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“O sistema público de saúde está em colapso”, diz presidente do Sindicato dos Médicos do DF

Publicado em Eixo Capital, Notícias

À Queima Roupa com Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos do DF
Por Ana Maria Campos

Por que a greve dos médicos? Qual a reivindicação?
A greve está ocorrendo porque o sistema público de saúde está em colapso. Os médicos estão enfrentando cada vez mais dificuldades para exercer seu trabalho e oferecer assistência à saúde da população de forma adequada. Essa falta de condições de trabalho tem gerado uma insatisfação popular imensa e gerado violência dentro dos hospitais e demais unidades de saúde. Por causa desse conjunto de fatores, hoje, temos uma diminuição da quantidade de médicos no serviço público. Uma representação recente do Ministério Público de Contas aponta a redução de 537 médicos no quadro da SES, só entre 2019 e 2024. Isso é muita coisa, porque somos pouco mais de 4.100 médicos no SUS do DF. Temos menos médicos do que tínhamos em 2014 e, nesses dez anos, a população cresceu. O que queremos são melhores condições de trabalho, segurança no local de trabalho, contratação de novos médicos e recomposição salarial. O médico está sofrendo e adoecendo junto com a população.

A greve interfere em um serviço essencial. Não há outra forma de negociação?
A greve não interfere. Nós tivemos o cuidado de manter em funcionamento os prontos-socorros, as UTIs, as enfermarias e o Samu. Esses serviços não estão em greve. Se a população não consegue atendimento nesses setores, é porque o governo não contrata médicos suficientes para atendê-la. E se o paciente não conseguir atendimento ou for mal atendido, a culpa é do governo. Nós tentamos todas as formas de negociação: pedimos audiências ao governador, pedimos mediação do Ministério Público do Trabalho, conversamos com a secretária de Saúde, com a vice-governadora, tivemos reuniões com a Câmara Legislativa e com a maior parte da classe política do DF para que o governador nos recebesse. No entanto, todos esses esforços foram em vão. Só nos restou a greve e estamos, há 10 dias, aguardando contraproposta do governo para que possamos encerrar o movimento.

Houve outras tentativas?
As tentativas de que já falei começaram em 2019 e nunca deixamos de tentar.

O movimento está prejudicando o atendimento como alega o governo?
Infelizmente, não tem como fazer uma greve sem reflexo no atendimento. Entretanto, o caos na saúde pública do DF é crônico, vem de muitos anos, e a greve só tem 10 dias. Portanto, esse caos é de responsabilidade do GDF. O governo adota a narrativa da greve para justificar o caos nos pronto-socorros e nas UTIs e a deficiência no atendimento do Samu, que são notórios, mas não são nossa culpa. A responsabilidade, como falei, é do próprio governo e não nossa. Cabe ao GDF dar condições de trabalho, segurança no local de trabalho, recompor o quadro de médicos e condições salariais para garantir uma oferta de serviço de saúde digno à população.

Existe alguma contaminação político-eleitoral nesse movimento?
O Sindicato dos Médicos é plural e tem recebido apoio de parlamentares da direita e da esquerda, como o senador Izalci Lucas, a senadora Damares, a deputada Bia Kicis, os deputados distritais Chico Vigilante, Gabriel Magno e Fábio Félix, o senador Wellington Luis. Ou seja, praticamente toda a classe política do DF.  A política do Sindicato dos Médicos é o atendimento decente às necessidades de saúde da população com respeito à dignidade humana.