Jogo do Tigrinho é popular entre as mulheres. Uso do cartão de crédito sem controle faz 1,3 milhão de pessoas se endividarem com cassinos digitais
Por Samanta Sallum
Estudo revela que 22% da renda disponível das famílias brasileiras foi destinada às apostas no último ano, gerando uma série de consequências econômicas e sociais. Entre elas, o aumento da inadimplência. No primeiro semestre de 2024, cerca de 1,3 milhão de brasileiros já têm dívidas em atraso em razão dos cassinos on-line, muitos dos quais utilizam o cartão de crédito sem controle.
A situação afeta especialmente as classes mais vulneráveis. “O público jovem e de baixa renda é o mais impactado. As apostas, que inicialmente parecem uma forma de entretenimento, acabam comprometendo uma parte considerável do orçamento, resultando na inadimplência e na redução do consumo de bens essenciais”, afirma o economista Felipe Tavares. Ele está à frente do estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.
Desde a aprovação da Lei nº 13.756, em 2018, que autorizou as apostas esportivas, o mercado de apostas on-line, incluindo cassinos virtuais, tem crescido exponencialmente no Brasil. Entre junho de 2023 e junho de 2024, os consumidores gastaram R$ 68,2 bilhões em apostas, valor que já representa 0,62% do PIB nacional.
Dinheiro de programas sociais
Os cassinos on-line, em particular, têm mostrado um perfil de apostadores que levanta ainda mais alertas. Modalidades como o chamado “Jogo do Tigrinho”, popular entre mulheres, têm o potencial de gerar impactos sociais mais profundos, visto que parte desse público é beneficiário de programas sociais e chefe de família.
“Isso pode agravar ainda mais o ciclo de pobreza e desigualdade, já que muitos estão utilizando recursos essenciais para apostar”, reforça Tavares.
Impacto no comércio
A CNC revisou para baixo a projeção de crescimento do setor varejista em 2024, ajustando de 2,2% para 2,1%. A mudança reflete o impacto negativo causado pelo aumento descontrolado das apostas on-line, que tem comprometido a renda das famílias e redirecionado o consumo para jogos de azar, em vez de bens e serviços essenciais.
De acordo com o vice-presidente financeiro da CNC, Leandro Domingos Teixeira Pinto, esse fenômeno já começa a trazer consequências expressivas para o comércio. “O crescimento do volume de apostas está diretamente ligado à perda de poder de compra das famílias, o que afeta toda a economia e o desenvolvimento do país”, alerta.