ANA MARIA CAMPOS
ANA VIRIATO
HELENA MADER
Insatisfeito com as interferências de aliados nos rumos da chapa, o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) retirou a pré-candidatura ao Palácio do Buriti e reiniciou o jogo eleitoral às vésperas das convenções partidárias, marcadas para o período entre sexta-feira e 5 de agosto (veja Calendário eleitoral). Não há, por ora, um nome que empolgue e alcance facilmente o percentual de intenção de votos do médico, que lidera as pesquisas de opinião. Tampouco um candidato que una as três chapas formadas por políticos ligados aos ex-governadores Joaquim Roriz (sem partido) e José Roberto Arruda (PR). Neste momento, o grande beneficiado com a confusão na oposição é o governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
Com a pulverização dos votos de Frejat, Rollemberg terá grande chance de vitória, segundo a avaliação de todos os atores da política, inclusive entre os adversários. Antes da desistência do ex-secretário de Saúde, a avaliação nos bastidores era de que ele e Rollemberg estariam no segundo turno. Agora, não há projeções sobre qual representante da centro-direita terá fôlego para chegar até lá ou se, efetivamente, o jogo passa do primeiro turno.
A condição se agrava porque o período de campanha, neste ano, será mais curto, com 45 dias em vez de 90. Frejat, que contava com o recall das eleições de 2014, peregrinava pelo DF há semanas para aumentar o contato com o eleitorado e angariar apoio à pré-candidatura. O correligionário José Roberto Arruda, inclusive, chegou a participar de um dos eventos, no Areal. Um novo candidato terá de percorrer todo esse caminho outra vez.
Oração
Após o anúncio, parte do grupo do médico reuniu-se em um restaurante, ontem, para fazer uma avaliação do cenário. No encontro, representantes do MDB, DEM, PP — três dos 10 partidos com as maiores fatias dos fundos de financiamento e do tempo de propaganda eleitoral na televisão e no rádio —, PHS e Avante decidiram permanecer juntos. Porém, não traçaram um plano B. O PR não participou da conversa. Alguns ainda acreditam na possibilidade de demover Frejat da ideia de sair do páreo. Manifestações favoráveis à volta do ex-secretário de Saúde à disputa estão previstas para os próximos dias.
Uma das possibilidades da frente de Frejat é substituí-lo por outro integrante da coalizão. Neste caso, um dos nomes cotados é o do deputado federal Alberto Fraga (DEM), parlamentar como o maior percentual de votos no DF, em 2014. “Buscaremos uma composição adequada e conversaremos com outros grupos. Coloco-me à disposição, porque apresento um bom rendimento nas pesquisas. Mas tudo isso tem de ser acertado”, pontuou Fraga.
Ao Correio, o ex-secretário de Saúde garantiu que a decisão não tem volta. Ele ouviu apelos, mas negou os pedidos para reconsiderar, como os apresentados pelo dirigente nacional do PR, Valdemar Costa Neto. “A minha decisão foi pensada, repensada, e tomada com muita reza. Estou absolutamente tranquilo”, afirmou o médico. “Do jeito que a coisa estava, não valia a pena”, acrescentou.
Na semana passada, o ex-pré-candidato do PR ao Buriti reclamou das pressões que vinha sofrendo dentro do grupo de aliados, especialmente quanto às negociações políticas. Mas não citou nomes. Questionado se vai apoiar alguém na disputa para o governo, Frejat disse que vai “pensar”. “Não descarto apoiar alguém, desde que seja uma pessoa com as mesmas características que eu, alguém que queria só o bem da cidade”, explicou.
Tabuleiro
De olho na possibilidade de herdar os votos de Frejat, o outro grupo de centro-direita, coordenado pelo senador Cristovam Buarque (PPS), que tentará a reeleição, se apressou. Representantes do PSD, PRB e PSDB passaram o dia de ontem reunidos na casa de Izalci Lucas (PSDB), deputado federal e presidente da sigla no DF. A intenção era lançar o deputado federal Rogério Rosso (PSD) ao Palácio do Buriti. Discutiram, ainda, a possibilidade de distribuir uma das vagas ao Senado e a vice-governadoria a uma indicação do PRB e a Izalci. Dessa forma, esse último abandonaria a disputa pelo Executivo local. Pesam o desgaste interno do tucano dentro do partido e de, nacionalmente, PSD e PSDB terem acertado que a vaga ficaria com Rosso. Entretanto, até o fechamento desta edição, o encontro não havia terminado.
No grupo de Eliana Pedrosa (Pros) e Alírio Neto (PTB), nada muda, como reforçaram os pré-candidatos ao GDF e à vice-governadoria, respectivamente. O petebista afirmou que há a possibilidade de legendas das demais coalizões se aproximarem — por ora, Eliana e Alírio contam com o apoio de PTC, PMN e Patriotas. Entretanto, ele descartou mudanças nos nomes que encabeçam a chapa. “Chutaram o tabuleiro do jogo e espalharam todas as pedras, mas as nossas peças estavam na mão. Há uma tendência de que herdemos muitos dos votos de Frejat, porque estamos no mesmo campo político”, apontou Alírio. A frente deve anunciar a composição até sexta-feira, uma vez que as convenções partidárias das siglas que a integram estão marcadas para sábado.
Outros pré-candidatos que podem lucrar com a saída de Frejat do jogo são o empresário Alexandre Guerra (Novo) e o general Paulo Chagas (PRP). Ambos têm potencial para conquistar os votos daqueles que estão decididos a não votar em Rollemberg e defendem temas simpáticos à direita. Mas o benefício da pulverização do apoio também pode chegar à esquerda. Com discurso voltado à Saúde, a professora da Universidade de Brasília (UnB) Fátima Sousa (PSol) deve herdar os eleitores que escolhem seus candidatos a partir das propostas ao setor. Com o ex-secretário de Saúde fora, ela focará as críticas relacionadas ao tema às ações do governo.
O PDT, do pré-candidato ao Palácio do Buriti Peniel Pacheco, pouco será afetado. O partido, por ora, negocia alianças com PPL e PCdoB. A sigla ainda pode cair nos braços de Rollemberg. Essa possibilidade depende de um acordo nacional entre pedetistas e socialistas — o PSB apoiaria o presidenciável Ciro Gomes, em troca de respaldo às candidaturas aos governos estaduais, como o do DF. Isso será acertado em 30 de junho, na convenção do partido do governador Rollemberg.