O médico Carlos Saraiva e Saraiva foi o primeiro grande rival de Joaquim Roriz nas urnas do Distrito Federal. Ele disputou o governo na primeira eleição direta da história do DF, em 1990. O petista, hoje secretário de Formação Política da Zonal do Plano Piloto, ainda participa de reuniões para debater os rumos da legenda. Em entrevista ao Correio, ele relembrou detalhes da disputa histórica.
O PT cresceu muito no DF com a campanha presidencial do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 1988. Era certo que o partido deveria lançar um nome para disputar o governo, mas a força do candidato Joaquim Roriz, que já havia sido governador governo biônico, era temida. “Ele era imbatível, porque tinha um carisma muito forte, uma comunicação com a massa muito grande, e ele tinha duas bandeiras naquela época que era muito difíceis de serem contestadas: ele estimulava a migração para Brasília com a entrega de lotes e a criação de cidade pra tudo quando é lugar”, conta Saraiva. “Roriz também prometia solucionar a questão do transporte público com o metrô, que pra nós tinha um custo muito alto, mas que tinha grande apelo popular”, explicou Saraiva.
Entre suas propostas para a primeira campanha, Saraiva defendia a ampliação da participação popular, a implantação do SUS, a articulação direta com os movimentos sociais e melhorias na educação pública, além da extinção do monopólio da Viplan no transporte público. Sua maior dificuldade, entretanto, era questionar a distribuição de lotes realizada por Roriz. “Era muito difícil fazer frente ao clientelismo do Roriz”.
Nas pesquisas o esforço parecia não surtir efeito. Mas com o fechamento da apuração dos votos, Roriz foi eleito por uma pequena margem. Saraiva acabou a disputa em segundo lugar. “Se a gente fosse para o segundo turno, provavelmente ganharíamos porque aí teríamos o apoio da Frente Popular, liderada pelo Maurício Corrêa”.
Mesmo com a derrota, o médico militante avalia ter feito uma boa campanha. “Isso nos deu uma força muito grande porque elegemos vários candidatos para a primeira legislatura da Câmara Legislativa e arrumamos o caminho para 1994, quando o Cristovam ganhou a eleição”. Ele afirma que a campanha foi capaz de acabar com a instabilidade interna do partido. “Muitos saíram e criaram seus próprios partidos e os que ficaram fortaleceram o PT”. Hoje, aos 79 anos, Saraiva está aposentado apenas da vida médica. Como secretário de Formação Política da Zonal do Plano Piloto do PT, segue participando de reuniões e escrevendo para blogs.
Carlos Saraiva