Perdida no labirinto da Lava Jato

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A presidente Dilma Rousseff esta perdida no labirinto em que se transformou a Operação Lava Jato para o Palácio do Planalto. O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), em depoimento à Procuradoria-Geral da República, acusa a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se envolverem diretamente em tentativas de barrar o avanço das investigações em relação ao governo e aos seus aliados.

A reação de Dilma Rousseff foi a troca de José Eduardo Cardoso pelo procurador baiano Wellington César Lima e Silva no Ministério da Justiça, em mais uma tentativa de obstruir as investigações, desta vez comandada pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. A mudança precipitou o vazamento da delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (PT-SP). É que força-tarefa que investiga o caso soube da intenção do novo ministro de trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, pelo secretário de Segurança da Bahia, Maurício Barbosa, que é delegado de carreira da polícia federal e homem de confiança de Wagner. Num primeiro momento, ele assumiria o controle dos serviços de inteligência da PF, que investigam a Lava Jato.

As revelações de Delcídio são parte de um acordo preliminar de delação premiada, revelado ontem pela revista IstoÉ, que ainda aguarda aprovação pelo ministro relator da Lava Jato, Teori Zavascki. O vazamento foi injustamente atribuído pelo  ex-presidente Lula e o PT  ao ex-ministro José Eduardo Cardozo. No depoimento, Delcídio afirma que a presidente Dilma Rousseff tentou interferir na Lava Jato por meio do Judiciário. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover soltura de réus presos na operação”, disse.

Uma das supostas investidas da presidente da República passou pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), com objetivo de soltar Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo, disse Delcídio aos procuradores, segundo a revista. O senador petista afirmou também que o ex-presidente Lula teria dado ordem para que Delcídio convencesse o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a não implicar seu amigo pecuarista José Carlos Bumlai.

Acuada pelos fatos, Dilma Rousseff tenta desqualificar Delcídio Amaral. Ontem, usou  a cerimônia de transferência de cargos da cúpula da Justiça para criticar “vazamentos seletivos ilegais”. Ela disse que a corrupção não começou na gestão petista e que todos têm direito à presunção da inocência. Mas o ataque mais duro a Delcídio foi do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que assumiu a Advocacia-Geral da União. “Se o Delcídio fez delação premiada, não tem credibilidade nenhuma. Ele mandava recados com ameaças se não fosse irada da prisão. Dizia que iria retaliar o governo”, declarou. Cardozo, porém, está no governo como um cachorro que caiu do caminhão de mudança.

O problema do governo é que o encadeamento dos fatos — com registros em agendas e câmeras de segurança — confirma as declarações de Delcídio. Todas as ações do Palácio do Planalto, desde a famosa carta de Dilma Rousseff sobre a compra da refinaria de Pasadena, que também é citada no depoimento de Delcídio, foram no sentido de abafar o escândalo da Petrobras, salvar as empresas envolvidas, escamotear o envolvimento de autoridades e livrar a cara dos políticos e executivos suspeitos.

Delcídio virou uma espécie de Minotauro solto na Esplanada, o ser com corpo de homem e cabeça de touro, que na mitologia grega devorava os que eram lançados no labirinto de Creta. A oposição decidiu acrescentar o conteúdo do que disse o senador à Procuradoria-Geral da República ao pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff e às ações que pedem a cassação dela e do vice Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao mesmo tempo, vão tentar dar prosseguimento ao processo de impeachment de Dilma.

Nada garante que a presidente da República se afaste ou seja afastada do cargo, mas a situação política se deteriorou muito, o governo perdeu a condição moral de conduzir a Nação e a economia virou um trem descarrilado.  A crise social se agrava. Os políticos não conseguem dar respostas ao impasse.  Uma saída institucional para a crise hoje está muito mais nas mãos  do Judiciário, que é lento e somente age quando provocado, do que nas de um Congresso paralisado por que seus presidentes também estão envolvidos na Lava Jato. O pior dos mundos seria um pronunciamento dos comandantes militares para forçar a renúncia de Dilma Rousseff, uma vez que as Forças Armadas, com a desmoralização do Congresso, são as instituições de maior prestígio na sociedade. Isso traria de volta a maior mazela da nossa história republicana: a tutela dos militares.  E seria, aí sim, um golpe de Estado.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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