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Integrante do núcleo crucial do golpe

Publicado em CB.Poder

Coluna Eixo Capital publicada em 20 de fevereiro de 2025 por Ana Maria Campos 

O ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres é apontado, na denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre a conspiração para manter Jair Bolsonaro no poder, como um dos cabeças da organização criminosa que se formou para a trama golpista. Segundo Gonet, o ex-ministro da Justiça integrava o “núcleo crucial” da organização criminosa, de onde partiram as principais decisões e ações de impacto social relacionadas ao episódio.

Mentiras em live

Em depoimento à Polícia Federal, Anderson Torres admitiu que mentiu em live que foi ao ar em 2021. Na ocasião, ele disse que peritos da PF — especialistas responsáveis pelas análises de delitos e de crimes cibernéticos — atestaram que não era possível auditar todo o processo de votação. “Apesar de ser possível auditar a totalização dos boletins de urna, não é possível auditar, de forma satisfatória, o processo entre a votação do eleitor e a contabilização do voto no boletim de urna”, afirmou na live, ao lado de Bolsonaro. Já na oitiva do inquérito da PF, Torres reconheceu que “não foi possível depreender do material que teve acesso a existência de fraude ou manipulação de voto”.

Minuta do golpe

Anderson Torres também aparece como um dos responsáveis por tentar atrair as Forças Armadas para participarem do golpe. Segundo a denúncia, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica mencionaram reuniões com a participação de Anderson, em dezembro de 2022, em que foi debatida a utilização de instrumentos como Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e Estado de Defesa. Segundo os depoimentos, o então ministro da Justiça apresentava fundamentos jurídicos para adoção das medidas. O documento discutido foi o mesmo encontrado na casa de Anderson Torres, em busca e apreensão realizada em janeiro de 2023, que ficou conhecida como a “minuta do golpe”.

Coordenação das forças de segurança

Já a delegada da Polícia Federal Marília Ferreira de Alencar (foto), que integrou a equipe de Anderson Torres no Ministério da Justiça e na Secretaria de Segurança Pública do DF, foi denunciada por Paulo Gonet como integrante do segundo escalão de ação, mas com tarefa importante: coordenar as forças policiais para agir no golpe. Nesse mesmo núcleo, foi incluído o secretário-executivo de Segurança à época, Fernando de Sousa Oliveira. Ele é quem estava trabalhando em 8 de janeiro de 2023, uma vez que Anderson Torres estava na Flórida no dia da ocupação e depredação da Praça dos Três Poderes.

Deixaram acontecer…

A cúpula da Secretaria de Segurança Pública do DF no 8 de Janeiro é apontado na denúncia de Paulo Gonet como responsável pela invasão da Praça dos Três Poderes pela omissão. Não impediram que o ato se consumasse. Secretário de Segurança, Anderson Torres, o secretário executivo da pasta à época, Fernando Oliveira, e a subsecretária de Inteligência, Marília Ferreira de Alencar, no momento das depredações, não tomaram providências embora tenham chegado a eles informações sobre o provável acirramento da atuação dos golpistas. Os três são delegados da Polícia Federal (PF) e podem perder os cargos em caso de condenação.

Mapa a pedido da delegada

Os delegados da PF Marília Ferreira de Alencar e Fernando de Sousa Oliveira tiveram, segundo a denúncia da PGR, participação importante no esquema que barrou eleitores de Lula nas rodovias em atuação de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no segundo turno das eleições. Então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marilia requisitou à sua equipe um mapa de municípios onde Lula teve votação maior que Bolsonaro no primeiro turno. O objetivo era colocar a estrutura da PRF para atrapalhar os eleitores de Lula e impedir que chegassem aos locais de votação. Fernando, diretor de Operações do MJ, acompanhou esse trabalho. As conversas nos telefones dos dois reforçam que o planejamento ocorria com ciência e determinação de Anderson Torres, ministro da Justiça.

Meteu um 22

Segundo as investigações, houve uma reunião em 19 de outubro entre Anderson Torres e o então diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasquez, para tratar do policiamento direcionado no segundo turno das eleições. Em conversa por WhatsApp no dia seguinte da reunião, a delegada Marilia Alencar comentou com Fernando Oliveira que Anderson foi bem em sua explanação. O delegado disse: “Foi muito bem, isento”. E ela rebateu: “Isento porra nenhuma. Meteu logo um 22”.

Referência a “maricas”

Numa agenda apreendida na casa do general Augusto Heleno, chefe de gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, havia anotações sobre planos e estratégias de discursos e mensagens do governo. Numa delas, escrita a mão, há as recomendações de usar mais a EBC, empresa de comunicação do governo, para propagar a mensagem bolsonarista. Também há uma ressalva: “Não fazer qualquer referência a homossexuais, negros, ‘maricas’, etc”.

Do Meio Ambiente para o Esporte

A senadora Leila do Vôlei (PDT-DF) será a nova presidente da Comissão de Esporte do Senado no biênio 2025 e 2026. Ela entra no cargo exercido anteriormente por outro ex-atleta, o senador Romário (PL-RJ). No ano passado, Leila presidiu a Comissão de Meio Ambiente e relatou o projeto que regulamenta o mercado de carbono. Ela, agora, é vice-presidente.

Missão

O senador Izalci Lucas (PL-DF) é o novo líder da oposição no Congresso. Terá como uma das metas buscar apoio para aprovar no Senado o projeto de anistia dos envolvidos na trama golpista.

Direitos Humanos

Com uma visão conservadora, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) vai presidir a Comissão de Direitos Humanos do Senado. Ela foi eleita ontem.