Enquanto o transporte, a segurança e a saúde protagonizaram dezenas de crises ao longo de dois anos de mandato, a área da educação não causou grandes dores de cabeça ao governador Rodrigo Rollemberg até agora. Mas a calmaria política na pasta acabou nos últimos dias de 2016. A proposta de reestruturação das escolas parque gerou a revolta de pais e crianças, mobilizou parlamentares, professores e sindicatos, e deve motivar uma enxurrada de ações judiciais. A extinção do modelo de escola parque, como preconizado pelo educador Anísio Teixeira na criação de Brasília, tem uma forte carga simbólica. A medida vai possibilitar a oferta de ensino integral a 2,8 mil alunos. Mas outros 7,2 mil estudantes que frequentavam os espaços semanalmente para aulas de educação física, artes e atividades ao ar livre perderão o benefício.
A ideia de Anísio Teixeira era que os estudantes frequentassem as escolas classe quatro vezes por semana, com ensino formal das disciplinas tradicionais, e tivessem aulas nas escolas parque uma vez por semana, desenvolvendo atividades recreativas, artísticas e sociais. No Plano Piloto, há 36 escolas classe e cinco unidades da escola parque, que recebem hoje 10 mil alunos para aulas semanais. O governo quer usar os espaços para um projeto-piloto de educação integral. O objetivo é que alunos de 17 escolas classe passem o contraturno em uma escola parque, todos os dias da semana. Com isso, estudantes das outras 19 unidades de escola classe não poderão desfrutar das atividades externas e terão todas as aulas no mesmo colégio.
Pais e alunos se mobilizaram contra o fim do atual modelo de ensino. Eles argumentam que as escolas classe do Plano Piloto não têm espaço para atividades artísticas e aulas de educação física, já que a estrutura foi idealizada para um uso compartilhado com a área das escolas parques – repletas de verde e vãos livres. A maioria não tem nem parquinhos. A comunidade escolar reclama do prejuízo causado a 7,1 mil estudantes e da extinção do modelo educacional de Anísio Teixeira. O Sindicato dos Professores (Sinpro), o Conselho de Direitos Humanos do Distrito Federal e conselheiros tutelares são contra a medida, que classificaram como “falsa escola de tempo integral”.
O secretário de Educação, Júlio Gregório, garante que a reestruturação foi feita a partir de um projeto desenvolvido pela Coordenação de Ensino do Plano Piloto, voltado para a otimização dos serviços prestados nas escolas classe. Segundo ele, o foco é beneficiar famílias que precisam do ensino integral, especialmente alunos moradores de áreas mais carentes. “Pedagogicamente falando, com um único dia na escola classe não é possível desenvolver com qualidade as habilidades artísticas, musicais e de educação física. Não é possível desenvolver uma proposta com a qualidade que o Anísio Teixeira sonhou”, afirma.
Gregório, entretanto, reconhece que haverá perdas para os estudantes que deixarão de frequentar as escolas parque. “Não vou ser hipócrita, é claro que eles não terão a mesma estrutura. Mas todas as atividades estarão contempladas”, assegura. Seis escolas do Plano Piloto já ofereciam ensino em tempo integral. A partir de agora, esse número subirá para 17. O secretário também reconhece que as escolas classe das asas Sul e Norte têm pouco espaço para as atividades. “É verdade, mas elas também têm muito menos alunos do que as outras regionais. São 10 turmas, em média, com no máximo 25 alunos”, pondera. O secretário diz que o cumprimento à risca da proposta de Anísio Teixeira já havia sido deixado de lado por sucessivas gestões. “A última escola parque do Plano Piloto foi inaugurada em 1986”, argumenta.
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