretarias da Cultura, Conselhos, a diretoria da Terracap, acessos na SES [Secretaria de Saúde], no BRB, na CEB, na Sehab [Secretaria de Habitação], na Caesb, publicidade, e outras estruturas, com mais de 600 cargos diretos”.
O estreitamento de laços com o chefe do Palácio do Buriti também era um desejo. “Que possamos (eu, Fadi e minha família) ser bem próximos do governador Rollemberg, tenhamos acesso irrestrito e ele nos ouça”, registrou.
Faraj ainda externa os sonhos sobre os próximos passos no meio político. Na lista de desejos, estão a presidência da Câmara Legislativa, sucesso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da qual é vice-presidente, influência na Comissão de Assuntos Fundiários (CAF), o Senado e, até mesmo, a chefia do Palácio do Buriti: “Ser governadora; a melhor que o DF já teve”, idealiza.
A parlamentar também projeta em seu caderno o futuro do irmão Fadi Faraj, suplente do senador José Antônio Reguffe (sem partido). O anseio é que ele assuma a cadeira.
À época da produção do caderno dos sonhos, Faraj mantinha um bom relacionamento com o então chefe de gabinete, Manoel Carneiro, que depois se tornou um inimigo e principal testemunha da denúncia de desvios de recursos da verba indenizatória da Câmara Legislativa. “Guarda o Manoel Carneiro no nosso meio e liberte a vida dele de todo o mal”, pede.
No ano passado, Carneiro afirmou que a deputada não realizou o pagamento integral de R$ 174 mil à Agência Netpub, entre 2015 e 2016, pela prestação de serviços de publicidade e tecnologia, ressarcidos com a verba indenizatória. A distrital nega a acusação e sustenta ser vítima de uma articulação política conduzida por Carneiro para destruí-la politicamente.
Espaço no Solidariedade
Um dos sonhos de Sandra Faraj acabou frustrado no último dia 21. Em 2015, a parlamentar mirava a presidência do partido, o Solidariedade. “Com cadeira na Executiva e bom tempo de televisão”, complementa o texto do diário. Em fevereiro, porém, por comunicado assinado pelo presidente nacional da sigla, Paulinho da Força, ela foi convidada a decidir seu “destino político em outra legenda”.
A deputada também fez torcida para o fim do governo “de opressão do PT”. Neste caso, ela deu um ok para o pedido atendido.
Além dos desejos políticos, Faraj descreveu anseios materiais: uma lancha de 32 pés, uma mansão na QL 6 do Lago Sul, um avião para mais de sete pessoas e uma casa em Miami. Indicou até o endereço: o condomínio Modern Doral. Lá, as unidades residenciais são avaliadas em cerca de 900 mil dólares, valor equivalente a R$ 3 milhões. Sonho alto para uma deputada distrital com salário de R$ 25 mil. A reportagem do Correio entrou em contato com a assessoria da deputada ontem à tarde e informou que a reportagem seria produzida. Mas não obteve retorno.