ANA MARIA CAMPOS
Muita gente estranhou a posrura do senador Cristovam Buarque (PPS-DF) de declarar publicamente o rompimento com o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) dois anos depois de ajudá-lo a se eleger ao Palácio do Buriti.
Em entrevista ao Correio, Cristovam diz que nunca se sentiu parte da gestão Rollemberg porque em nenhum momento foi ouvido. Compara o relacionamento político com um casamento que nunca deu certo, sequer teve lua de mel e foi apenas até o altar, a eleição de 2014.
Ele também compara o governo Rollemberg ao de Agnelo Queiroz (PT). O petista, segundo Cristovam, foi irresponsável com as contas públicas e desperdiçou dinheiro com obras megalomaníacas, como a construção do Estádio Mané Garrincha. Já Rollemberg, teria o mérito de equilibrar as contas, mas não estaria sabendo aplicar recursos para o bem de Brasília.
Sobre as críticas que recebeu do deputado distrital Chico Vigilante (PT), Cristovam diz que, do petista, perdoa tudo. Mas ressalta sua posição: “Eu sou absolutamente fiel aos meus princípios. Com isso, sou fiel aos aliados, mas quando os aliados se afastam dos princípios, eu fico com os princípios”.
Sobre a denúncia da Operação Drácon envolvendo dois deputados distritais de seu partido, Celina Leão e Raimundo Ribeiro, Cristovam ainda dá um voto de confiança. “Nada indica que as denúncias sejam verdadeiras”, aposta.
Nesta entrevista, Cristovam também fala sobre o governo de Michel Temer, sobre a indicação do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para o Supremo Tribunal Federal e sobre 2018. “Estão me empurrando para fazer um plebiscito. Se o meu mandato foi bom ou ruim”, disse.
O que o motivou a declarar o rompimento em relação ao governo de Rodrigo Rollemberg?
Essa mesma pergunta poderia ser feita da seguinte forma: “Por que demorou tanto para fazer isso?” Porque desde o primeiro dia do governo Rollemberg, eu, e posso falar em nome de Reguffe também, nos sentimos absolutamente excluídos de qualquer participação de sugestões. Parece que o governador só ouve quem quer indicar cargos. Reguffe e eu não indicamos cargos. Nós indicamos políticas, propostas. E parece que isso não interessa. Então nós estamos fora do governo, expulsos pelo Rodrigo Rollemberg desde o primeiro dia.
O que o senhor gostaria de ter sugerido e não foi ouvido?
O que sugeri a ele desde o começo. Dei, inclusive, para ele a lista dos programas do meu governo, como o Saúde em Casa, como voltar o projeto Saber, de formação de jovens, para ter emprego. Na educação, a implantação de horário integral de todas as escolas de uma cidade. Não pedi que fosse em todo o Distrito Federal. Coloquei para ele a volta do Orçamento Participativo, a Mala do Livro, Poupança Escola, Agroindústria Familiar, Temporadas Populares, os programas que a gente fez e acho que deram certo. Ele nunca deu resposta a nada disso e eu sempre dizendo: tudo isso eu quero que seja feito apoiando o equilíbrio fiscal porque sou defensor de equilíbrio.
No dia do anúncio, o senhor disse que era um casamento que já tinha acabado e só faltava oficializar o divórcio. É isso mesmo?
É um casamento que desde o primeiro dia não deu certo. Foi só até o altar, o dia da eleição.
Nem teve lua de mel?
Não teve. Nunca tive razão para me sentir parte do governo Rodrigo Rollemberg.
O senhor tem biografia limpa, nunca teve seu nome envolvido em irregularidades. Não teme desgastar a sua imagem ao se associar a dois deputados, Celina Leão e Raimundo Ribeiro, que foram denunciados por corrupção na Operação Drácon?
Denunciados, mas nada que indique que seja verdade a denúncia. E todas as conversas com eles dois indicam que eles não cometeram nenhum deslize. No dia que se comprovar que houve, eles estão fora. Mas até hoje o que a gente vê é que foi uma manipulação de uma conversa que não tem nada de não republicano, mas quando você pega um pedacinho cria-se uma mácula. E os deputados já entraram na justiça para mostrar que foram envolvidos por razões políticas.
O deputado Chico Vigilante (PT), que já foi seu aliado, mas de quem o senhor se afastou no processo de impeachment, fez críticas fortes a seu posicionamento contra o GDF. O senhor ficou magoado?
O Chico já fez manifestações desse tipo em relação a outras pessoas com quem depois saiu abraçando como se fosse amigo desde criancinha. É comum no Chico abraçar hoje, cuspir amanhã, cuspir hoje, abraçar amanhã. O que me incomoda é que ele faz isso por razões puramente de estar ou não ligado à sigla. Eu sou absolutamente fiel aos meus princípios. Com isso, sou fiel aos aliados, mas quando os aliados se afastam dos princípios, eu fico com os princípios. E creio que quem trai são os aliados que se afastam dos princípios. Mas do Chico, eu desculpo tudo porque sei que é uma coisa momentânea. A qualquer momento, ele estará contra o Rollemberg outra vez.
