Coluna Eixo Capital de 23 de dezembro de 2025, por Ana Dubeux
A juíza de direito Vanessa Matheus, do Tribunal de Justiça de São Paulo, é a nova líder da magistratura nacional. No mês passado, ela foi eleita para presidir, por três anos, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), entidade que reúne mais de 15 mil associados.
Integram a AMB juízes estaduais, federais, militares e do trabalho, além de ministros dos tribunais superiores, inclusive do STF. Nesta entrevista ao Correio, a magistrada sustenta que o fim da impunidade — especialmente nos estágios iniciais de agressão — é o único caminho para frear o crescimento dos feminicídios no país.
Como enfrentar a batalha contra o feminicídio?
Tivemos importantes progressos na legislação nos últimos anos. Agora, com base nesse arcabouço legal, é preciso efetivar, em tempo hábil, a punição dos envolvidos em atos de violência contra a mulher. O fim da impunidade é o único caminho para frearmos o crescimento desse tipo de crime.
Afinal, antes de assassinar, o criminoso agride e ofende. Portanto, é necessário agir para impedir que essa escalada da violência culmine no feminicídio. Outro aspecto é a necessidade premente da implantação de políticas voltadas ao enfrentamento da violência de gênero.
Como alcançar a paridade de gênero na Justiça?
A paridade de gênero é uma realidade em construção no Poder Judiciário. Tivemos avanços nos últimos anos — cada vez mais mulheres ingressam na carreira —, porém ainda somos minoria nos cargos diretivos e nos órgãos de cúpula. Nesse ponto, a nossa situação não é distinta da realidade brasileira.
Qual o principal desafio da gestão?
O principal desafio será a defesa das prerrogativas da magistratura, que existem, exclusivamente, para garantir o respeito aos direitos dos cidadãos.
Trabalharemos para que os juízes possam atuar com independência — livres de quaisquer pressões indevidas, sejam políticas, sociais ou econômicas — e para que disponham de todas as condições necessárias, em termos de recursos humanos e materiais, para oferecer serviços de qualidade à população.
Está otimista em relação ao uso da inteligência artificial nos tribunais?
O avanço das tecnologias leva, inevitavelmente, à transformação do trabalho em todas as searas, sobretudo no que se refere à racionalização das rotinas administrativas.
No Poder Judiciário, a inteligência artificial pode servir — desde que sob supervisão humana ininterrupta — como assistente do juiz, auxiliando em atividades repetitivas, na leitura de documentos e na análise de dados. No entanto, jamais deve substituir o magistrado no processo de decidir o destino das pessoas.
A senhora vai trabalhar pelo reajuste da remuneração dos magistrados?
A Constituição da República estabelece que os vencimentos dos servidores devem ser reajustados todos os anos, conforme a inflação, para preservar o poder de compra.
O que nós queremos é uma remuneração digna, à altura da responsabilidade do cargo, e que permita ao magistrado atuar de modo isento e imparcial, protegido de toda e qualquer forma de coação.

