ANA MARIA CAMPOS
Ao apresentar o relatório sobre os atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes, o interventor da segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, afirmou que o delegado Anderson Torres criou instabilidade na Secretaria de Segurança Pública, sabia dos riscos de violência e invasão de prédios públicos pelos manifestantes alojados no acampamento em frente ao QG do Exército e não tomou providências.
Cappelli apresentou hoje (27) um relatório com os fatos apurados em 19 dias de intervenção, imagens e documentos anexos sobre os atos antidemocráticos ocorridos na Praça dos Três Poderes.
Ele ressaltou que não faltou informação sobre o perigo iminente. Os riscos estavam registrados em relatório da própria Secretaria de Segurança, do dia seis de janeiro. “Houve informação sobre o que aconteceria no dia 8. Há um relatório da Secretaria de Segurança Pública do dia 6 em que está escrito textualmente que havia previsão de invasão aos prédios públicos”, disse Cappelli.
Mesmo assim, segundo o interventor, não foi elaborado por parte da Secretaria de Segurança um plano operacional para conter os golpistas.
Secretário-executivo do Ministério da Justiça, Capelli afirmou ainda que não acredita em coincidências. E citou uma frase de Celso Amorim, ex-ministro e assessor especial do presidente Lula: “Quem quiser que acredite em coincidência. Eu só acredito em teoria da conspiração”.
Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Anderson Torres teve a prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), medida referendada por outros oito ministros. Está preso desde 14 de janeiro, quando desembarcou em Brasília de uma viagem de férias na Flórida.
Perda de comando
Em relação ao ex-comandante-geral da Polícia Militar do DF coronel Fábio Augusto Vieira, também preso preventivamente, Cappelli disse que a apuração mostrou uma tentativa do oficial de conter as invasões. Mas sem respaldo de outros subcomandantes.
Cappelli detalhou que Vieira estava em campo desde a manhã de 8 de janeiro, pediu reforço no efetivo da Polícia Militar e se envolveu diretamente no conflito para tentar barrar os vândalos. Inclusive foi ferido ao receber um golpe na cabeça com um cone ao tentar barrar um agressor no Congresso.
Apesar do esforço pessoal, Vieira, segundo Cappelli, perdeu o comando. “O comandante esteve em campo, atuou individualmente, mas perdeu o comando e a capacidade de comando das tropas ao longo do dia 8. Fez apelos que foram ignorados e que não foram atendidos”.
Os advogados Thiago Turbay e João Paulo Boaventura, que representam o coronel Fábio Augusto Vieira, divulgaram nota sobre as conclusões relacionadas ao caso. “O Relatório divulgado pelo interventor, Dr. Ricardo Capelli, na manhã de hoje (27/01), demonstra cabalmente não ter havido omissão por parte do Cel. Fábio Augusto Vieira. Ao contrário, revela o inequívoco esforço pessoal do então Comandante-Geral para impedir a depredação pública e violações contra o Estado Democrático de Direito e suas Instituições”, diz a nota.