O senhor acha que o governo Rollemberg é parecido com o de Agnelo?
Não. O governo Agnelo foi irresponsável. O governo Rollemberg é responsável. O governo Agnelo fez obras megalomaníacas criminosas, como o estádio Mané Garrincha, ao custo de R$ 2 bilhões. O governo Rodrigo não fez obras. E ponho no sentido não de construção, mas de projetos, de soluções. Acho até que eles são absolutamente diferentes. Um desperdiçou dinheiro com obras, o outro não está sabendo usar o dinheiro que tem para mudar Brasília para melhor.
Então, acha que os dois são nocivos para o DF?
A palavra nociva é muito forte. Diria que Agnelo foi nocivo e que o Rodrigo Rollemberg não está atendendo às expectativas. Nocivo eu não digo porque ele pelo menos está equilibrando as contas desequilibradas que o Agnelo deixou. Ele vai organizar as contas, mas não vai deixar um legado. Eu gostaria que ele deixasse um legado.
O que podemos esperar para 2018? Brasília tem nomes para fazer melhor?
Não tenho a menor ideia do que vai ser 2018. O Brasil está num processo de desagregação. É a soma de um processo de descumprimento de regras, de leis, de violência, de falta de lideranças, de partidos. Por isso, a minha lealdade é a princípios, não a siglas. Temos uma juventude que está desiludida. Eu nem vejo 2018 hoje. Porque se o que acontece hoje no Espírito Santo se espalha pelo Brasil, junto com 12 milhões de desempregados, com a economia em recessão, com o descrédito dos políticos… Se isso ocorrer, eu não acredito que a gente chegue a 2018 com uma eleição normal e tradicional, tanto no sentido de nem ocorrer, como no sentido de trazer soluções malucas. Nomes que não têm a menor condição de governar o Brasil, mas que podem se eleger graças à demagogia.
O senhor já tem uma posição sobre como vai votar na indicação do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para o STF?
Eu só vou dizer como vou votar na hora, mas já posso dizer que não foi um ato feliz da Presidência da República. Eu creio que o Temer, ao ser do ramo, poderia ter encontrado um nome sem ônus político e que passasse absoluta credibilidade de imparcialidade. Mas, ao escolher um ministro dele, ele trouxe alguém que traz a desconfiança de parcialidade e traz um partido. E creio que o presidente Temer errou ao, no meio dessa guerra civil que nós vivemos, tirá-lo do comando sem colocar outro no lugar. O ministro da Justiça é o comandante da luta pela segurança. Eu não sei como vou votar ainda, mas não votarei apenas pela competência técnica. Se fosse por isso, votaria a favor, mas votarei pelo sentimento de que o nome dele passará segurança, tranquilidade e confiança na luta pela Lava-Jato.
Mas no dia o senhor vai declarar o voto?
Sim. Sou favorável a voto aberto. Muita gente diz que votar contra um ministro do Supremo é temerário porque ele vai chegar lá e vai nos perseguir. Primeiro, se isso acontecer, é melhor não morar mais no Brasil. Mas manifestarei meu voto contra ou a favor. Alguns podem dizer que é traição. Não é traição. Isso se chama fidelidade a princípios.
Pelos rumos do governo Temer, o senhor se arrepende do voto no impeachment?
Não. Primeiro que não votei no Temer. Votei no impeachment porque a presidente Dilma cometeu dois crimes de responsabilidade e porque o país estava indo para o desastre completo na economia. Alguém tem ideia qual seria a taxa de inflação e de desemprego se a Dilma tivesse continuado? Como estaria a credibilidade? Votei para tirar a presidente Dilma, dentro da Constituição e, além disso, acho que na economia o presidente Temer está tomando as medidas corretas e está apresentando o que o Brasil precisa há décadas: reformas, da Previdência, por exemplo. Não estou dizendo que é a que ele mandou, eu mesmo vou apresentar modificações. Mas o país precisa de reformas.
Depois desse gesto de rompimento com Rollemberg, o senhor pensa em voltar ao Palácio do Buriti?
Continuo pensando em não ser candidato ao Buriti e até recentemente eu pensava em não ser candidato. O que está me levando hoje a achar que serei candidato é tentar ver se eu saí menor ou maior de 2016 e 2017. Eu estava me programando para ir para casa para escrever mais, ler mais, mas, de repente, quando vejo acusações como essas me sinto empurrado para ser candidato. Que o povo diga quem tem razão: quem está me acusando ou se eu tive razão, com as posições que tomei.
Candidato a quê?
À reeleição. Seria o mais provável. Estão me empurrando para fazer um plebiscito. Se o meu mandato foi bom ou ruim.
Coluna Eixo Capital publicada em 22 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni O Ministério…
Coluna Eixo Capital, publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni (interino) Um…
Coluna Eixo Capital publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni Um áudio…
Da Coluna Eixo Capital, por Pablo Giovanni (interino) Um relatório da Polícia Federal, que levou…
Texto de Pablo Giovanni publicado na coluna Eixo Capital nesta terça-feira (19/11) — O ministro…
Coluna publicada neste domingo (17/11) por Ana Maria Campos e Pablo Giovanni — A Polícia…