ANA MARIA CAMPOS
Depois de uma semana de debates, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) comemora o sucesso do Fórum Mundial da Água, que atraiu um público de mais de 105 mil pessoas ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
Em meio a uma crise hídrica, com racionamento, Rollemberg aposta que o grande legado do evento na capital do país é uma nova consciência dos cidadãos, adultos e crianças, sobre o uso e consumo adequados da água e também uma visão de que é preciso uma cobrança permanente de investimentos do Poder Público para evitar novos riscos de desabastecimentos. “As pessoas puderam perceber que esse é um problema de praticamente todos os países do mundo”, disse.
O governador afirma, em entrevista ao Correio, que seu governo tem tomado todas as providências para evitar novas crises e para anunciar neste ano o fim do racionamento. “Tenho convicção de que no máximo até o fim do ano, quando entra em funcionamento Corumbá, nós teremos condições de suspender com segurança e de forma absolutamente técnica o racionamento. Mas nós estamos fazendo um esforço de antecipação dessa data”, assegura.
Qual é o balanço do Fórum Mundial da Água?
Um balanço super positivo. Superou todas as nossas expectativas em todos os aspectos. Nós tivemos uma participação importante de chefes de Estado, de ministros, de vice-ministros, tivemos um Fórum com mais de 200 parlamentares de 20 países, de juízes, com presidentes de supremos tribunais federais, desembargadores, promotores, professores de direito, representando 57 países. E nós tivemos uma participação fantástica na Vila Cidadã, que foi a grande inovação. Democratizou a participação da população, ao contar com mais de 105 mil pessoas ao longo desses dias.
A segurança funcionou? Foram dias de paz para os visitantes?
Só ouvi elogios dos participantes estrangeiros e dos brasileiros que visitaram a nossa cidade. A expectativa é de que tenham sido criados oito mil empregos neste período, sendo 2,5 mil diretos e 5,5 mil indiretos. A alimentação que adotamos, do modelo Chef nos Eixos, com os Chefs no Fórum, foi um sucesso absoluto. Realmente só ouvi elogios e estamos muito felizes.
Qual é o legado?
Um legado importantíssimo para a cidade. Nós tivemos a visita de 3,5 mil professores e 57 mil crianças que visitaram o Fórum. Tenho convicção de que uma nova consciência está sendo formada e esse é o grande patrimônio do 8º Fórum Mundial da Água.
Em termos de conteúdo, qual a conclusão inovadora sobre o consumo da água?
Certamente, uma nova consciência por parte da sociedade em geral em relação à água. Esse é um tema que já vinha sendo muito debatido em Brasília em função da crise hídrica. As pessoas puderam perceber que esse é um problema comum a praticamente todos os países. É um problema sério, que deve ser de responsabilidade de todos, que deve ser compartilhado por governos e pela sociedade. Eu tenho muita convicção de que o nível de consciência sobre esse tema subiu muito, em relação à necessidade de mudar os nossos hábitos não apenas no consumo doméstico, mas também nas atividades de agricultura, no setor produtivo de uma forma geral.
E do ponto de vista de medidas a serem adotadas pelas autoridades?
O fato de o tema ter entrado na agenda dos parlamentares e da Justiça foi importante. Hoje (sexta-feira), soube que o ministro Herman (Benjamin) vai pedir uma audiência com o Papa Francisco para levar as conclusões da plenária dos juristas. Isso tudo vai fazer com que a água esteja no centro das decisões políticas ao longo dos próximos anos.
O Fórum ajuda o seu governo a buscar soluções para a crise hídrica do DF?
Sem dúvida. Primeiro, porque as pessoas percebem que este é um problema de praticamente todos os países do mundo e exige uma união planetária para enfrentar essa questão. A água é o tema mais importante para o futuro da humanidade. E aqui em Brasília, se hoje estamos numa situação muito melhor do que estávamos um ano atrás, em grande parte foi pelo esforço e pela participação da população. Não tenho dúvida, pelo imenso número de pessoas que visitaram o Fórum, que essa consciência vai ser muito maior daqui para a frente, a consciência para cobrar dos governos medidas de prevenção, políticas que possam garantir a preservação das nossas nascentes, a preservação dos nossos rios, os investimentos necessários para garantir água em abundância em quantidade e qualidade para que todos tenham uma vida digna, mas também uma responsabilidade maior da sociedade em colaborar com esse esforço de uso sustentável da água. E Brasília se apresentou muito bem nesse fórum porque nós enfrentamos uma crise hídrica.
A que o senhor atribui a crise hídrica?
A três fatores principais: uma ocupação desordenada do solo, que é um processo histórico; a falta de investimentos dos governos anteriores em captação e tratamento de água; e o volume de chuvas inferior às médias históricas dos últimos três anos. Tudo isso levou a uma crise hídrica.
Como Brasília se apresentou no Fórum?
Se apresentou muito bem, graças aos investimentos feitos pelo governo na captação e tratamento de água, que conseguimos colocar mais 1,4 mil litros por segundo no sistema de abastecimento com o Bananal e com a estação do lago. Temos também uma obra, a maior em curso que está sendo realizada no Brasil, que é a de Corumbá que vai produzir 5,6 mil litros por segundo em parceria com Goiás. E temos todo trabalho feito com os agricultores da Bacia do Descoberto, no sentido de utilizarem metodologias mais eficientes no uso da água, no projeto que foi apresentado que é o produtor de águas do Pipiripau que paga ao produtor rural pelos serviços ambientais realizados. Há ainda todo o esforço da população. Nós estamos hoje com o nosso principal reservatório se aproximando de 72% do seu volume e uma perspectiva muito positiva de até o final do ano a gente poder suspender o racionamento.
Do que depende a suspensão do racionamento até o fim do ano?
Tenho convicção de que no máximo até o fim do ano, quando entra em funcionamento Corumbá, nós teremos condições de suspender com segurança e de forma absolutamente técnica o racionamento. Mas nós estamos fazendo um esforço de antecipação dessa data.