O secretário de Cultura do DF, Guilherme Reis, lamenta que o carnaval de rua vá sair sem o Babydoll de Nylon este ano, mas reforça a posição do governo, que mantém o foco do financiamento público no fornecimento de estrutura às agremiações. “Entendemos que o papel do governo é fornecer estrutura, e nunca houve dificuldade no diálogo com relação às estruturas e logística necessárias. Este ano, estamos garantindo quase R$ 5 milhões para atender cerca de 136 blocos de rua, e o Babydoll seria um deles. É um investimento muito alto, que demonstra o quanto o governo valoriza o carnaval”, afirma.
Em entrevista ao Correio, Reis comentou ainda sobre as alternativas que têm sido discutidas para as escolas de samba. O objetivo é que elas desenvolvam atividades ao longo do ano, promovendo a aproximação com a comunidade. Ele garante, ainda, que as discussões sobre o modelo adotado este ano devem continuar, e defende a política pública criada no ano passado. “É um legado que a Secretaria de Cultura quer deixar: uma política pública moderna, que envolva não somente aspectos do financiamento do carnaval, mas também da relação do folião e do carnavalesco e do seu direito à cidade, de realizar uma festa cultural tão linda.”
Um dos maiores blocos de rua do DF, o Babydoll de Nylon, não vai desfilar neste ano. Como avalia os argumentos da agremiação para o cancelamento?
Eu fiquei triste com o anúncio do bloco, e separo os argumentos por dois prismas. O primeiro é de o que bloco cresceu excessivamente, mais do que os organizadores esperavam, e teriam dificuldade para garantir a segurança dos foliões. Essa já era uma preocupação dos organizadores desde o ano passado, e eu entendo. O outro, de que faltou diálogo e há burocracia, não posso concordar. Um exemplo concreto é a centralização do cadastro e a criação do Ciac (Centro Integrado de Atendimento ao Carnavalesco), que permitiu que os organizadores dos blocos tratassem com todos os órgãos num só local. Entendemos que o papel do governo é fornecer estrutura, e nunca houve dificuldade no diálogo com relação às estruturas e logística necessárias. Este ano, estamos garantindo quase R$ 5 milhões para atender cerca de 136 blocos de rua, e o Babydoll seria um deles. É um investimento muito alto, que demonstra o quanto o governo valoriza o carnaval.
As decisões sobre o carnaval foram tomadas em conjunto?
Esse diálogo vem desde 2016, sendo amadurecido ano após ano. Coincide com o período em que o carnaval de Brasília mudou radicalmente. Essa mudança ocorreu no Brasil inteiro, mas fortemente em Brasília. Isso resultou no momento em que enxergamos a necessidade de implantação de uma nova política para o carnaval, que envolve, entre outros aspectos, o financiamento, com foco em estrutura e chamamentos democráticos e editais públicos. Além disso, atendendo demanda dos blocos apresentada num desses encontros com a comunidade, já está na rua um edital inédito de R$ 500 mil para cachês de grupos artísticos locais. Para blocos que têm interesse em outros tipos de gasto, e isso é legítimo, há outras formas de captação de recursos.
O maior número de foliões foi usado como justificativa para priorizar os blocos de rua em detrimento das escolas de samba desde 2015, devido ao orçamento enxuto. O governo vai manter essa posição?
Essa não é uma decisão de governo, foi uma decisão da população. Vamos chegar a quase 2 milhões de pessoas saindo em blocos de rua este ano. As escolas de samba têm uma tradição em Brasília, e isso não se pode negar. Pelo contrário. Mas, para que elas desfilem no formato tradicional, como as escolas de samba cariocas, custa caro. De 2015 para cá, ninguém tem dúvidas sobre as dificuldades orçamentárias que estamos passando. No ano passado, criamos um grupo de trabalho envolvendo governo e a liga das escolas de samba, buscando soluções para o problema. Acreditamos em duas saídas a serem discutidas. A primeira é financiar as escolas buscando diversificar as fontes de investimento. A segunda, é que o desfile durante o carnaval não precisa ser a única forma de as escolas atuarem. Elas têm uma vinculação comunitária muito forte. O que nós estamos propondo no governo é que esses grupos comunitários pensem as agremiações como “escolas de samba” mesmo, funcionando durante o ano todo, formando jovens e novos instrumentistas, artistas, criadores, cenógrafos. É aí que eu acho que entra o papel do governo, de incentivo a essa comunidade.
O governo pretende ouvir as demandas e adotar iniciativas diferentes em 2019?
Claro que sim. Em fevereiro de 2017, editamos o Decreto nº 38.019/2017, em que se determinou o modelo de financiamento do carnaval que está valendo hoje, e que trata o carnaval como política pública de Estado, e não de governo. Foi elaborado com ampla participação social: audiências públicas, debates, consultas on-line, seminário. Vamos continuar esse processo, sim. Várias sugestões já nos chegaram e deverão ser objeto de estudo assim que passar o carnaval. É um legado que a Secretaria de Cultura quer deixar: uma política pública moderna, que envolva não somente aspectos do financiamento do carnaval, mas também da relação do folião e do carnavalesco e do seu direito à cidade, de realizar uma festa cultural tão linda.
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