A Operação Lava Jato, assim batizada por causa de um posto de gasolina de Brasília usado para distribuir propina a políticos, exerce o papel de “efeito borboleta”
A divulgação de planilhas de supostas doações a cerca de 316 políticos de 24 partidos apreendidas há cerca de um mês na casa do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ontem, foi o assunto do dia nos meios políticos e jurídicos. Foram apreendidas na chamada Operação Acarajé, que investiga a atuação do marqueteiro das campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e da presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. As planilhas não descem aos detalhes das que foram divulgadas pela força-tarefa da Operação Lava-Jato na terça-feira, nas quais constam nomes de recebedores, valores, locais e datas de entrega.
O barulho foi tão grande que o juiz federal Sérgio Moro, imediatamente, decretou o sigilo dos documentos – puro leite derramado – e tratou de minimizar sua importância. “Aparentemente, na residência de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, foram apreendidas listas com registros de pagamentos a agentes políticos. Prematura conclusão quanto à natureza desses pagamentos. Não se trata de apreensão no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e o referido Grupo Odebrecht realizou, notoriamente, diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos”, despachou.
Os apelidos atribuídos a alguns dos políticos citados foram a parte divertida da história: o ex-presidente José Sarney (PMDB) é o “Escritor”; os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), “Caranguejo” e “Atleta”, respectivamente. O prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB) é o “Nervosinho”. O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), é o “Drácula”; e a deputada estadual Manuela d’Ávila (PCdoB-RS), foi apelidada de “Avião”. Todos alegam ter recebido doações legais da Odebrecht.
Mesmo assim, surgiram no Congresso as teorias conspiratórias. Governistas dizem que o vazamento foi uma tentativa de criar constrangimento para o ministro Teori Zavaski. Oposicionistas suspeitam que a planilha tenha sido divulgada para implodir a força-tarefa da Operação Lava-Jato, uma vez que o novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, em entrevista, ameaçou mudar a equipe em caso de vazamentos. É possível que o encarregado de anexar os documentos apreendidos aos autos do processo tenha esquecido de vedar com tarja preta os nomes dos políticos com foro especial. Como o processo é público, a planilha estava disponível para quem quisesse examinar o material no E-proc, o sistema eletrônico da Justiça Federal.
Qualquer que seja a razão, a Operação Lava-Jato ameaça implodir o establishment político do país. O presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro negociam as respectivas delações premiadas com o Ministério Público Federal. Podem ter adotado a “teoria do caos”, do físico norte-americano James Yorke, que se baseou nos estudos do meteorologista norte-americano Edward Lorenz, do Massachussets Institute of Technology (M.I.T.).
Segundo essa teoria, com apenas três variáveis – temperatura, pressão atmosférica e velocidade dos ventos –, por meio de equações matemáticas, é possível fazer previsões do tempo e comprovar que pequenas causas podem provocar grandes efeitos, independentes do espaço e do tempo. Lorenz, porém, demonstrou o determinismo do caos. Um sistema caótico não é aleatório e nem desordenado, pois existe uma ordem, e um padrão no sistema como um todo. Suas equações permitem que as pessoas passem a ver ordem e padrão onde antes só se observava a aleatoriedade, a irregularidade e a imprevisibilidade.
O caos pode ser definido como um processo complexo, qualitativo e não-linear, caracterizado pela aparente imprevisibilidade de comportamento e pela grande sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais de um sistema dinâmico. Com base nela, o Prêmio Nobel de Química Ilya Prigogine (1917-2003), estudioso da termodinâmica, concluiu que a “ordem e organização podem surgir de modo ‘espontâneo’ da desordem e do caos, produzindo novas estruturas, por meio de um processo de auto-organização”. Talvez seja isso que esteja por acontecer com a política brasileira. A Operação Lava Jato, assim batizada por causa de um posto de gasolina de Brasília usado para distribuir propina a políticos, exerce o papel de “efeito borboleta”.