Meu quintal queimou e eu não pude dizer nada. Brasília queima.

Publicado em Todo dia
Fumaça da queimada de Brasília em setembro de 2024.

Por Tagore Alegria

No poema Caminho de Maiakovsky do escritor brasileiro Eduardo Alves da Costa, o sentimento de impotência diante da inação frente ao errado é tão poderoso que ficou marcado em minha vida. Por muito tempo, evitei discussões políticas que considerava inócuas, acreditando que não havia como mudar o mundo.

Mas ontem, tudo mudou. Acordei à 1h da manhã com a sensação de que minha casa estava pegando fogo. Toda a casa estava cheia de fumaça. Minha esposa e filhos acordaram assustados, e demoramos até entender que a nossa casa não estava em chamas. Ao constatar que também não havia incêndio nas casas vizinhas, percebemos que era uma queimada de proporções que nunca havia testemunhado em Brasília, em meus 46 anos.

O Desespero Diante da Crise Ambiental

Ficamos acordados até a hora do café, e nesse meio tempo surgiram várias perguntas: como sobreviver a algo assim? Como impedir que isso se repita? É sabido por todos que esses incêndios são, em sua maioria, criminosos. No entanto, a repetição desses atos aponta para algo ainda mais grave: a falta de consciência social e ambiental que permeia nossa sociedade. É inacreditável que, em 2024, pessoas ainda joguem lixo no chão, descartem bitucas de cigarro em áreas públicas ou causem queimadas intencionalmente.

Essa falta de consciência é fruto de uma crise maior, que vai além dos atos individuais. Vivemos uma crise política e moral. A polarização política não nos traz soluções concretas, enquanto o meio ambiente queima e a sociedade adoece. Estamos todos no mesmo barco, mas nossos representantes estão ocupados remando em direções opostas, sem perceber que o incêndio não escolhe lados.

As Soluções Existem, Mas São Ignoradas

O mais frustrante é que as soluções para esse problema são conhecidas. Hoje, conversei com um servidor aposentado do ICMBio, que me explicou que todos os focos de incêndio são monitorados em tempo real. A solução seria simples: aplicar multas pesadas aos donos das terras onde os incêndios começam. Mexer no bolso é uma forma eficaz de educar.

Porém, isso raramente acontece. Será que esses proprietários têm ligações políticas que os protegem de sanções? É quase impossível ver um deputado distrital ou qualquer representante local abordar seriamente esse problema. As medidas preventivas são deixadas de lado, enquanto enfrentamos os efeitos devastadores das queimadas na saúde pública e no meio ambiente.

Não Podemos Mais Ignorar

A realidade é que não podemos mais nos dar ao luxo de ignorar essa situação. Os incêndios afetam a saúde de todos nós, provocando doenças respiratórias, como o câncer de pulmão, entre outras complicações. Se nossos representantes não agem, precisamos cobrar e exigir mudanças. A inércia política e administrativa, somada ao descaso ambiental, está nos matando lentamente. Não podemos mais nos calar, enquanto nossos entes queridos sofrem com as consequências de uma gestão incompetente e conivente com interesses obscuros.

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