O PMDB e o tiro de advertência

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O PMDB realiza hoje sua convenção nacional. Apesar de dividido, a ala governista e a oposicionista entrarão num acordo, como sempre, sob o comando do vice-presidente da República, Michel Temer, o grande equilibrista da política nacional. O PMDB deve assumir uma posição de mais independência em relação ao governo Dilma. A decisão salomônica significa que o partido não deseja deixar o poder; na verdade, quer assumir o centro do poder, do qual esteve alijado durante todo o governo Dilma.
A cúpula do PMDB — toda ela – conspira contra Dilma, porque avalia que seu governo chegou a um estágio terminal. Hoje, o apoio ao impeachment é maior no Senado do que na Câmara, ao contrário do que o governo imaginava. Fortalecido pelo poder de homologar a admissibilidade do impeachment, que implica no afastamento da presidente da República e sua substituição interina pelo vice-presidente, atribuição que foi tirada da Câmara pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em polêmica decisão, o Senado é um o cadafalso pronto para cassar o mandato de Dilma.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já negocia a transição com a oposição. É um craque na arte de se reposicionar estrategicamente  durante as crises. Seu descolamento do governo, porém, é uma manobra de alto risco. Na sexta-feira, Renan entrou na alça de mira do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que ofereceu denúncia contra o presidente do Senado por envolvimento na Operação Lava-Jato. Sabe-se que o Ministério Público Federal prepara, desde o fim de semana passado, uma grande operação envolvendo políticos enrolados na Operação Lava-Jato.

Também às vésperas da convenção do PMDB aumentaram os vazamentos da delação premiada do ex-líder do governo Delcídio do Amaral (PT-MS), que cita, inclusive, o vice-presidente Michel Temer, responsabilizando-o pela indicação do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada, condenado a 12 anos de prisão na Operação Lava-Jato.  Temer nega, diz que era uma indicação da bancada de Minas. Os vazamentos fazem parte de uma estratégia de Delcídio para intimidar os colegas e evitar sua cassação pelo Senado, cujo pedido já foi aceito pelo Conselho de Ética da Casa.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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