Coluna Eixo Capital/Por Ana Maria Campos
À QUEIMA-ROUPA
Professor Israel Batista (PV-DF), deputado federal
Com a participação na Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação, qual sua visão sobre a atuação do MEC neste governo?
A minha visão é de preocupação. Primeiro, porque foi um ano sem execução orçamentária em diversas áreas. Gastou-se muito tempo em debates infrutíferos, lutando contra moinhos de ventos. Foi um ano sem orçamento, com dinheiro que já existe lá sem ser investido. Criou-se um campo de batalha nas redes sociais e gastou-se energia enorme em assuntos polêmicos, mas assuntos importantes não foram tratados. Não há planejamento, iniciativa. Como o MEC está perdido, municípios e estados também ficam perdidos. A minha visão é de que foi uma atuação invencionista, preocupada com assuntos polêmicos, mas que abandonou a resolução de problemas históricos que são consenso entre os diversos .
Na comissão, o senhor fez o relatório sobre a formação dos professores. O que nos falta, quais os principais problemas?
Primeira coisa é que a formação inicial dos professores brasileiros é muito deficiente. São currículos muito teóricos e fragmentados. É muita teoria e pouca prática. Também temos epidemia de ensino a distância nas licenciaturas em pedagogia. Então, esses fatores somados trazem uma baixa qualidade na formação dos professores no Brasil. Há um fator agravante: o ministério não se entende sobre qual deve ser o currículo dos professores. Há quatro secretarias dentro do MEC que não se decidem sobre isso. Logo, os estados e municípios também não se entendem. Não há critérios para definir o que é bom e o que é ruim, e não se consegue fiscalizar a qualidade dos cursos que temos.
A que se deve o resultado do Brasil no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes)?
Primeira coisa que a gente precisa dizer é que o Brasil melhorou muito pouco em relação ao que deveria melhorar. Nossos estudantes não conseguem identificar a ideia central de um parágrafo, fazer a conversão do real para o dólar aos 15 anos. É um problema antigo, que vem se arrastando. Se olharmos o filme da educação, veremos que ela vem melhorando, mas, quando olhamos a fotografia, a gente se assusta porque ainda é muito ruim. O problema mais grave está na educação infantil e fundamental, porque não temos investido em formação docente. Outra questão grave é a falta de sequência das políticas públicas. O processo de melhoria da educação é evolutivo e não revolucionário. Então, é preciso de tempo, de continuidade e de sequência para avançarmos.
Que avaliação o senhor faz da educação no governo Ibaneis?
Tenho sentido no DF uma menor atenção a esse tema. O tema da segurança pública capturou a atenção do poder público no DF. Estamos descontinuando políticas que eram importantes. A militarização das escolas foi colocada como a panaceia, como única solução. Não acho que o modelo seja totalmente equivocado, mas estamos abraçando esse sistema como se fosse salvar tudo. A gestão compartilhada deve ser com universidades, com a Secretaria de Cultura, com as embaixadas. Precisamos transformar a escola numa responsabilidade coletiva. Só com a Polícia Militar dentro dos colégios coloca-se uma pressão enorme na PM e cria-se a falsa impressão de que tudo será resolvido.
O senhor disse que políticas importantes foram deixadas de lado no DF. Quais são elas?
Precisamos focar na preparação de adolescentes da periferia para universidades. Eles farão o Enem e o vestibular, precisam de apoio para isso. Temos de dar continuidade à ampliação e à revigoração dos Centros Interescolares de Línguas (CIL). Poucas atividades escolares interferem tanto na carreira profissional quanto o aprendizado de uma língua estrangeira. Então, precisamos voltar a dar atenção urgentemente a isso e ampliar e melhorar a estrutura dos CILs.