Anápolis (GO) guarda alguns tesouros da história do Brasil. Um deles é uma casa projetada por Oscar Niemeyer, com mais de 80 móveis de Sergio Rodrigues. O imóvel, que pertencia ao ex-prefeito Anapolino de Faria, está sendo restaurado.
O projeto da casa foi um presente de Niemeyer para Anapolino. Erguida na mesma época de Brasília, ela ocupa um terreno de 2.230 m² e tem área construída de 700 m², envolvida por uma caixa de madeira denominada Castilho, termo dado pelo arquiteto Marcílio Lemos (presidente do Centro Cultural Oscar Niemeyer de Goiânia), que dá a impressão de estrutura base da casa.
Localizado na Rua Dona Sandita, no centro de Anápolis, a imóvel tem quatro quartos (duas suítes), área de lazer (piscina com churrasqueira), e subsolo que acompanha a inclinação do terreno.
Entre os seus 107 móveis, há as famosas cadeiras Mole, desenhadas por Sérgio Rodrigues, além de várias peças feitas sob medida: camas, sofás, estante mesa de jantar de três metros (com 12 cadeiras de Jacarandá da Bahia).
A casa passa por uma completa restauração para receber a 1ª Mostra de Arquitetura, Designer de Interiores e Paisagismo de Anápolis, prevista para ocorrer em meados de novembro e parte de dezembro. Ainda sem data definida, o evento será aberto ao público por mais de 30 dias.
A mostra e a restauração do imóvel são uma iniciativa do Grupo Kasulo, de Goiânia, que reúne 47 profissionais entre arquitetos, engenheiros civis, designers e publicitários
Materiais nacionais
Sérgio Rodrigues sempre se preocupou em desenvolver um mobiliário moderno e autenticamente brasileiro. A originalidade da estrutura de toras de jacarandá maciço e percintas de couro e dos almofadões que se moldavam confortavelmente ao corpo, distantes das linhas retas e das estruturas de aço então em voga, levaram o júri do Concurso Internacional do Móvel, em 1961, em Cantù, na Itália, a conferir à cadeira Mole, o primeiro prêmio.
Formado em arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, Bernardo Figueiredo colaborou com a empresa OCA, de Sérgio Rodrigues, de quem recebeu forte influência, e também conviveu com Joaquim Tenreiro, um dos pioneiros no design de mobiliário do país. Desde 1962, Bernardo Figueiredo vinha desenvolvendo o que chamava de Desenho Brasileiro: um mobiliário que valorizava materiais e técnicas nacionais, como o couro, a palhinha e o jacarandá. Ideias em perfeita sintonia com o projeto do Palácio Itamaraty, que conserva muito das suas obras.
Amigo de JK
Anapolino de Faria e nasceu em 1921, em Anápolis e, em sua juventude, estudou medicina no Rio de Janeiro. Lá, conheceu Dulce de Faria, com quem foi casado pela vida inteira. Retornando a sua cidade, se engajou na política: foi deputado, vereador e prefeito por duas vezes (1983-1985 e 1989-1992). Fundou o Jóquei e o Lions Club de Anápolis.
Nos anos 1960, conheceu Juscelino Kubitschek e acabou se tornando amigo do então presidente. JK ia sempre à cada de Anapolino e tinha até um quarto para se hospedar quando o visitava. Juscelino apresentou Niemeyer a Anapolino – o arquiteto acabou se tornando amigo dele também. Após a construção do imóvel, Niemeyer apresentou Sergio Rodrigues ao dono da casa.
Anapolino morreu em 2008, com 87 anos. Sua mulher, em 2010. A casa ficou de herança para os filhos, que a colocaram à venda.
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