O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, usa um estratagema simples para lidar com selfies de eleitores. Se não conhece a pessoa, jamais dá um sorriso. Exibe o vasto bigode, mas jamais os dentes. É uma precaução para a eventualidade de o sujeito aparecer nos jornais e tevês envolvido em escândalo. É óbvio que isso não o livra de eventuais constrangimentos.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, exibe sempre o vasto sorriso. Não tem a mesma preocupação, se julga blindado pelo próprio carisma. Sem nenhum constrangimento, por exemplo, posou para foto com o ex-prefeito Paulo Maluf e o então candidato à Prefeitura de São Paulo Fernando Haddad. Para desespero dos adversários, a foto não teve nenhum impacto eleitoral negativo e a aliança ajudou a eleger o petista, quando nada por causa do tempo de televisão do PP.
Agora, tudo mudou. Com exceção dos petistas e dos aliados de primeira hora, os mesmos políticos que bajulavam Lula já não querem posar para fotografias ao seu lado. Evitam sua companhia sempre que possível. É o que estão chamando no PMDB de “Efeito Maricá”. Uma alusão à divulgação da conversa por celular do prefeito carioca Eduardo Paes com Lula, interceptada pela Polícia Federal no dia de sua “condução coercitiva”. O episódio foi devastador para a imagem do peemedebista, que desabou nas pesquisas.
Essa constatação está por trás do desembarque de Eduardo Paes do governo Dilma, juntamente com o PMDB fluminense. Essa posição já vinha sendo defendida nos bastidores pelo ex-governador Sérgio Cabral, diante da crise econômica e do humor das ruas, mas o prefeito resistia, sobretudo por causa das Olimpíadas. Constatou, porém, que a companhia do PT e de Lula tira votos. Confirmou-se a avaliação do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, que trocou o PT pelo PV porque as pesquisas mostravam que sua aprovação nas pesquisas desabava de 40% para 15% quando seu nome era associado ao partido.
Essa avaliação, porém, não se restringe ao prefeito do Rio. Começa a se generalizar no PMDB e entre os “companheiros de viagem”do PT no governo Dilma. Vem daí a dificuldade enfrentada por Lula para rearticular a base do governo. Seu objetivo, tão somente, é reunir mais de 171 votos entre os 513 deputados da Câmara para barrar o impeachment. Está difícil.
O diálogo entre Paes e Lula:
Lula: Alô!
Eduardo Paes: Meu amigo!
Lula: Querido prefeito, tudo bem?
Eduardo Paes: “Cê” não precisa de solidariedade, mas tô ligando pra te dar um abraço. Dizer que tô contigo nesse absurdo aí que fizeram com o senhor na sexta-feira. É um escândalo. É uma vergonha.
Lula: Obrigado, querido.
Eduardo Paes: Tem que ter muita carcaça. Seu posicionamento foi excepcional. Tem que parar com essa palhaçada no Brasil. Tá demais mesmo. Passou de todos os limites, Presidente.
Lula: Todos os limites! Isso é verdade. Passou dos limites.
Eduardo Paes: Esse negócio do Delcídio então. Eu falo até pelo meu caso aqui que eu vi na suposta delação premiada dele. Esse negócio de acordo na CPI né.
Lula: O Delcídio foi uma vergonha!
Eduardo Paes: É livro de memória que o cara fica…Vira delação premiada é ficar fazendo livro de memória entendeu?
Lula: É isso.
Eduardo Paes: Ah, porque teve uma conversa. E assim, a conversa (ininteligível). Eu e o….. Como é o nome do relator, sei lá, a porra do deputado do PMDB, fica tentando convencer o ACM Neto que não tinha prova nenhuma contra o “seu” filho. Que tinha que tirar o nome do relatório senão não votava aquele negócio, entendeu? Como é que ia fazer um negócio sem prova nenhuma. Eu me lembro direitinho desse negócio. E o cara conta como se fosse um escândalo, entendeu? Uma coisa que eu mesmo já falei quinhentas vezes pra imprensa.
Lula: Um bando de filha da puta, Eduardo. Eu vou contar uma coisa pra vc.
Eduardo Paes: Foda.
Lula: Olha, deixa eu lhe falar uma coisa. Esses meninos da Polícia Federal e esses meninos do Ministério Público, eles se sentem enviado de Deus.
Eduardo Paes: É, mas eles são todos crentes. Os caras do Ministério Público são crentes né.
