Coluna Eixo Capital/ Por Alexandre de Paula
Fábio Felix (PSol), deputado distrital
Quais os planos para o PSOL no DF? O senhor continuará na presidência do partido?
Não disputarei a reeleição para a presidência do PSOL. Cumpri minha missão, o diretório que presidi fortaleceu a profissionalização do PSOL, o enraizamento nas diversas lutas e obteve um resultado eleitoral histórico. Agora como único membro do partido eleito no DF, contribuo mais tentando expressar a síntese das posições do partido para fora. São importantes os legados conquistados até aqui: crescemos em quantidade de filiações, em presença nas diversas regiões do DF, e apresentamos com qualidade diversas lideranças representantes de grupos historicamente excluídos dos espaços de poder — mulheres, negros, LGBT, indígenas, periferia. A próxima gestão terá o desafio de afinar a rica pluralidade interna com a capacidade de ação comum.
O senhor vislumbra a possibilidade de a esquerda voltar ao Palácio do Buriti? É possível pensar em uma união entre partidos desse espectro?
Para termos unidade em 2022 sem que isso seja uma aventura, os partidos precisam se esforçar na construção de um programa consistente, capaz de derrotar a direita em seu projeto de desmonte do SUS, das políticas de assistência social e de liquidação do patrimônio público. Mas é certo que o PSOL não pode se diluir nem ser confundido com outros partidos já experimentados no poder. Não temos vocação para linha auxiliar. Na CLDF, compomos um bloco coeso de oposição com o PT e fazemos parcerias importantes com os parlamentares do bloco Rede/PDT. Nossa atuação conjunta tem conseguido impedir retrocessos e pode ser uma experiência de construção de unidade.
E nacionalmente? Consegue enxergar um nome para essa composição em busca da presidência?
Não me arriscaria a dar palpites sem conhecer os candidatos das eleições municipais e o resultado delas. Temos grandes quadros no PSOL como Marcelo Freixo, Sâmia Bomfim, Guilherme Boulos, Fernanda Melchiona, Glauber Braga entre outros. Na definição desses nomes, a busca por unidade tem acontecido em quase todas as cidades — e é fundamental que ela seja construída em torno de um programa. Senão será apenas a reedição de programas e formas de governar cujos limites conhecemos.
O presidente Rafael Prudente (MDB) afirmou que dizer que a Câmara Legislativa vai derrubar o decreto que aumentou as passagens é uma grande inverdade por causa da jurisprudência. Qual será a postura em relação ao reajuste? É possível revertê-lo?
O que falta mesmo é vontade política de barrar o reajuste, e é preocupante que dirigentes da CLDF diminuam a relevância de um instrumento da casa com suposto fundamento em apenas um precedente judicial. Isso enfraquece o Poder Legislativo como um todo. Na primeira sessão de votação do ano, a mesa consultou os líderes que, por maioria, decidiram não colocar o PDL em votação. Não acho normal que a passagem chegue a R$ 5,50 no DF — o valor mais alto cobrado no Brasil. Para um sistema de viagens longas e veículos desconfortáveis, passagem cara é inadmissível.
Há clima na Câmara para derrubar o veto à Praça Marielle Franco? O argumento de que ela não teve atuação no DF se sustenta?
Há, sim. Afinal, a lei foi aprovada na CLDF. O veto do governador é absurdo: já sabemos da praça cantor Leandro e Alziro Zarur. Foi uma decisão autoritária motivada pela vontade de agradar o Palácio do Planalto, que sempre se incomoda com o figura de Marielle Franco em razão dos vínculos constrangedores que unem o clã Bolsonaro às milícias do Rio de Janeiro. Em breve, retomaremos esse debate na Casa.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, entrou em confronto com um correligionário seu, o deputado Glauber Braga, na Câmara nesta semana. Como o senhor avalia esse episódio?
O que dá para ver no vídeo é que um colega do deputado Glauber se incomodou muito com a fala assertiva dele, ao dizer que o ministro Sergio Moro mais do que se omite para proteger Bolsonaro e seus filhos. Para quem cultua Moro como um símbolo de correção moral, ser confrontado com o fato de que ele é omisso sobre o caso de Flávio Bolsonaro e das milícias só pode incomodar mesmo.
Como estão os trabalhos da CPI do Feminicídio? Quais os avanços até agora?
Tem sido uma luta estruturar a CPI, mas temos garantido seu funcionamento. Agora, estamos fiscalizando órgãos do sistema de justiça e, nos próximos meses, vamos diligenciar aos órgãos de saúde e assistência social. Já identificamos alguns gargalos importantes, como falta de profissionais em toda a rede e de um fluxo unificado de atendimento às mulheres em situação de violência e a seus familiares. No relatório final, que será apresentado em junho, teremos um diagnóstico mais preciso.
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