Eric Seba diretor POlícia Civil Crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press

“A nossa paridade com a Polícia Federal é histórica”, diz Eric Seba, diretor-geral da Polícia Civil

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Há uma cobrança direta dos delegados a você sobre benefícios e o reajuste salarial. Qual é a sua postura, entre a sua categoria e o governador Rodrigo Rollemberg?
É uma situação bem complicada. Sou um policial, servidor de carreira, dependo do meu salário, dependo da manutenção do meu poder aquisitivo em benefício da minha família. Sou responsável pelos servidores e, ao mesmo tempo, tenho um comprometimento de gestão da instituição, de responsabilidade com o governador. Então, é preciso equilibrar todas as situações.

 

Pelo visto, não é fácil…
Não é muito fácil. Principalmente porque acabo sofrendo pelos dois lados. O governo passa por uma situação de crise muito grave, local e federal. Neste ano, estamos sofrendo uma redução do Fundo Constitucional. Mas em momento algum deixo de defender o direito dos nosso servidores. Nós já fomos o maior salário do Brasil em termos de Polícia Civil. Hoje estamos em nono lugar e o DF tem o maior custo de vida do país.

 

Joaquim Roriz sempre foi apontado como um governador que fez muito pela Polícia Civil. Como os policiais enxergam Rollemberg?
A passagem com o governador Roriz foi extremamente próspera na Polícia, em investimento de salários e condições de trabalho. A gente vinha de uma depressão salarial. Mas hoje os policiais civis, de forma geral, acreditam no governador Rodrigo Rollemberg, pelas promessas que ele fez. Ele é uma pessoa do bem. Não tenho nenhuma dúvida disso. Ele é uma pessoa que quer fazer as coisas por todos os segmentos de Estado e pela Polícia Civil.

 

O Sinpol está exibindo um vídeo que mostra um compromisso de Rollemberg com os policiais civis de manter a equiparação dos reajustes da Polícia Federal. Como fica se não der para cumprir?
Os dois sindicatos estão em movimento salarial reivindicando a paridade com a Polícia Federal. A quebra dessa paridade é preocupante porque gera uma instabilidade de um movimento paredista. Por enquanto, tem sido levado de uma forma serena. Um pouco mais contundente em determinados momentos, mas sem prejuízo para a população. O que tenho levado para o governador é que essa manutenção é histórica, justa e necessária. A Polícia Civil precisa ser olhada com carinho.

 

O que o governador diz?
O governador fez um compromisso de campanha. Ele se preocupa e acha que a manutenção dessa paridade deve acontecer. Só que ele também entende que o momento financeiro da cidade exige que se conduza de forma cautelosa. Porque há impacto financeiro. Hoje a gente tem problema de não conseguir fechar a folha de novembro e dezembro. Existem os argumentos técnicos e o que trazem é uma dificuldade, mas não foi descartado.

 

Precisa de delegados?
Muito. Na verdade, todas as categorias estão defasadas. Talvez hoje os agentes de Polícia sofram um pouco mais, principalmente por causa dos plantões. Brasília tem uma característica. São 34 delegacias que trabalham 24 horas por dia, atendendo a população. O que nós precisamos é de um planejamento para resgatar um êxodo de servidores que houve por aposentadoria e por terem passado em outros cargos e que foi fragilizando. Uma grande parte das nossas delegacias trabalha de forma subdimensionada. Isso acaba comprometendo um pouco as investigações e o atendimento ao público, apesar de a Polícia Civil estar produzindo cada vez mais. Isso é um recado claro para a sociedade: não estamos vinculando a nossa produtividade a nosso salário.

 

Incomoda uma certa invasão do trabalho da Polícia Militar nas investigações da Polícia Civil?
O trabalho de cada instituição está perfeitamente delineado tanto na Constituição, quanto nas normas legais. Todas as vezes que tivermos algum tipo de trabalho que não esteja institucionalmente conferido para aquelas pessoas incomoda. Atrapalha, então a segurança pública tem que ser trabalhada de forma complementar. A gente fala que um dos principais pilares é a integração. Agora, cada um fazendo o que tem de fazer. Imagina eu colocar hoje 2 mil policiais da DOE (Divisão de Operações Especiais) fazendo ronda.

 

Pode citar alguma situação em que a Polícia Militar invadiu a competência da Polícia Civil?
Não vou dizer a PM. Tenho um respeito profundo, uma admiração pela instituição tão grande quanto eu tenho pela minha. Às vezes, em que estive precisando de um suporte, eu pude contar com policiais militares que me ajudaram em alguma operação. Mas eu diria, por exemplo, tivemos um caso recente daquela onda de explosão de caixas eletrônicos, em que alguns setores tentavam fazer o trabalho de investigação que é nosso. E acabava atropelando um pouco a sequência de investigação que tinha de ser feita. As pessoas queriam apresentar mais efetividade.

 

Mas comprometeu essa investigação?
Compromete porque acaba postergando alguns resultados. Acaba comprometendo o tíming do resultado. Mas não foi a instituição e sim algumas pessoas.

 

Muito se fala que o governador Rollemberg tem uma preferência pela Polícia Militar em relação às demais forças de segurança. Isso é verdade?
Não acredito. O governador tem demonstrado uma preocupação com todos os segmentos de Estado. Se eu dissesse hoje se ele tivesse que escolher um segmento que ele tivesse uma preocupação maior talvez seria na saúde e na educação. Vejo alguns processos que foram desaguando agora e a Polícia Militar acabou sendo agraciada com alguns quinhões. Mas não vejo como preferência.

 

A PM tem alguns benefícios que a Civil não tem, como auxílio-moradia. Isso incomoda?
O policial civil recebe em forma de subsídio, então não tem como receber outros benefícios, como o auxílio-moradia, o serviço gratificado voluntário. Não temos como receber. Se a gente pudesse escalar algum policial para trabalhar na folga e receber, nos ajudaria como instituição e seria bom a população. E os nossos policiais estão trabalhando muito, nas delegacias circunscricionais e nas especializadas. Nós não temos plano de saúde, não temos licença prêmio para converter em pecúnia. Não temos auxílio para uniforme. Isso incomoda.

 

O fato de a PM estar reivindicando o mesmo reajuste da Civil atrapalha a negociação?
Queria deixar claro: nós não somos contra nenhum benefício da Polícia Militar ou para os demais servidores do DF ou algum reajuste para as demais forças. Mas a Polícia Civil entende que a nossa paridade com a Polícia Federal é histórica. Vem aí pelo menos de 20 anos e as outras forças reivindicarem o mesmo percentual com base nesse argumento e até inviabilizar o nosso aumento é injusto. Até porque os parâmetros para as forças militares são os das forças armadas.