Nas entrelinhas: A travessia de Temer

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O governo quer aprovar a reforma em primeiro turno nas sessões de terça e quarta-feira próximas da Câmara, o que permitiria realizar a votação em segundo turno em 13 de dezembro

Do ponto de vista do sucesso de seu governo, em que pese a rejeição pela Câmara das duas denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a verdadeira “ponte para o futuro” do presidente Michel Temer é a reforma da Previdência. Dela dependerá o desempenho do seu governo no ano eleitoral. Não é à toa que o Palácio do Planalto organiza uma pajelança com a base aliada no domingo, para articular a aprovação do relatório do deputado Arthur Maia (PPS-BA) na próxima semana. Todos os prognósticos, porém, são de que a reforma não será aprovada, entre outras coisas, por causa do desembarque do PSDB do governo Temer, confirmado ontem pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

O governo precisa de 308 votos necessários para aprovar a reforma. Temer chegou à conclusão de que é muito mais difícil aprovar a reforma no próximo ano do que agora, por causa da proximidade das eleições. O Palácio do Planalto, porém, não teria votos para aprová-la. Se considerarmos a base mais fiel ao governo, pronta para o que der e vier e contrariar a opinião pública, o governo teria apenas 240 votos leais. A intenção de Temer é cobrar dos aliados um compromisso com o projeto reformista original do governo, que garantiria a todos um lugar na História não somente por ter apeado Dilma Rousseff da Presidência.

O governo quer aprovar a reforma em primeiro turno nas sessões de terça e quarta-feira próximas da Câmara, o que permitiria realizar a votação em segundo turno em 13 de dezembro, muito simbólico. Dia do Marinheiro, foi data da edição do Ato Institucional nº 5, em 1969, marco da fascistização do regime militar implantado em 1964. Mas o governo, por enquanto, não conseguiu reunir a própria tropa. Ontem, o vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), jogou um balde de água fria na reforma da Previdência: “Nem se fosse mágico ou trouxesse o papa Francisco para cá, não conseguiria reunir quórum para aprovar a reforma da Previdência”, disparou.

Entretanto, o problema não é só a provável falta de quórum, é a disposição mesmo de a maioria votar contra a reforma. É tanta que até o PSDB (cujos economistas não cansam de falar da importância da mudança na Previdência para a retomada do crescimento) resolveu deixar a questão em aberto, para cada deputado seguir de acordo com a própria consciência. Para articuladores experientes do governo, a situação é realmente difícil, porque a reforma contraria as corporações do serviço público, principalmente a alta burocracia, que é muito poderosa em Brasília. O lobby dos servidores federais, inclusive da Câmara, é pesadíssimo. E passa por sistemática campanha nas redes sociais, rádios e tevês. É também mais eficaz do que o lobby difuso dos sindicatos, porque mira pontos específicos da reforma e atua no corpo a corpo com os parlamentares. O novo diretor da Polícia Federal, delegado Fernando Segovia, por exemplo, faz lobby aberto para flexibilizar a reforma em relação aos policiais federais.

Tchau, queridos!

Quem está deixando o lobby difuso e partindo para o foco customizado, porém, é o movimento Vem Pra Rua, um dos principais organizadores das manifestações pró-impeachment. Ao contrário dos movimentos Agora e Renova, que querem eleger gente nova para o Congresso, Rogério Chequer, porta-voz do grupo, com o apoio do Mude e do Ranking dos Políticos, quer fazer uma espécie de lista maldita de parlamentares, elaborada com base na atuação parlamentar e na ficha criminal de cada político, para derrotá-los nas eleições de 2018, daí o movimento se intitular “Tchau, queridos!”. “Alguns parlamentares que estão aí não podem continuar”, afirma o líder do movimento.

Até as eleições de 2018, o grupo pretende fazer um perfil negativo de cada parlamentar, com destaque para votações importantes, como as do impeachment, das 10 medidas contra a corrupção e das denúncias contra o presidente Temer. O detalhe importante é a estratégia do grupo. Formado por jovens empresários da chamada economia do conhecimento e por intelectuais de classe média, o Vem Pra Rua está organizado nacionalmente, tem uma grande base de dados e promete utilizar o geoprocessamento para localizar os eleitores de cada parlamentar e atacá-lo em sua respectiva base eleitoral, com destaque para os estados cuja política é controlada pelos envolvidos na Operação Lava-Jato. É um outro tipo de campanha que vem por aí!

Publicado no Correio Braziliense, no dia 3 de novembro

Luiz Carlos Azedo

Jornalista

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