ANA MARIA CAMPOS/EIXO CAPITAL
ENTREVISTA: Delegado Rafael Sampaio, candidato à presidência do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do DF (Sindepo-DF)
“A articulação política, especialmente em ano de eleição, é fundamental para que uma representação de classe alcance seus objetivos. No ano que vem, é ano de colher compromissos do futuro governante em relação a nossas pautas”
Como o senhor pretende fortalecer o papel do sindicato na defesa da categoria frente aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, especialmente no que tange ao cumprimento de acordos salariais e condições de trabalho?
Com articulação política e estabelecimento de uma visão clara enquanto categoria sobre nossos objetivos. A articulação política, especialmente em ano de eleição, é fundamental para que uma representação de classe alcance seus objetivos. No ano que vem, é ano de colher compromissos do futuro governante em relação a nossas pautas e, para isso, é fundamental que haja objetivos claros e uma representação que goze de credibilidade no meio político. De outro lado, entendemos que já passou da hora de resolvermos a dupla paternidade da PCDF. Precisamos ter um debate sério e escolhermos um caminho viável para nos tirar desse processo de convencimento de dois entes políticos (DFxUnião). Vamos promover esse debate e perseguir o objetivo que for deliberado pela categoria para mudar essa realidade.
Quais são as três principais mudanças que acredita necessárias para modernizar a atuação do sindicato e melhorar o apoio aos delegados da ativa e aposentados?
O primeiro passo é voltar a ouvir a base, convocar assembleias com pautas estruturantes para definir uma visão de futuro, como a estratégia para acabar com a dupla paternidade. Em seguida, cumprir as decisões coletivas, saindo de um presidencialismo autocrático e nos inserindo em uma gestão sindical moderna, baseada em princípios de governança e corresponsabilidade. Isso significa descentralizar decisões, dando voz efetiva aos departamentos temáticos, para garantir que as diversas demandas da categoria sejam verdadeiramente tratadas pelo sindicato. Acredito que isso é fundamental para readquirir a confiança e esperança dos colegas. Por fim, a terceira mudança fundamental é fortalecer o papel do sindicato como instituição de apoio e representação. É preciso modernizar os canais de comunicação com o sindicalizado, digitalizar o atendimento, ampliar a assistência jurídica, além de consolidar uma presença técnica junto ao GDF e ao Governo Federal.
Em tempos de crescente pressão por segurança pública e exposição dos delegados, como o sindicato pode contribuir para a proteção legal, psicológica e de imagem de seus membros?
A PCDF possui vários instrumentos normativos que regem a nossa atividade, mas que, algumas vezes, não são da aplicação cotidiana dos colegas e outras não são suficientes para dar respaldo à nossa atuação. Precisamos revisitar todo esse arcabouço, para criar informativos por matéria, como forma de facilitar sua aplicação prática aos casos concretos. A medida possibilitará a detecção de eventuais vácuos regulamentares que precisam ser preenchidos pela instituição, tudo visando a proteção de nossa atividade. Quanto à saúde, física e psicológica, dos delegados, o propósito é fomentar a assistência aos colegas, por meio da proposição de ações preventivas ou terapêuticas, inclusive de melhoria do ambiente organizacional, cobrando do Estado que cumpra os objetivos relacionados à atenção à saúde dos servidores policiais constante no Plano Nacional de Segurança Pública. Hoje, existe recurso para isso, posto que 10% do Fundo Nacional de Segurança Pública é destinado à essa finalidade, mas não vejo nosso sindicato propondo ações nesse espectro. Por fim, em relação à imagem da carreira, é fundamental fomentarmos um ambiente interno de respeito ao cargo e entre os pares, de corporativismo saudável, como forma de retomar a autoestima que deveria ser própria de uma carreira de cúpula e com atribuições tão relevantes como a nossa. Externamente, propomos uma representação serena, com zelo à imagem e relações institucionais, cuidando para não transformarmos nossas reivindicações em exposição maléfica da carreira e da instituição.
Caso eleito, como planeja dialogar com os associados para ouvir demandas, garantir transparência nas decisões do sindicato e prestabilidade de contas em sua gestão?
É importante salientar que a diretoria do sindicato é plural, composta de muitos membros, sendo importante todos falarem a mesma língua e terem os mesmos princípios para que não exista confusão, e nosso grupo tem esse perfil. Assim, seremos absolutamente acessíveis, disponíveis e empáticos para ouvir os colegas e acompanhá-los em suas demandas, especialmente nos atendimentos jurídicos e audiências, quando é indispensável a presença do presidente ou membro da diretoria. Coletivamente, ouviremos os colegas convocando assembleias constantemente. Não podemos abrir mão de assembleias e de decisões coletivas.
O reajuste salarial dos delegados e delegadas foi uma boa conquista ou ainda falta muito para o pretendido pela classe?
Em primeiro lugar, precisamos considerar que ainda não podemos comemorar e esmorecer, pois o reajuste negociado está em fase de implementação. Na verdade, ainda não trilhamos nada no Legislativo, sendo necessária a apresentação e aprovação de PLN alterando o orçamento e, posteriormente, de PL concedendo o reajuste. Pela morosidade observada até agora, corremos sério risco de não ter ainda esse ano um aumento que deveria ter vindo desde setembro. Após implementado, entendo que ainda precisamos avançar muito para recuperar as perdas inflacionárias dos últimos 10 anos e alcançarmos os níveis salariais de outros Estados da Federação.

