Por Ana Maria Campos – à queima-roupa – Deputado distrital Gabriel Magno (PT), membro da CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa
Até o momento, qual a sua convicção sobre o que aconteceu no 8 de janeiro?
Foi uma tentativa de golpe de Estado. Foi uma tentativa planejada, organizada e financiada por grupos da extrema direita. Além disso, os documentos e depoimentos reunidos pela CPI da Câmara Legislativa nos mostram que houve um “apagão” na Segurança Pública do DF. E a nossa convicção é cada vez maior no sentido de que alguém ou algum grupo desligou esse disjuntor.
Qual a sua avaliação sobre o depoimento de Anderson Torres na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa?
Minha avaliação é a de que ele se esquivou de suas ações e responsabilidades na Secretaria de Segurança do DF tentando colocar-se como um servidor de perfil técnico. Mas o fato é que ele sempre teve um perfil totalmente político, seja como chefe de gabinete de deputado federal, como secretário no DF ou no Ministério da Justiça. Anderson Torres é uma figura relevante no núcleo duro do bolsonarismo e atuou como homem forte de Bolsonaro em diversos momentos do governo passado. A CPI vai mostrar que Anderson Torres tem muito mais a revelar do que disse em suas últimas aparições. Apesar de se esquivar de várias questões, o depoimento dele foi importante ao apontar as falhas no operacional das forças de segurança no dia 8, mas também da própria desorganização do planejamento de que ele era o responsável.
Acha que Anderson Torres mentiu?
Ele não respondeu questões importantes. Negou ter conhecimento sobre a origem da chamada Minuta do Golpe, que estava guardada na estante da casa dele, e disse que não sabia de quem a teria recebido. Não respondeu sobre os movimentos golpistas de invasão dos prédios públicos que já estavam sendo comunicados entre os agentes da Segurança Pública antes do dia 6 de janeiro, quando ele deixou tudo pra trás e foi tirar férias em Miami. Também não respondeu com precisão sobre a operação montada pela PRF para interceptar ônibus e dificultar a votação dos eleitores em cidades que Lula mantinha a maior preferência do eleitorado no Nordeste. Então, são muitos pontos que serão desvendados pela apuração. Anderson Torres era do núcleo duro do bolsonarismo e um elo importante entre Bolsonaro e o governador Ibaneis.
O que falta esclarecer?
Vamos atuar para identificar os financiadores dos atos golpistas, que não se restringem apenas ao dia 8 de janeiro. Houve o financiamento dos acampamentos nos quartéis, a tentativa de invasão do prédio da PF, em dezembro, e a tentativa de explosão de bomba no aeroporto. Portanto, são ações que estão encadeadas e acredito que a CPI vai contribuir para achar as conexões entre os atos e os responsáveis.
Na sua opinião, qual vai ser o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro?
Diante de tantas denúncias de corrupção e da condução desastrosa que seu governo impôs no trato da pandemia e na destruição do Estado brasileiro, penso que ele tem muito a responder e passará boa parte de seu tempo se explicando em inquéritos e processos judiciais. Acredito que a CPI também dará uma grande contribuição ao País quando demonstrar de forma definitiva seu envolvimento no planejamento dos atos golpistas. Neste sentido, sendo confirmadas essas acusações, seu destino será a cadeia.