Quanto pior, pior mesmo

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, antecipou que pretende prorrogar o auxílio emergencial caso a pandemia de COVID-19 tenha uma segunda onda

As eleições de domingo já estão razoavelmente desenhadas nas pesquisas de opinião, principalmente no chamado Triângulo das Bermudas — Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte —, que revelam opções prudentes dos eleitores. Estão preferindo manter os prefeitos Bruno Covas (PSDB), em São Paulo, e Alexandre Kalil(PSD), em Belo Horizonte, e trazer de volta o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), diante da desastrosa administração do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro.

Com exceção de Kalil, que deve ser eleito no primeiro turno — está com 63% de intenções de votos, contra João Vitor Xavier (Cidadania), que tem 8%, em segundo —, Covas e Paes provavelmente terão que suar a camisa no segundo turno, principalmente se os adversários forem Marta Rocha (PDT) e Guilherme Boulos(PSOL), respectivamente. Num balanço rápido pelas capitais, as expectativas de que o presidente Jair Bolsonaro teria influência decisiva nas eleições se confirmaram com o sinal trocado: está puxando os candidatos que apoia para baixo.

Os melhores exemplos são Celso Russomano, que liderava em São Paulo, cuja candidatura desidratou completamente e está fora do segundo turno. E a Delegada Patrícia (Podemos), no Recife, que parecia ir para o segundo turno contra o líder nas pesquisas, João Campos (PSB), mas, a partir do apoio de Bolsonaro, também definhou. Marília Arraes (PT) e Mendonça Filho (DEM) disputam o segundo lugar. Ontem, pesquisa DataFolha mostrou o porquê de o apoio de Bolsonaro se tonar tóxico nessas disputas eleitorais: sua rejeição aumentou muito, chegando a 50% em São Paulo.

Bolsonaro havia sido aconselhado a somente se definir no segundo turno, buscando aliança com um dos dois candidatos em confronto, mas não resistiu ao apelo de alguns aliados e resolveu meter a colher na sopa das capitais, entornando o caldo. Agora, no segundo turno, terá dificuldades para fazê-lo, pois é muito provável que essa aproximação seja considerada desvantajosa eleitoralmente. Quem mais vai querer um apoio que pode tirar mais votos do que transferir? Tudo bem que o segundo turno é outra eleição, mas suas tendências principais estão dadas. Uma delas é de que os eleitores está rejeitando aventuras quando têm opções mais razoáveis.

As dificuldades de Bolsonaro nas eleições estão diretamente relacionadas à pandemia do novo coronavírus e às altas taxas de desemprego, sem que haja um horizonte seguro para a maioria da população, afora as bobagens que faz e fala. E ao fato de que R$ 300 de auxílio emergencial não são a mesma coisa que R$ 600, ainda mais com a inflação de alimentos. O auxílio dado a mais de 60 milhões de pessoas que perderam a fonte de renda havia alavancado a popularidade de Bolsonaro, mas sua redução parece estar neutralizando esse efeito. O projeto de Renda Cidadã, que Bolsonaro quer implantar para atender essa demanda popular, não tem fonte de receita ainda, ou seja, subiu no telhado.

Pandemia

Entretanto, numa reunião com empresários do setor de abastecimento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, antecipou que pretende prorrogar o auxílio emergencial caso a pandemia tenha uma segunda onda. Os sinais de que isso pode acontecer não vem apenas do Reino Unido, França, Itália e Espanha; nos hospitais particulares de São Paulo e do Rio Janeiro, o número de casos voltou a aumentar neste começo de semana. O relaxamento da política de isolamento social, principalmente com a reabertura dos bares, os bailes funk e a volta ao trabalho presencial, pode ter algum impacto nisso, mas não se deve desconsiderar a campanha eleitoral. Nestas últimas semanas, os candidatos que não estavam com covid-19 foram para o corpo a corpo com o eleitor.

Além disso, o presidente Bolsonaro faz tudo o que pode para atrapalhar a vida dos profissionais de saúde que lutam contra a pandemia. A última foi comemorar a morte de um dos voluntários da pesquisa da vacina CoronaVac, de procedência chinesa, que está sendo realizada pelo Instituto Butantã, de São Paulo. Bolsonaro culpou a vacina, mandou a Anvisa suspender a pesquisa, mas a agência teve que voltar atrás quando ficou comprovado que a causa da morte foi suicídio, por meio de sedativos fortíssimos, e não a vacina. O presidente da República não percebeu ainda que a conta da pandemia está chegando para ele também.

É aí que chegamos ao quando pior, pior. A situação da economia emite sinais preocupantes de deterioração, por causa do aumento da dívida pública, que já está em 100% do PIB, e as dificuldades para rolar essa dívida sem a venda de títulos públicos de curto prazo, com juros duas ou três vezes maiores do que a taxa Selic, que é de 2%. O ministro Guedes ainda não sabe o que fazer para fechar as contas públicas e criar o Renda Cidadã, sem romper o Teto de Gastos, a balisa do mercado financeiro para não entrar em estado de emergência. Quanto fala na segunda onda, aposta no quanto pior, melhor, porque a dívida pública explodirá de vez e, aí sim, se nada for feito para restabelecer o equilíbrio fiscal, vamos ingressar num cenário de hiperinflação.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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