O mais grave foi a revelação de que Lula teria orientado Léo Pinheiro a destruir provas que pudessem incriminá-lo na Operação Lava-Jato
A candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas de opinião mais recentes, está sendo volatilizada pela Operação Lava-Jato, que já abateu as pretensões dos senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), enquanto o prefeito de São Paulo, João Doria Júnior (PSDB), ofusca a do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Lula manteve-se como favorito graças à estratégia de enfrentamento com o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, a quem acusa de perseguição política. Vinha absorvendo bem os golpes e até conseguiu crescer nas pesquisas de intenção de voto, mas parece que começa a perder essa luta nos últimos rounds.
Os depoimentos de Emílio Odebrecht e de José Aldemário Pinheiro, ex-presidente da OAS, foram demolidores para a imagem de Lula. Além de causar grande desgaste, podem até levá-lo à prisão. São acusações pesadíssimas, que Lula vem negando, mas que estão sendo corroboradas por fatos e documentos, o que torna sua situação jurídica mais complicada. A candidatura de Lula é uma espécie de bote salva-vidas para todos os demais candidatos petistas. Graças a ela, o PT vem mantendo sua linha de defesa, ou seja, a narrativa do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff e o endeusamento do líder petista, que teria sido melhor presidente para o povo do que qualquer outro antecessor.
Havia até uma certa euforia dos militantes petistas com o resultado das pesquisas. Além disso, as delações premiadas da Odebrecht atingiram em cheio a imagem das lideranças do PSDB e, sem protagonismo político, a ex-senadora Marina Silva, da Rede, perdeu influência. Mas vai ser muito difícil para Lula se manter na crista da onda depois da divulgação dos vídeos dos depoimentos. Com isso, as contradições entre os petistas tendem a se acirrar, assim como o desembarque de aliados e militantes, fenômeno que, de certa forma, foi antecipado nas eleições municipais do ano passado.
O teste de força será na greve geral convocada pelas centrais sindicais para 28 de abril e nas comemorações do 1º de Maio. O PT também está preparando uma grande mobilização nacional de solidariedade a Lula, que prestará depoimento em juízo no próximo dia 3, em Curitiba, num confronto direto com o juiz federal Sérgio Moro. Essa mobilização também desperta reações contrárias na sociedade. O depoimento de Léo Pinheiro, porém, pode ter efeito direto na mobilização. Outro depoimento que pode influenciar o comportamento dos petistas é o do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, que deixou no ar, perante Sérgio Moro, que estaria disposto a falar o que sabe num acordo de delação premiada.
O tríplex
Velho sonho de consumo, o famoso tríplex do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP), que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que desistiu de comprar, pode levar o petista para a cadeia. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, de Curitiba, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, disse que o imóvel era destinado realmente ao então presidente da República. Para complicar, revelou que foi orientado por Lula a destruir provas que pudessem incriminá-lo na Operação Lava-Jato.
Réu na ação penal que envolve o tríplex, Pinheiro disse que procurou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e Paulo Okamoto quando houve a divulgação de que o imóvel pertenceria a Lula, sendo orientado a manter o imóvel em nome da OAS. O empresário revelou que o ex-presidente havia comprado cotas de um imóvel igual aos demais, mas recebeu da OAS um tríplex customizado a pedido de dona Marisa, falecida esposa de Lula.
Pinheiro disse que o tríplex tinha área três vezes maior do que a dos demais apartamentos e que seu valor era duas vezes e meia maior. Nunca foi falado que o presidente pagaria a diferença de preço. “Era um projeto personalizado”, disse.
O mais grave no depoimento de Léo Pinheiro foi a revelação de que teria sido orientado a destruir provas que pudessem incriminar Lula na Operação Lava-Jato. “Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari com vocês? Se tiver, destrua”, teria dito Lula. A denúncia põe mais lenha na fogueira do depoimento do ex-presidente.
Segundo os procuradores da Operação Lava-Jato, que investigam o superfaturamento e o desvio de recursos públicos em três contratos da Petrobras, R$ 3,7 milhões em propinas foram pagos a Lula, por meio da reserva e reforma do tríplex e do custeio do armazenamento de seus bens. Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em outra ação, responde pela compra de um terreno para a construção da nova sede do Instituto Lula e um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo, com propina da Odebrecht.