GDF quer obrigar marido de paciente com coronavírus a se submeter a exame

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Ana Maria Campos

A Procuradoria-geral do Distrito Federal entrou com uma ação para que um cidadão de 45 anos seja compelido a permitir a coleta de material clínico e a realizar exame laboratorial sobre a sorologia do coronavírus. O pedido de liminar é urgentíssimo.

Os procuradores requerem também que, até que os exames sejam concluídos e os resultados avaliados, ele fique preventivamente isolado em casa, sob pena de multa a ser arbitrada pela Justiça. A sugestão da Procuradoria é que ele seja condenado a pagar R$ 20 mil por qualquer ato de descumprimento dessa determinação.

Trata-se do marido da paciente de 52 anos que está internada com Covid-19 no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), desde a última sexta-feira (6/3), onde chegou transferida do Hospital Daher, no Lago Sul. Este é o único caso confirmado até o momento no Distrito Federal.

A ação foi ajuizada nesta madrugada e tramita na 8ª Vara de Fazenda Pública do DF. A juíza que recebeu o caso encaminhou o processo para manifestação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), antes de tomar uma decisão.

Sintomas sugestivos

Segundo informações da Secretaria de Saúde, o marido da paciente, alvo da ação, tem se recusado a fazer os exames para testar a presença do vírus, embora já tenha apresentado alguns sintomas sugestivos da doença.

Na ação, a Procuradoria-geral do DF requer que, caso haja uma injustificada resistência à realização dos exames, seja autorizado o acesso forçado de uma equipe da Secretaria de Saúde à residência do cidadão no Lago Sul e a coleta seja feita de forma compulsória. A ação deve ocorrer na presença de oficial de justiça a ser designado.

A paciente está internada em Unidade de Terapia Intensiva no Hran, em isolamento. Ela chegou com o diagnóstico de Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto, secundária à infecção por coronavírus, e com taquicardia. Segundo dados do prontuário, ela está respirando com ajuda de aparelhos e se encontra “com quadro emocional extremamente abalado”. Está ansiosa e insone.

O marido tem circulado pelo Hran, o que tem deixado as equipes médicas alarmadas com a possibilidade de disseminação da doença que assusta o mundo. Ele tem acompanhado a situação da mulher, mas foi proibido de visitá-la, com base em portaria da Secretaria de Saúde.

Na Itália, onde o coronavírus já matou mais de 450 pessoas, uma portaria proibiu, nessa segunda-feira (9/3), a entrada e a saída de pessoas de todas as cidades e também suspendeu aglomerações, shows, espetáculos e reuniões públicas, isolando um dos países mais visitados do planeta.

Na ação em que quer forçar o exame do morador do DF, a Procuradoria-geral ressalta: “Embora de primeira grandeza, e de natureza fundamental, no presente caso, a liberdade do indivíduo de se autodeterminar deve se harmonizar ao interesse coletivo de prevenção e preservação da saúde e da vida de toda a comunidade, devendo este último preponderar no caso em voga”.

Como base legal, a Procuradoria-geral cita a Lei Federal 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus. O artigo 3° estabelece a determinação de medidas compulsórias em casos de emergência, como a realização de exames.

A ação da Procuradoria-geral foi elaborada com base em pedido da Secretaria de Saúde e do governador Ibaneis Rocha (MDB), que tem acompanhado pessoalmente a crise com o risco de uma pandemia de coronavírus no DF.

Reino Unido

O casal retornou em 25 de fevereiro de viagem ao Reino Unido e Suíça, onde esteve durante três semanas. Dias depois do retorno, ela começou a dar sinais da doença. Advogada, a paciente viajou a trabalho com o marido, também advogado. O casal esteve em Liverpool, Londres, Oxford, Cambridge, Dublin, País de Gales, e Belfast. Eles chegaram ao Brasil em 25 de fevereiro, em voo que saiu do aeroporto de Heathrow, em Londres. Viajaram na primeira classe.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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