O PT procura recuperar a sua capacidade de mobilização da sociedade. Sua prioridade é seduzir os jovens
A equipe econômica do governo Temer trabalha neste ano com uma meta de deficit fiscal de R$ 170,5 bilhões e projeta, na proposta de Orçamento da União de 2016, um rombo de R$ 135 bilhões nas contas públicas, isso se forem aprovados pelo Congresso o teto de gastos com base na inflação anterior e a reforma da Previdência, cuja proposta básica é alterar para 65 anos o limite mínimo de idade para as aposentadorias. Trata-se de uma consequência das trapalhadas da ex-presidente Dilma Rousseff e do oba-oba populista do governo Lula, que surfou na onda da expansão chinesa e do chamado “bônus demográfico”.
Mesmo assim, há muita vacilação das forças que apoiam o governo Temer quanto à aprovação do ajuste fiscal. Primeiro, por causa da cultura política perdulária e patrimonialista da maioria da base do governo no Congresso, a mesma que atuou como rolo compressor do governo Lula na expansão dos gastos públicos; segundo, por temor à reação ao ajuste do PT e seus aliados à frente dos movimentos sociais. São erros crassos. Por quê?
Ora, de um lado, os contribuintes não suportam mais carregar nas costas os interesses dos políticos alheios às necessidades da maioria da sociedade; de outro, os petistas e seus aliados farão oposição com ou sem teto de gastos, com ou sem reforma da Previdência. O que mais desgasta o presidente Temer é o imobilismo de seu governo, não o ajuste, que terá apoio de uma parcela significativa da sociedade. Isso não significa que possa fazer tudo de uma só vez, sem uma estratégia de discussão e negociação, seja com governadores e prefeitos, no primeiro caso; seja com os sindicatos e associações de aposentados, no segundo.
Felizmente, ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deu mostras de que tem consciência da envergadura dessas batalhas. Segundo ele, é “razoável” esperar que o teto de gastos seja aprovado ainda neste ano; já a reforma da Previdência, Meirelles acredita que somente será aprovada ao final do primeiro semestre de 2017, numa aposta otimista. Mas precisa explicar à sociedade o tamanho do rombo que encontrou e a sua anatomia.
Em qualquer conversa de bastidor no Congresso, os parlamentares petistas admitem o alívio em que se encontram após o impeachment, embora a retórica do “golpe de Estado” tenha recrudescido. A razão é simples: acreditam que não precisam prestar contas da situação em que o país se encontra. Além da crise ética e da complexa situação política, os governos Dilma e Lula desembocaram na maior recessão da nossa história e numa onda de desemprego recorde. A estratégia petista é mobilizar os movimentos sociais e aposentados contra o ajuste fiscal, indiferente ao fato de que estamos diante de um rombo no Orçamento da União sem precedentes. Mas é difícil varrer a História para debaixo do tapete.
“Vai ter luta!” Essa é a palavra de ordem petista, que mira os movimentos sociais. Depois do “Fora, Temer!”, com a qual pretendem reagrupar as forças políticas de oposição, o PT procura recuperar a sua capacidade de mobilização da sociedade. Sua prioridade é seduzir os jovens engajados nos protestos contra o governo, porque a crise econômica tirou-lhes as perspectivas e os partidos não os representam. Por ora, não querem nada com o PT. Mesmo assim, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra o qual os procuradores da Operação Lava-Jato apertam o garrote, tenta atrai-los com uma narrativa radical e romântica, cujas palavras, como diria Cazuza, não correspondem aos fatos.
Dualidade de poderes
A ex-presidente Dilma Rousseff no poder virara uma mala sem alça, seu governo liquidou com o emprego e os ganhos proporcionados pela transferência de renda. A cooptação de centrais sindicais e movimentos sociais enfraqueceu a representatividade desses setores. O impeachment foi uma derrota política, pois afastou do poder milhares de quadros e militantes petistas. O PT caminha para um desastre eleitoral sem precedentes, principalmente em São Paulo e São Bernardo. E tem, ainda, a Operação Lava-Jato, contra a qual a luta vem sendo inglória, inclusive para o ex-presidente Lula.
Mesmo assim, a cúpula petista adotou uma estratégia de confronto e não de acumulação de forças e resistência. Caminha numa faixa institucional estreita, que aposta numa espécie de “dualidade de poderes” para forçar a convocação de eleições diretas para a Presidência, ao não reconhecer o governo Temer e a aprovação do impeachment pelo Congresso. Promotores, juízes e ministros do Supremo Tribunal Federal são atacados diariamente. Vamos supor que essa estratégia empolgue a sociedade e desestabilize o governo Temer, no momento em que o país precisa do ajuste fiscal para sair da recessão e evitar o caos social. Esse cenário catastrófico não é o que os brasileiros desejam.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…