O discurso do presidente Jair Bolsonaro hoje na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) foi voltado para seu público interno e para os aliados na política internacional, a maioria governantes reacionários na política e negacionistas na questão ambiental, com destaque para Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos. Para Bolsonaro, a crise ambiental e a crise sanitária, que hoje chamam a atenção mundial, são frutos do alarmismo da imprensa. No primeiro caso, culpou caboclos e índios pelas queimadas; no segundo, responsabilizou o Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e prefeitos pelo desemprego, em decorrência da política de isolamento social.
Bolsonaro disse que o Brasil sofre uma campanha “brutal” de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. Ao ressaltar a “melhor legislação” sobre o meio ambiente, mas mentiu quando disse que o país respeita as regras de preservação da natureza. Derivou para o chauvinismo: as críticas ao seu governo seriam fruto da cobiça internacional pelas riquezas da Amazônia, endossados por entidades “impatrióticas”, que se aliam a instituições internacionais para prejudicar o país.
Menosprezou os dados objetivos sobre desmatamento na Amazônia — aumento de 34% de agosto de 2019 a julho de 2020 —, disse que a floresta é úmida e os incêndios somente ocorrem nas bordas. Sua acusação aos índios e caboclos foi injusta e preconceituosa, um desrespeito aos amazônidas e sua cultura de selva. Foi cínico ao afirmar que o governo mantem uma postura de “tolerância zero” com o crime ambiental.
Além do negacionismo, Bolsonaro voltou a defender a teoria conspiratória de que as críticas ao Brasil são frutos da cobiça internacional por nossas riquezas e visam prejudicar o nosso agronegócio. Para arrematar, atacou a Venezuela: “Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo.”
Sem nenhuma empatia, Bolsonaro lamentou cada morte perdida em razão da pandemia de Covid-19, mas minimizou a gravidade da crise sanitária (140 mil mortes e 4,5 milhões de casos confirmados) e ignorou o heroísmo dos profissionais de saúde na linha de frente do combate à pandemia, responsáveis pela redução da letalidade do vírus. Exaltou o desembolso do próprio governo para auxiliar os mais atingidos pela pandemia financeiramente e o trabalho de militares, caminhoneiros, marítimos, portuários, aeroviários e os homens do campo, sua principal base eleitoral. Foi um discurso do tipo “pare mundo que eu quero descer”.