Coluna Eixo Capital, por Ana Maria Campos
À QUEIMA-ROUPA, Deputado distrital Ricardo Vale (PT), vice-presidente da Câmara Legislativa
Acredita que o reajuste de 18% previsto pelo governador Ibaneis Rocha será aprovado pela Câmara Legislativa?
Sim. Os servidores públicos concursados estão sem reajuste desde 2013 e os comissionados, desde 2011. A Câmara Legislativa sempre foi sensível à pauta dos servidores públicos e costuma votar com rapidez essas matérias. Não creio haver dificuldades para aprovação. Será bom para os servidores e para o setor produtivo. Servidores bem remunerados aquecem a economia da cidade.
É um aumento justo?
Creio que é insuficiente, pois não repõe as perdas inflacionárias. No caso dos servidores concursados, a inflação medida pelo INPC, de setembro de 2015 até hoje, está em 50%. No caso dos comissionados, de julho de 2011 até hoje, o INPC está em 98%. Os 18%, porém, seguem os índices aprovados na União para o Congresso Nacional e para o Poder Judiciário. O ideal seria repor a inflação com algum ganho real. Mas os 18% servem de paliativo, por enquanto.
Como os sindicatos e servidores estão recebendo a proposta?
Acredito que eles gostariam que os reajustes fossem capazes de repor, pelo menos, todas as perdas inflacionárias ocorridas desde os reajustes concedidos em 2013 pelo governo Agnelo. Afinal, manda a Constituição Federal que haja uma revisão geral anual de todas as remunerações dos servidores públicos para preservar o poder aquisitivo dos salários. É uma pena que isso não tem sido observado pelos governantes, que juram cumprir a Constituição.
O senhor esteve na reunião em que o governador anunciou o reajuste. Mesmo sendo da oposição, mantém uma boa relação com Ibaneis?
O meu partido, o PT, é de oposição ao governo Ibaneis, desde o primeiro mandato dele. Entretanto, as divergências não me impedem de dialogar quando é necessário para contribuir e solucionar os problemas dos nossos cidadãos. Vale lembrar que ele é do MDB, e nossos partidos já governaram juntos esta cidade (Agnelo e Filippelli). Além do que, em âmbito federal, o MDB integra a base do governo do presidente Lula.
O que precisa melhorar no governo Ibaneis?
Possivelmente, a deficiência mais visível está na saúde, cuja gestão tem deixado a desejar, principalmente por conta do IGESDF, que não tem dado conta das atribuições para as quais foi criado, muito menos tem conseguido ser modelo para uma nova gestão na saúde. Na assistência social, também há muitos problemas, não havendo justificativa para essa longa espera por um simples cadastro, que, muitas vezes, é a única solução para quem precisa de recursos mínimos para se alimentar. A mobilidade é outro gargalo, faltam linhas de ônibus para várias localidades e a precariedade do transporte é sentida pela população.
E o governo Lula? Está dentro das suas expectativas?
Sim, e surpreendendo positivamente, embora o governo mal tenha começado. O presidente Lula pegou um país absolutamente desestruturado, desorganizado, sem qualquer credibilidade internacional, totalmente fragilizado internamente e marcado pela cultura do ódio, das desavenças palacianas e das brigas, intrigas e picuinhas da família Bolsonaro. Os atos terroristas do dia 8 de janeiro tomaram muitas energias do novo governo, mas mesmo assim o presidente Lula recolocou o Brasil na agenda internacional, vem reativando de modo correto as políticas ambientais e as políticas de inclusão social e tem dado novo rumo à educação, à saúde, à cultura, ao esporte, à assistência social, direitos humanos, mulher, indígenas e tantas outras áreas que foram abandonadas e sucateadas pelo Governo anterior.
E a economia? Acredita que está no caminho certo?
Na área econômica, o presidente Lula, junto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem procurado injetar dinheiro nas bases da cadeia de consumo: aumento real do salário-mínimo, redução da carga do imposto de renda dos salários por meio da correção da tabela, reajuste do bolsa-família e acordo para reajuste dos servidores do Poder Executivo, uma vez que as outras categorias já estão recebendo os seus reajustes. Isso, certamente, impulsionará a nossa economia, como já ocorreu nos governos petistas. O que está atrapalhando muito é a política de juros. O presidente do Banco Central (Roberto Campos) deveria encerrar seu mandato, uma vez que não consegue tomar decisões importantes para o país e parece ainda estar atrelado a quem o escolheu.