“O presidente está perdendo uma oportunidade de ouro de unir todo o Brasil”, diz Paulo Roque, candidato ao Senado pelo Novo em 2018

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Coluna Eixo Capital/Por Ana Maria Campos

À QUEIMA-ROUPA

Advogado Paulo Roque Candidato ao Senado pelo Novo em 2018

“O presidente está perdendo uma oportunidade de ouro de unir todo o Brasil diante da situação grave que estamos vivendo. Churchill emergiu entre os ingleses como grande líder exatamente durante as dificuldades geradas pela crise da Segunda Guerra Mundial“.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, único governador do seu partido, o Novo, tem demonstrado simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro. Concorda com essa postura?

Acho que o governador Zema tem conseguido um diálogo maior com o Palácio do Planalto. Esse diálogo não implica em apoio. A postura do governador como de todo o Novo deve ser, como foi sempre anunciada pelo partido, de independência em relação ao governo federal. Apoiar sempre naquilo que é bom para o país e criticar o que está na contramão dos interesses da sociedade e do que o partido defende. O Zema, em todas as pesquisas até aqui, aparece como um dos maiores índices de aprovação. Isso é um indicador de que tem acertado na maioria de suas ações e que precisa repetir mais seu primeiro ano de governo, que foi também muito bem avaliado e não cair em tentações da política pequena nesse segundo ano.

Zema foi um dos sete governadores que se recusaram a assinar carta aberta contra a participação de Bolsonaro em ato pró AI-5. Essa posição demonstra alinhamento com o governo federal?

Neste particular, vejo que o governador, no afã de manter o diálogo, que é necessário, com o Palácio do Planalto, acabou, na minha opinião, se afastando da postura do próprio partido, que foi a de criticar essa participação extremamente inoportuna do presidente nessa carreata, com vários manifestantes pedindo a intervenção militar e a volta do AI-5. Os próprios militares consideram extremamente inoportuna a participação do presidente nessa manifestação.

Candidato ao governo pelo Novo em 2018, o empresário Alexandre Guerra defendeu, logo no início da pandemia do novo coronavírus, medidas para preservar a economia e as empresas em funcionamento. Concorda com esse posicionamento?

Isso foi logo no início da quarentena quando ainda havia muitas dúvidas, inclusive na área da saúde, sobre que caminho seguir. Hoje a maioria não tem dúvida de que, sem o isolamento horizontal, o número de mortes no Brasil, que vem, infelizmente, crescendo muito, seria ainda exponencialmente muito maior. O isolamento horizontal não é uma questão de querer. Infelizmente, é uma imposição não só aqui, mas de todo o mundo para lidar com uma das mais cruéis pandemias dos últimos 100 anos. Agora, no Brasil, temos de tomar cuidado. Muita gente fala em democracia, mas não tolera opinião contrária. O Alexandre foi literalmente atacado massivamente simplesmente por expor sua opinião à época. Isso não combina com o Estado de Direito.

Um ano e meio depois das eleições, você concorreria novamente a algum cargo público pelo Novo?

Tenho interesse, sim, mas muita coisa pode mudar até as eleições. Teremos um agravamento sem precedentes da crise econômica por conta dos efeitos da pandemia. E ninguém sabe quais vão ser os desdobramentos da crise política com a saída do ministro Moro. Infelizmente, o desemprego, como tem ocorrido no mundo todo, vai aumentar aqui também. Muitas empresas que já estavam com problemas antes do coronavírus, agora então, não terão outra saída, senão, uma recuperação fiscal, que deve bater todos os recordes no Brasil. Particularmente, antes mesmo de toda essa pandemia, nas minhas conversas, inclusive, com membros da bancada federal do partido, já vinha cobrando do Novo algumas posições. Qual a posição do Novo em relação à política ambiental? Tivemos a crise da Amazônia, que repercutiu muito mal lá fora, desestimulou investimentos estrangeiros aqui; e o ministro do Meio Ambiente, embora não indicado pelo Novo, é o primeiro suplente de deputado federal do partido por São Paulo. Como fica a política das relações de consumo em um mercado fortemente oligopolizado como o nosso? Sempre fui liberal, mas não liberal de ficar repetindo mantras. Temos de ver o que funciona e o que não funciona na realidade do nosso país primeiro. Esse é um desafio do Novo, adequar o discurso liberal à realidade do Brasil, que não é a de Angola, mas também não é a dos Estados Unidos.

Qual a sua avaliação sobre a condução da crise do novo coronavírus pelo governador Ibaneis?

Começou bem, sendo o primeiro a perceber a necessidade das medidas de isolamento social. Agora, acho que está se precipitando com o discurso de volta às aulas.

E pelo presidente Bolsonaro?

As quedas dos ministros Sergio Moro e Mandetta dizem tudo. Agora, o presidente está perdendo uma oportunidade de ouro de unir todo o Brasil diante da situação grave que estamos vivendo. Churchill emergiu entre os ingleses como grande líder exatamente durante as dificuldades geradas pela crise da Segunda Guerra Mundial. Seus próprios aliados reconhecem que boa parte de suas falas, que geram tantas crises, poderiam ser evitadas. Ele vem perdendo liderança de forma visível e receio que termine isolado. Isso não é bom para o país. Dizem que o presidente da Câmara e a maioria dos governadores não ajudam. Pode até ser verdade, mas o diálogo institucional não pode deixar de existir em nenhuma circunstância e todos os poderes são obrigados a insistir nesse diálogo, não em busca de cargos, mas em tornos dos maiores interesses do país. Infelizmente, a Covid-19 não tem nada a ver com política, mas a colocaram no centro de uma disputa eleitoral. Não era pra ser assim. A crise política está aí, infelizmente, e todos líderes têm a responsabilidade, neste momento, de não querer apagar fogo com gasolina.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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