U2 esteve duas vezes em Brasília, onde fez turismo

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O baixista Adam Clayton e o vocalista Bono, do U2, visitam a Catedral de Brasília. Foto de Gustavo Moreno (8/4/2011)

Depois de seis anos e pela nona vez, a banda irlandesa U2 volta ao Brasil para quatro shows em São Paulo — quinta (19), sábado (21), domingo (22) e quarta-feira (25) —, no estádio do Morumbi. Dessa vez, a passagem faz parte da turnê comemorativa dos 30 anos do álbum mais conhecido do grupo, The Joshua Tree (1987).

Além de São Paulo, só o Rio de Janeiro (em 1998, na turnê Pop Mart) recebeu o U2. No entanto, apesar de nunca terem se apresentado em Brasília, os irlandeses daquela que é considerada uma das maiores bandas da história mundial admiram a história e a arquitetura da capital, onde estiveram duas vezes.

A primeira, em 2006, o vocalista Bono veio só, para um compromisso oficial. Ele doou ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma guitarra para o programa Fome Zero, em um encontro na Residência Oficial da Granja do Torto.

De dentro do carro, Bono, líder do U2, acena para fãs brasilienses. Fotos de Breno Fortes (19/2/2006)

Bono voltou a Brasília. E dessa vez trouxe os outros três integrantes da banda. Antes do encontro oficial com a presidente Dilma Rousseff, o quarteto fez um tour pela capital. Conheceu alguns dos principais monumentos e surpreendeu os fãs, parando para fotografias e autógrafos.

Entrevistas exclusivas

Em ambas as visitas, consegui entrevistas exclusivas com Bono. Na primeira, quando saía da Base Aérea, em um carro, na companhia de dois seguranças e do então ministro Cultura, Gilberto Gil. O líder do U2 pediu para o veículo parar, desceu e conversou comigo e posou para fotos com meia dúzia de fãs que faziam plantão no principal acesso da área militar.

Bono, líder do U2, desce do carro para conversar com fãs, em frente à Base Aérea de Brasília. Foto de Breno Fortes (19/02/2006)

Na segunda, em 8 de abril de 2011, eu e um colega fotógrafo acompanhamos, com exclusividade, o passeio da banda pela Esplanada dos Ministério. Bono me concedeu uma rápida, mas emocionante entrevista. Entre outras coisas, ele falou sobre a importância de Oscar Niemeyer para a arquitetura mundial e o recente massacre de crianças em uma escola do Rio de Janeiro.

O guitarrista The Edge e o vocalista Bono, do U2 visitam a Catedral de Brasília. Foto de Gustavo Moreno (8/4/2011)

Mesmo sem estar no roteiro da turnê mundial da banda, Brasília foi a primeira parada do U2 no Brasil em 2011, onde a bandaria faria shows, em São Paulo. O grupo desembarcou na Base Aérea, vindo de Buenos Aires (Argentina), onde fez três apresentações na semana anterior. Em duas vans, escoltadas por três carros particulares e motociclistas da Polícia Militar do Distrito Federal, os músicos, assessores e apenas quatro seguranças seguiram pela L4 Sul. Mas, em vez de pegar a pista que leva ao Palácio da Alvorada, onde Dilma esperava a banda para o almoço, a comitiva fez um retorno e foi em direção à Esplanada dos Ministérios.

Reza na Catedral

A carreata parou em frente ao Palácio do Planalto para ver o prédio desenhado por Niemeyer, mas ninguém desceu. A parada seguinte ocorreu na Catedral Metropolitana. Acompanhados só pelos quatro seguranças particulares e pela equipe do Correio, o vocalista Bono, o guitarrista The Edge, o baixista Adam Clayton e o baterista Larry Mullen Jr. deixaram a van e ficaram admirando outra obra de Niemeyer. Logo, duas turistas capixabas perceberam a presença das estrelas. “Não acredito, não acredito. Moço, aquele é o Bono do U2!?”, indagou ao repórter Priscila de Alcântara, 28 anos.

