A literatura invísivel de Brasília

Publicado em Cultura

Por Tagore Alegria

Há uma narrativa que permeia Brasília, uma narrativa que não é contada pelos grandes holofotes da mídia, mas sim pelas vozes silenciosas que ecoam nas páginas de livros pouco lidos ou nas memórias de quem construiu a capital. Durante anos, vejo histórias sendo publicadas sobre essa cidade através dos olhos de cidadãos comuns – homens e mulheres que ajudaram a erguer a capital brasileira e, ainda assim, permanecem anônimos.

Brasília sempre carregou um estigma político. Para muitos, a cidade é o centro do poder, da burocracia, dos escândalos. Mas existe outra face dessa cidade que precisa ser vista: a de sua gente, a de seus candangos. Esses trabalhadores, que vieram de diversas partes do país em busca de uma vida melhor, são os verdadeiros construtores não só da arquitetura, mas também da cultura e da alma de Brasília. Infelizmente, suas histórias são muitas vezes negligenciadas.

Nesta terça-feira, no Café Histórico do Instituto Histórico e Geográfico do DF, dia 8 de outubro de 2024, às 19h, convido você, escritor ou apaixonado pela história de Brasília, a entender a literatura “invisível” de Brasília. O escritor e pesquisador Hugo Studart, em sua palestra “Por Uma Historiografia dos Candangos”, aponta para a importância de se dar voz a essas narrativas. Ele propõe o uso das teorias de Walter Benjamin e Paul Ricœur como ferramentas para resgatar essas histórias esquecidas, que deveriam compor a verdadeira identidade de nossa cidade. A proposta é ousada e curiosa, e vale sua presença.

A visão de editor

Do meu lado como editor, acredito que a literatura precisa ter um papel de destaque nesse processo. A função de uma editora vai além de simplesmente colocar palavras no papel; ela deve servir como um funil de ideias, experiências e liberdade de expressão, garantindo que essas histórias alcancem novos públicos e permaneçam vivas. Como um popular meme da internet diz, o livro ainda é o meio mais tecnológico que existe para guardar informação – é a eternidade impressa.

Publicar as narrativas dos candangos e dar visibilidade a essas vozes esquecidas é crucial para resgatar a identidade de Brasília e desfazer o estigma político que por tanto tempo obscureceu a verdadeira essência da cidade. A literatura de Brasília não é invisível – ela só precisa ser ouvida.

E Brasília merece isso. A cidade não é apenas o centro político do Brasil; é um lugar construído por sonhos, suor e esperança. Precisamos conhecer a face humana de Brasília, aquela que vai além dos palácios de concreto e se revela nas histórias de sua gente.

A verdadeira Brasília, aquela que é a melhor cidade do Brasil, está nas mãos daqueles que ousam contar suas histórias. É nosso dever, como leitores e editores, assegurar que essas vozes cheguem ao mundo.

Na terça-feira, Hugo e o Instituto permitiram que expuséssemos alguns livros que foram publicados pelo meu pai, Victor Alegria, que desde 1963 publica livros na cidade. Fiz uma pequena seleção para mostrar que já temos muita história para contar em Brasília.

Data: 8 de outubro de 2024 – terça-feira – 19h
Local:
Instituto Histórico Geográfico do Distrito Federal
SEP/Sul, EQ 703/903, conj. C, Brasília – DF

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