ANA MARIA CAMPOS
Enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) acusa a China de criar e espalhar o novo coronavírus, o governador Ibaneis Rocha (MDB) busca ajuda do país onde surgiu a Covid-19 para tentar conter o avanço da epidemia no Distrito Federal.
Em ofício encaminhado ontem (19/03) ao embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, Ibaneis elogia os esforços dos chineses para conter o coronavírus e pede auxílio para desacelerar o crescimento do número de infectados no DF.
Ibaneis escreveu: “Saliento que seria bem acolhida a prestação de assistência de qualquer natureza, especialmente orientações para o combate à doença, doação de suprimentos e equipamentos médicos, além de indicações de empresas que possam colaborar na contenção da pandemia”.
Segundo o governador, a evolução do coronavírus no território brasileiro tem sido rápida e a saúde pública não tem infraestrutura capaz de suprir às necessidades que se impõem.
Nos últimos dias, a China não vem mais registrando contaminações dentro do país, o número de doentes caiu e os chineses começam a retomar a normalidade depois de três meses de epidemia.
Ibaneis diz que espera tirar lições da experiência chinesa: “Ao longo das últimas semanas, foi notória a capacidade demonstrada pelas autoridades chinesas no combate à propagação da doença, na mitigação de seus efeitos, bem como na solidária cooperação técnica oferecida a outros países afetados pela enfermidade“.
A situação do Distrito Federal se agravou ontem (19/03). A Secretaria de Saúde registrou 82 contaminações do novo coronavírus, sendo 38 casos comunicados apenas ontem. O primeiro paciente, a advogada de 52 anos que está em tratamento intensivo no HRAN, foi diagnosticada em 5 de março. Em duas semanas, a evolução foi rápida.
O embaixador Yang Wanming ainda não deu resposta. Além do ofício, houve contatos diretos. Ibaneis espera envio de insumos para Brasília e ajuda, como a China tem feito com a Itália, país que bateu ontem o número de mortos registrado no país oriental.
Relações estremecidas
O ofício foi assinado no dia em que as relações diplomáticas entre Brasil e China estremeceram por conta de declarações de Eduardo Bolsonaro sobre a responsabilidade chinesa na pandemia do coronavírus, respondida pela embaixada.
O filho 03 do presidente Bolsonaro afirmou na última quarta-feira (17/03): “Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”.
A embaixada da China rebateu: “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”.
Em seguida, Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediram uma retratação da China. Mas vários políticos brasileiros, como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP, pediram desculpas ao governo chinês.
Veja o ofício de Ibaneis: