A cultura abre espaço para todos os negócios. Certa vez, meu pai, Victor Alegria — editor português — me disse isso. Hoje, concordo plenamente.
Recentemente, participei de uma iniciativa que, acredito, seja quase inédita no Brasil ou, pelo menos, muito pouco explorada: um gesto de preservação histórica que também pode dialogar com o turismo literário e o turismo cultural.

Juntamente com o escritor Carlos Magno de Melo — autor com mais de 18 livros publicados — e com meu pai, editor da Thesaurus Editora foram oito títulos, que publicou a maioria de suas obras, tivemos a ideia de instalar uma placa em homenagem ao nascimento do autor, na casa onde ele nasceu, em sua cidade natal: Piracanjuba, Goiás. A residência já não pertence à sua família, mas, com a autorização do atual morador, conseguimos eternizar aquele espaço como parte da memória goiana. Um gesto simbólico, mas de grande importância para a valorização da nossa literatura.

Pode parecer um gesto pequeno, talvez até vaidade para alguns. Mas quem já caminhou por Lisboa e viu a estátua de Fernando Pessoa, ou visitou a casa de Walt Whitman nos Estados Unidos, ou ainda a casa de Anne Frank em Amsterdã, ou a de Freud em Viena — entre tantas outras espalhadas pela Europa — entende o quanto esse tipo de memória tem valor. No Brasil, raramente usamos nossa produção literária como força para o turismo, para o fortalecimento da identidade cultural e para a criação de experiências que celebrem nossos autores e suas histórias.
Precisamos olhar com mais admiração para os nossos escritores e perceber que eles também merecem ser celebrados em sua terra natal — não apenas nos livros, mas também no espaço urbano e na memória coletiva.
Recentemente, fui a Diamantina, interior de Minas Gerais, para visitar a casa de Juscelino Kubitschek e doar diversos livros que publicamos sobre Brasília e sobre o próprio JK. Entre os autores dessas obras estão Afonso Heliodoro dos Santos, Jacinto Guerra, Manoel Mendes, Adirson Vasconcelos, entre outros. Foi uma viagem pela nossa história — e, sem dúvida, uma verdadeira aula de brasilidade.
Quem sabe, se essa ideia se espalhar, veremos mais escritores deixando suas marcas não só nas páginas dos livros, mas também nos muros das casas, nos prédios, nas praças. Estaremos assim estimulando o reconhecimento da nossa cultura e confirmando o que Victor Alegria disse: a cultura abre as portas para um mundo de possibilidades.
Conheça alguns livros do autor Carlos Magno de Melo publicados pela Thesaurus Editora de Brasília.
Escrito por Tagore Alegria.

