Nas entrelinhas: “Uberizados” de todo o mundo, uni-vos, propõem Lula e Biden

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Ambos defendem o fortalecimento de sindicatos e a elaboração de regras para disciplinar a relação de trabalhadores com plataformas digitais

Com outras palavras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quarta-feira, exumaram Karl Marx e Frederich Engels no Manifesto Comunista de 1848, ao lançarem o documento Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras, no qual defendem o fortalecimento de sindicatos e a elaboração de regras para disciplinar a relação de trabalhadores com plataformas digitais. Com toda certeza, serão chamados de comunistas pela extrema direita norte-americana e brasileira.

A comparação é equivocada, os dois revolucionários do século XIX faziam uma clara distinção, por exemplo, entre os comunistas e os cartistas da Inglaterra e os reformadores agrários na América do Norte, embora os apoiassem. À época, os comunistas não protagonizavam as ideias socialistas, os movimentos democráticos e as lutas trabalhistas. Exerciam menos influência do que outras correntes que lutavam contra o absolutismo e a brutal exploração dos trabalhadores na primeira Revolução Industrial, como anarquistas, ludistas, carlistas e toda sorte de socialistas.

Criada em 28 de setembro de 1864, em Londres, a Associação Internacional dos Trabalhadores — chamada de Primeira Internacional —, no qual ambos tiveram grande influência, pretendia abolir todos os exércitos e as guerras do mundo. Essa bandeira também foi adotada no Congresso da Segunda Internacional, realizado em Paris, em 1889, e foi confirmada pelo Congresso Social-Democrata de Stuttgart, em 1907. Entretanto, seria o grande divisor de águas entre os social-democratas e os comunistas, a partir da Primeira Guerra Mundial.

De origem marxista, a Social-Democracia Alemã, da qual Marx e Engels foram fundadores, chegou ao poder em 1918, na República de Weimar, que viria a colapsar. Antes disso, porém, houve o grande “racha” da Segunda Internacional, após a bancada parlamentar do Partido Social-Democrata alemão apoiar por unanimidade a entrada da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e aprovar o orçamento militar do Imperador alemão, Guilherme II. Depois, os partidos social-democratas austríaco, húngaro, polonês, francês, belga, inglês, italiano, português e espanhol fizeram a mesma coisa.

Os social-democratas russos foram a exceção. Decidiram lutar contra a guerra e o czar Nicolau II, Imperador da Rússia, Rei da Polônia e Grão-Duque da Finlândia. Obtiveram sucesso em fevereiro de 1917. Entretanto, o revolucionário russo Vladimir Lênin rompeu definitivamente com a social-democracia russa, que era reformista, e tomou o poder, em outubro do mesmo ano, para criar uma república soviética “de operários, soldados e camponeses”.

A Social-Democracia Alemã, à qual pertence o atual primeiro-ministro Olaf Scholz, sempre optou pelo caminho das urnas e das reformas. Na República de Weimar, a divisão entre social-democratas e comunistas acabou favorecendo a ascensão ao poder de Adolf Hitler, líder do Partido Nacional-Socialista (nazista).

As propostas

Lula e Biden lançaram seu manifesto ao lado do diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Gilbert Houngbo. Brasil e Estados Unidos pretendem, juntos, incentivar a geração de empregos com direitos trabalhistas e proteger quem trabalha por meio de plataformas digitais, como aplicativos de transporte de passageiros e de entrega de refeições. “Também estamos preocupados e atentos aos efeitos no trabalho da digitalização das economias e do uso profissional da inteligência artificial no mundo do trabalho”, declararam Brasil e Estados Unidos.

As propostas são as seguintes: ampliar o conhecimento sobre direitos trabalhistas; garantir que a transição energética ofereça empregos que não sejam precários; aumentar a importância dos trabalhadores em organismos como G20 e nas conferências do clima (COP28 e COP30); apoiar e coordenar programas de cooperação técnica, relacionados ao trabalho; capacitar trabalhadores e proteger direitos de quem trabalha por meio de plataformas digitais; e buscar parceiros do setor privado para criar empregos dignos nas principais cadeias de produção, combater a discriminação e promover a diversidade.

Biden está em campanha pela reeleição. A iniciativa mira a grande massa de trabalhadores norte-americanos “uberizados” ou desempregados, que são atraídos pelo ex-presidente Donald Trump; Lula quer fortalecer os sindicados, que entraram em colapso financeiro com o fim do imposto sindical e foram esvaziados pelo uso intensivo de tecnologia nas empresas. “Uberizados” e empreendedores brasileiros votaram em massa no ex-presidente Jair Bolsonaro.

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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