À QUEIMA-ROUPA: Arthur Trindade sociólogo, ex-secretário de Segurança Pública do DF, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Acredita que o motim realizado por PMs do Ceará é uma demonstração de que os governadores não controlam as polícias militares?
Sim, os governadores têm pouco controle sobre as polícias em geral. Isso não acontece apenas no Brasil. Os governantes têm muito menos controle sobre as polícias do que estamos preparados para admitir.
O poder da bancada da bala ampliado em números de parlamentares nesta legislatura potencializa esse movimento?
Sem dúvida. De forma geral, os parlamentares ligados às polícias tendem a potencializar os movimentos paradistas, uma vez que acenam com a possibilidade de anistia para as lideranças do movimento.
Esse movimento salarial do Ceará pode chegar no DF, onde a PM aguarda por um reajuste semelhante ao da Polícia Civil, que aliás ainda não saiu?
As greves de policiais militares tendem a ter um “efeito dominó”. Já se observa movimentações em diversos estados da Federação.
No governo Rollemberg, houve uma opção política de atender a PM e privilegiar a corporação?
Não creio que houve uma decisão deliberada para privilegiar uma corporação em detrimento da outra.
Quem está mais errado naquela cena? O senador Cid Gomes que tentou atropelar policiais com uma retroescavadeira ou policiais que atiraram num cidadão?
Os dois lados parecem errados. A atitude do senador foi destemperada. Colocou em risco a vida de outras pessoas. Policiais armados, realizando piquetes na porta de quartel, também representam um perigo.
O que você acha do ativismo político da PM não só nas questões salariais, como também no avanço das atribuições de outras corporações?
Não há problema que policiais militares defendam suas pautas, desde que isso seja feito dentro dos canais democráticos. Obviamente, não podem extrapolar, ameaçar autoridades ou obrigar o comércio a fechar as portas.
Qual é a sua opinião sobre anistia a policiais que fazem motim?
Esta é a grande questão: é greve ou motim? Como os policiais não têm direito à greve, os movimentos paradistas não são regulados pela justiça do trabalho. Essas situações, de acordo como a legislação, estão no âmbito de competência da justiça militar que, geralmente, se mostra bastante relutante em enquadrar estas paralisações como motins. Por não ter regulação nem enquadramento jurídico, estas greves tornam-se extremamente radicais. Creio que deveríamos aceitar a sindicalização das polícias militares, como França e Chile já estão fazendo.
O próprio presidente Jair Bolsonaro foi expulso do Exército por participar de um movimento grevista. Esse comportamento acaba servindo como exemplo?
O que estimula o movimento grevista é a promessa de apoio por parte do governo federal. Isso, obviamente, causa um grande mal-estar com os governadores.