Lula: É uma coisa absurda. Uma hora nos vamos conversar um pouco porque eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles pra tentar colocá-lo no seu devido lugar. Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem que ter regras.
Eduardo Paes: É. Não. Passou de todos os limites mesmo. A gente fica com medo de conversar com as pessoas agora.
Lula: Lógica porra!
Eduardo Paes: Eu tô cheio de obra aqui. Odebrecht da vida, OAS, de todas essas empreiteiras. Eu fico com medo. O cara pede pra eu receber, eu fico com medo de receber.
Lula: É lógico. Porque agora toda obra. Esses caras têm quinhentas obras nesse país. Todas elas estão criminalizadas. Ah, vai tomar no cú porra.
Eduardo Paes: É foda. Não. “Cê” vê, o próprio Delcídio. O cara era presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, eu fui conversar com ele lá um dia, aí ele vai fazer lá o negócio dele lá com o tal do Cerveró, com o filho do Cerveró, depois de conversar comigo. Daqui a pouco eu tô no meio daquela história. É um negócio de doido.
Lula: (risos) É isso, querido.
Eduardo Paes: Eu vou me trancar em casa porra. Eu não converso mais com ninguém.
Lula: É isso, querido.
Eduardo Paes: Mas óh, meu amigo, falando sério eu tô aqui do teu lado.
Lula: Obrigado.
Eduardo Paes: Conta comigo aqui. O senhor sabe da minha gratidão, da minha admiração.
Lula: Obrigado, querido.
Eduardo Paes: Aqui o senhor tem um soldado. Tô aqui administrando as minhas crises também. Segurando (ininteligível). Eu sempre tenho que falar uma coisa pro senhor: a minha vida começou com Lula e Cabral. Terminou com Dilma e Pezão. Puta que me pariu!
Lula: (Risos)
Eduardo Paes: O senhor não faz ideia de como eu tô sofrendo. É uma foda!
Lula: Mas você com todo o problema, querido, você ainda tá, é abençoado por Deus por causa dessa Olimpíadas, viu, Porque os outros…
Eduardo Paes: É verdade! Verdade.
Lula: Os outros prefeitos que eu converso “tão fudido”…
Eduardo Paes: Verdade. Verdade. Mas, presidente, se tiver Olimpíadas com Vossa Excelência e com Sergio Cabral é uma coisa. Segurar com aquele bom humor da Dilma e do Pezão sabe…
Lula: Não é fácil, querido.
Eduardo Paes: Sabe aquele personagem que tinha…
Lula: Mas o teu bom humor e a tua competência superam isso, querido.
Eduardo Paes: Foda. Mas “tamo junto” aí, Presidente.
Lula: Tá bom. Obrigado, querido.
Eduardo Paes: (Ininteligível) … meu carinho aí, “tamo junto”. Minha solidariedade, vamos em frente nessa história. Agora, da próxima vez o senhor me para com essa vida de pobre, com essa tua alma de pobre comprando “esses barco de merda”, “sitiozinho vagabundo”, puta que me pariu!
Lula: (Risadas)
Eduardo Paes: O senhor é uma alma de pobre. Eu, todo mundo que fala aqui no meio, eu falo o seguinte: imagina se fosse aqui no Rio esse sítio dele, não é em Petrópolis, não é em Itaipava. É como se fosse em Maricá. É uma merda de lugar porra!
Lula: (Risos)
Eduardo Paes: Esse barquinho dele é em São Pedro da Aldeia, Araruama. Não é em Búzios nem Angra porra!
Lula: (risos) Puta que o pariu!
Eduardo Paes: É um cafona. O senhor não perdeu essa sua alma de pobre. Isso que é a maior desgraça que eu tô vendo nesse processo todo porra. (risos)
Lula: É isso. É isso. Mas eu já sabia disso. Tá bom, querido. Obrigado, Eduardo.
Eduardo Paes: Qualquer coisa me liga aí, Presidente. Um forte abraço.
Lula: Muito obrigado, meu querido.
Eduardo Paes: Valeu. Tchau, tchau.
Lula não consegue sustentar medidas econômicas impopulares, porém necessárias, ainda que em médio e longo…
Essa foi a primeira troca da reforma ministerial que está sendo maturada no Palácio do…
Lula não precisou adotar uma dura política recessiva no primeiro ano de governo, porém se…
Agora, às vésperas de tomar posse, Trump choca o mundo com uma visão geopolítica expansionista…