Educadamente, Bono pediu à moça e à amiga, afoitas por uma foto e um autógrafo, para esperá-lo do lado de fora da Catedral. “Vou rezar e volto”, avisou. Ao lado de The Edge, Bono desceu a rampa da Catedral. No caminho, o guitarrista se abaixou para deixar notas no chapéu segurado por uma mendiga e disse algo a ela. A mulher agradeceu, em português. Assim que entraram no tempo, Bono Vox e The Edge olharam para os vitrais e não esconderam o deslumbramento. O vocalista se ajoelhou perto de um dos bancos e orou por cerca de dois minutos.

Elogio a Niemeyer

Na saída, encontram Priscila e outros sete fãs, que estavam ali por acaso e acabaram trombando com os ídolos. Atenderam todos os pedidos de autógrafo e fotos. Como bons turistas, Bono Vox e o baixista Adam Clayton ainda pediram ao fotógrafo do Correio para registrar uma imagem de ambos em frente à Catedral. Em seguida, o líder da banda atendeu o pedido de entrevista do repórter. Primeiro, falou do motivo do tour pela capital.

“Sempre ouvi falar de Brasília por causa das obras de Oscar Niemeyer. Sempre quis conhecer as obras desse arquiteto. Não consegui fazer isso há cinco anos. Mas hoje está sendo um belo dia, pois trouxe todos os amigos (da banda)”, ressaltou Bono.

Em tom sereno, Bono falou também sobre as mortes de 11 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro: “Não tenho muito a dizer. Dizer o quê? É difícil dizer algo perante uma barbárie como essa. Estou muito triste, como o seu país todo deve estar”. Depois, adiantou que a banda prepara uma homenagem às vítimas da tragédia na escola carioca. “Sim, estamos pensando em algo. Não sabemos direito o que será, mas faremos uma homenagem.”

Da Catedral, o grupo foi até o Congresso Nacional, mas, novamente, não desceu ninguém dos veículos, pois eles estavam atrasados para o encontro com Dilma.

Combate à Aids

Não só a presidente esperava pelo U2. Cerca de 100 fãs da banda faziam plantão em frente ao Palácio da Alvorada, ao lado de um grupo de quase 30 jornalistas. Ao avistarem a escolta, por volta das 12h45, os seguidores do grupo irlandês começaram uma gritaria. Ninguém deixou os veículos, mas, de dentro de uma das vans, Bono acenou, para o delírio dos tietes.

Bono, do U2 distribui autógrafos aos fãs, em frente ao Palácio do Alvorada. Foto de Gustavo Moreno (8/4/2011)

Além de liderar o U2, Bono comanda a Fundação One, que arrecada fundos para a compra de medicamentos contra o vírus da Aids e a malária na África. E foi sobre esses temas que ele conversou com a presidente Dilma, além da erradicação da pobreza — de acordo com o blog do Palácio do Planalto, o músico disse a ela que todo presidente deveria priorizar o combate à miséria.

Após apresentar os colegas de banda a Dilma, o vocalista irlandês lamentou a tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, RJ. “Esse é um dia muito triste para o Brasil”, disse à presidente, conforme vídeo divulgado no blog oficial da Presidência da República. Nenhum repórter teve acesso ao encontro, que durou duas horas e meia. Cinegrafistas e fotógrafos entraram no palácio apenas para rápidas imagens da banda com Dilma.

No meio do povo

Fora do palácio, o número de fãs só aumentava. Além de adultos, havia adolescentes e até bebês, levados pelos pais. E ainda mais de 150 crianças de duas escolas, em uma excursão cívica por Brasília. Todos berraram juntos assim que a comitiva do U2 cruzou os portões do Alvorada. Mesmo diante da multidão, os músicos não se acanharam e desceram das vans, para desespero dos seguranças particulares e da presidência. Na medida do possível, Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr., atenderam todos os fãs.

Integrantes do U2 se dirigem aos fãs, em frente ao Palácio da Alvorada. Foto de Gustavo Moreno (8/4/2011)
Renato Alves

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