Em uma noite, no Palácio da Alvorada, há um mês, Cristovam Buarque (PPS-DF) teve o primeiro encontro a sós com Dilma Rousseff de sua vida. Enquanto a presidente tomava vinho e o senador degustava doses de uísque, a conversa fluiu com entrosamento. Os dois discutiram a crise das esquerdas e trocaram impressões sobre literatura e o perfil de líderes mundiais, como Angela Merkel, Barack Obama e François Hollande. Ela contou até histórias do pai, o imigrante búlgaro Pedro Rousseff. Em mais de uma hora de tête-à-tête, o assunto mais espinhoso do momento não surgiu nenhuma vez. Dilma não pediu o voto de Cristovam contra o processo de impeachment, que será julgado no fim de agosto. Nem precisou. A mensagem, claro, era subliminar. Cristovam nunca tinha conversado com Dilma assim. Nem sobre questões políticas, mesmo quando ambos eram colegas de ministério no primeiro mandato de Lula. Agora, quando precisa de votos para barrar a cassação, surgiu o interesse da aproximação.
Cartas
No encontro com Cristovam, a presidente Dilma Rousseff não se referiu às cartas, sem resposta, que recebeu do senador Cristovam Buarque, quando estava no poder. Mas as deixou bem visíveis, numa cadeira.
Mais conversas
Depois da conversa a dois com a presidente Dilma, Cristovam esteve outras duas vezes no Palácio da Alvorada. Nessas outras ocasiões, a última há 15 dias, ele estava acompanhado de outros senadores, como Roberto Requião (PMDB-PR), João Capiberibe (PSB-AP), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Elmano Férrer (PTB-PI) e Lidice da Mata (PSB-BA), que votaram contra a admissibilidade do processo de impeachment. O tom da conversa foi mais político.
Miss simpatia
Cristovam Buarque parece ter ficado encantado com as conversas com Dilma Rousseff. Ele diz, no entanto, que isso não vai interferir em seu julgamento sobre o impeachment. “Não nego que essas reuniões me trouxeram uma simpatia pela presidente Dilma. Mas uma coisa é a simpatia. Outra coisa é a opção política”, explica.