Lula queria a troca do ministro da Justiça para se proteger em relação à Operação Lava-Jato, que avança em sua direção com a prisão do marqueteiro João Santana
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não aguentou a pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demais investigados pela Operação Lava-Jato e pediu demissão. Foi substituído pelo ex-procurador-geral de Justiça da Bahia Wellington César Lima e Silva. A mudança parece piada pronta: consolidou o poder do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, que passou a ser a eminência parda do Palácio do Planalto. Segundo a oposição, o governo Dilma Rousseff virou a República do Acarajé, uma alusão ao poder dos baianos na Esplanada e à última etapa da Operação Lava-Jato, batizada com o nome do quitute famoso. A mudança era uma exigência antiga de Lula, à qual a presidente Dilma Rousseff resistia.
Cardozo havia anunciado o desejo de deixar o ministério no ano passado. Era o único remanescente da coordenação de campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 que permanecia no governo. O ex-presidente do PT José Eduardo Dutra, já falecido, teve um colapso nervoso antes da posse; e o ex-ministro Antônio Palocci, no primeiro mandato, não chegou a esquentar a cadeira na Casa Civil, da qual foi ejetado por ter ganhado muito dinheiro com consultorias durante as eleições.
A saída de Cardozo foi confirmada na manhã de ontem pelo Palácio do Planalto, que anunciou a ida de Cardozo para a Advocacia-Geral da União, no lugar do ministro Luiz Inácio Adams, que deixa a administração federal. No novo cargo, poderá atuar na defesa do governo nos tribunais superiores e comandar a blindagem legal de Dilma, que enfrenta pedido de impeachment na Câmara e investigações de cassação de mandato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A mudança repercutiu fortemente no Congresso. Petistas e aliados investigados pela Operação Lava-Jato comemoraram a saída de Cardozo, que era acusado de omissão em relação a supostos excessos cometidos pela Polícia Federal. Agora, querem a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, e sua substituição por um delegado ligado ao PT.
A substituição vinha sendo trabalhada pelo ministro Jaques Wagner desde o ano passado, quando sugeriu o nome de Wellington César pela primeiravez. Embora pouco conhecido pela opinião pública, o procurador baiano tem fama de ter bom trânsito com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A mudança na área jurídica do governo foi complementada pela nomeação de Luiz Navarro para a Controladoria-Geral da União (CGU). Funcionário de carreira, comandará a negociação dos acordos de leniência com as empresas investigadas pela Operação Lava-Jato.
Rendição
A troca de ministro da Justiça representa a rendição final da presidente Dilma Rousseff às exigências de Luiz Inácio Lula da Silva para continuar apoiando o seu governo. O ex-presidente derrubou os três ministros mais importantes da equipe anunciada após a reeleição. O primeiro foi o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, responsabilizado pela desarticulação da base política no Congresso e substituído por Wagner. Dilma mandou-o de volta para o Ministério da Educação, pasta que ocupara no primeiro mandato.
O segundo defenestrado foi o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, substituído por Nélson Barbosa depois do fracasso do ajuste fiscal, sabotado pelo PT dentro do governo e no Congresso. A troca de guarda não encerra, porém, o conflito entre Dilma e Lula. A cúpula do PT, inclusive, apresentou um programa alternativo ao do governo na festa de 39 anos da legenda, sábado, no Rio de Janeiro, à qual Dilma não compareceu para evitar constrangimentos.
Lula queria a troca do ministro da Justiça para se proteger em relação à Operação Lava-Jato, que avança em sua direção, inexoravelmente, principalmente depois da prisão do marqueteiro João Santana. O ex-presidente está com medo de ser preso. Ontem, entrou com habeas corpus preventivo no Tribunal de Justiça de São Paulo para evitar um mandado de condução coercitiva para depor sobre o tríplex do Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP), cuja propriedade nega ser sua. Também recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que o Ministério Público Federal continue a investigar o caso do sítio, que será relatado pela ministra Rosa Weber.
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