A 23 dias da data-limite para o registro de coligações e candidaturas, em 15 de agosto, o eleitor brasiliense ainda desconhece a maioria dos nomes que constarão nas urnas na disputa por cargos majoritários. Alguns grupos políticos sequer definiram os postulantes ao Palácio do Buriti e apenas duas chapas fecharam as composições completas, com preenchimento das vagas da vice-governadoria e do Senado. O clareamento do jogo eleitoral na capital esbarra em pelo menos cinco entraves. O principal deles deve ser resolvido ainda hoje. Líder em pesquisas de intenção de voto, o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) tem reunião marcada com o dirigente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, para definir se retoma ou não a pré-candidatura. A decisão influi no futuro de quase todas as chapas em articulação no Distrito Federal.
Ao Correio, o médico, que abandonou a pré-campanha devido à intransigência de aliados há 11 dias, disse esperar garantias de que a autonomia concedida pelo PR, na última quinta-feira, tenha efeitos práticos. “A luta sempre foi para que não houvesse imposições, jamais para que eu impusesse algo. Quero saber, na prática, até onde a carta branca é verdadeira e como terei certeza da liberdade para formar coligações e trabalhar indicações na chapa”, afirmou Frejat.
Ao renunciar a pré-candidatura, o ex-secretário de Saúde reclamou das pressões que sofria no próprio grupo, formado por MDB, DEM, PP, PR, Avante e PHS. Também disse que, mesmo sem o consentimento dele, até cargos da administração pública eram loteados por terceiros, caso assumisse a gestão. Acrescentou que não venderia a alma ao diabo, mas não apontou nomes. Por isso, se retornar ao jogo, Frejat será cobrado por adversários a revelar quais políticos pretendiam interferir nos rumos de um eventual governo.
O veredito do médico destravará as negociações da coligação, que, até então, detém a maior parte do tempo de propaganda eleitoral na tevê e no rádio, com quase 3 minutos no ar a cada um dos dois blocos de 9 minutos transmitidos às segundas, quartas e sextas-feiras. Caso Frejat volte à disputa, a coalizão terá três semanas para definir os nomes do vice e do dono da segunda vaga do Senado — o deputado federal Alberto Fraga (DEM) concorrerá à outra cadeira do Legislativo. Mas, se o ex-secretário de Saúde mantiver o posicionamento inicial, Fraga pode ficar com a cabeça de chapa, e a frente precisará encontrar candidatos de fôlego para ocupar os demais três cargos majoritários ou se unir a outra coalizão.
Em meio à indefinição sobre o futuro de Frejat, o grupo de centro-direita coordenado pelo senador Cristovam Buarque (PPS), que concorrerá à reeleição, aproveitou o período para encorpar a coligação. Em busca de um “perfil conciliador”, que pudesse agregar alianças e fortalecer as nominatas, a frente trocou, na última quinta-feira, o deputado federal Izalci Lucas (PSDB) por Rogério Rosso (PSD) na cabeça de chapa. Rosso, contudo, ainda não confirmou se entra na disputa. Ao Correio, disse que pode fazer o anúncio hoje.
Nos últimos dias, ele teve diversos encontros com dirigentes partidários e apresentou propostas de governo a aliados do PRB, PPS e PSC, além de conversar com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e com a família. Mas restam pendências para bater o martelo. “Estamos buscando o apoio de outras siglas, fazendo as contas para as proporcionais (deputado distrital e federal) e, principalmente, tentando manter Izalci no grupo. A ideia é acomodar todos, atendendo às prioridades de cada um”, pontuou Rosso.
Mas ocupar a vaga de vice-governador ou de senador na coligação de Rosso não está nos planos de Izalci. Ao ser preterido pelo próprio grupo político, o tucano disse que concorreria ao GDF, mesmo sozinho. Ele cogita também ser o número dois da chapa de Jofran Frejat, caso o médico retome a candidatura. As duas possibilidades, entretanto, desrespeitam o acordo firmado entre Geraldo Alckmin (PSDB) e Kassab. Pelo acerto, entre outros quesitos, tucanos teriam de apoiar o nome do candidato do PSD ao GDF. A palavra final deve ser dada pela Executiva Nacional do partido. Nesta semana, correligionários de Izalci pretendem procurar os dirigentes da sigla para tratar o assunto. Na visão deles, se o tucano se candidatar ao lado de partidos nanicos ou na coligação de Frejat, prejudicará a eleição de deputados distritais e federais da agremiação.
Na centro-esquerda, as principais negociações pelo Palácio do Buriti dependem de acordos a nível nacional. O PSB se reúne, na próxima segunda-feira, para definir se apoiará o presidenciável Ciro Gomes (PDT). Se confirmado, o acerto garantiria ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB) o suporte de pedetistas na capital, apesar da resistência do diretório local. “Se fecharmos nacionalmente, a tendência mais forte é acontecer isso”, garantiu o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Hoje, o partido conta com o nome do ex-distrital Peniel Pacheco ao GDF. Mas a pré-candidatura não decolou; nenhum partido aderiu oficialmente à ideia. Em paralelo, o PDT negocia uma composição na chapa de Rosso e Cristovam. O senador sempre defendeu um uma composição com o distrital Joe Valle como candidato ao Senado.
Pela esquerda, o PT deve sair numa coligação puro-sangue. Resta, porém, definir a composição da chapa majoritária. Uma das principais dúvidas refere-se ao nome do pré-candidato ao GDF: Afonso Magalhães ou Júlio Miragaya. Os caciques do partido decidiram concorrer a vagas proporcionais. A deputada federal Erika Kokay tentará a reeleição. Os ex-distritais Geraldo Magela e Arlete Sampaio pretendem voltar à Câmara Legislativa. O distrital Chico Vigilante busca manter a cadeira.
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