O que aconteceu na Universidade Federal de Minas Gerais, na semana passada, em que algumas pessoas o xingaram e o senhor teve de cancelar o lançamento de um livro?
Fui fazer uma palestra, lançar um livro e de noite tinha uma reunião do PPS. Como sempre faço, andei pelo campus. Surgiu um grupo de cinco ou seis pessoas que começaram a me chamar de golpista. Parei para conversar e disse que se houve golpe foi também contra a corrupção, para salvar a Petrobras. Durante a palestra, não houve nenhum problema. Mas ficou evidente que haveria perturbação na hora do lançamento do livro, me sugeriram cancelar e preferi cancelar. Na hora da reunião, um grupo tentou impedir a minha entrada.
Esse momento foi mais grave do que o que senhor já enfrentou em Brasília, pela sua posição a favor do impeachment?
Aqui são apenas gritos individuais, nunca houve grupos de pessoas. Lá eram seis ou sete, que fizeram um barulho danado.
O senhor ficou assustado?
Sabe que não? Em nenhum momento, senti risco de agressão física. Mas o que isso passa para mim é que estamos vivendo uma guerra civil. Os deserdados estão descendo dos morros e estão se unindo aos desencantados. Isso é muito grave. As guerras civis começam com vaias, depois com gritos, um dia se joga uma pedra em um adversário e depois é uma pancada, em seguida vem um tiro e, quando se descobre, o país está no meio de uma guerra civil. Temo que o Brasil esteja caminhando para isso, pela violência que vemos nas cidades e pela intolerância na política.
Depois do impeachment de Dilma, o sucessor, Michel Temer, está sendo acusado de corrupção. Essa sequência acaba criando uma desilusão e aumentando a intolerância?
Creio que não porque quem escolheu o Temer foram os eleitores da Dilma. O Temer foi vice da Dilma duas vezes. É uma continuidade. Na verdade, nós ainda não completamos o impeachment. Para isso, precisamos tirar o Temer também. A Dilma saiu pelo crime fiscal, das pedaladas, mas talvez um erro ainda maior dela tenha sido colocar o Temer de vice. Ela tinha que ter previsto um vice à altura, como foi Itamar (Franco), por exemplo.
E a situação de pressão piorou quando o senhor votou a favor da reforma trabalhista?
Sim, sem dúvida alguma. O impeachment vão esquecendo. O que as pessoas reagem é porque vou continuar votando contra o atraso. O Brasil é um país amarrado. O Hino Nacional fala em deitado em berço esplêndido, mas, na verdade, estamos amarrados em berço esplêndido. Temos que adaptar a economia à realidade do momento. A realidade exige reforma trabalhista, exige reforma fiscal, exige reforma na educação. Os grupos corporativos não querem essas reformas e outros estão caindo na narrativa de que essas medidas são escravocratas. Eu tento debater, mas ninguém quer discutir.
O senhor tem disposição de se candidatar à Presidência?
Como quem procura, não. Mas se as circunstâncias do meu partido quiserem, eu vou. Não vou procurar, mas não vou fugir. Numa eleição em que Bolsonaro pode chegar ao segundo turno, nenhum patriota tem o direito de não aceitar disputar. O Bolsonaro é uma excrecência da democracia. Não podemos deixar que isso vá adiante. Mas temos que reconhecer que o prestígio dele ocorre de que parte da ditadura não foi enterrada e porque, nós democratas, cometemos muitos erros nesses últimos 30 anos. A população diz “os democratas deixam o país desse jeito, com o país quebrado, a violência nas ruas e a corrupção tomando conta, vamos atrás do passado, vamos atrás de um milico”. O Bolsonaro é o pior de todos os coronéis da política. Ele tem filhos na política e vários mandatos e diz que não é político.