O problema do discurso de Lula, quando se volta contra Moro e a Justiça Federal, é que essa estratégia não tem chance de dar certo
A expressão francesa significa uma conversa a dois, exatamente o sentido que lhe dá o povo quando a usa. Por essa razão, talvez seja melhor dizer que o encontro de hoje entre Luiz Inácio Lula da Silva e o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, será mesmo cara a cara, pois também poderão fazer perguntas os procuradores da Operação Lava-Jato e os advogados do ex-presidente, que costumam espicaçar os acusadores do petista durante os depoimentos das testemunhas. Do lado de fora, é possível que haja muita pirotecnia. Ontem, a tropa de choque da Polícia Militar do Paraná desfilou em marcha acelerada pelo centro da capital para exibir seus músculos; nas proximidades da estação rodoferroviária, João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra (MST), que chegaram marchando, orientava seus seguidores para os protestos de hoje.
Não é preciso ser um adivinho para imaginar possíveis escaramuças, mas se não faltar juízo à cúpula petista, tudo deve transcorrer dentro dos limites dos protestos de oposição. O que faz a diferença não é a manifestação em si, mas o sentido político da narrativa que está sendo construída pelo ex-presidente da República e seu partido. Em sintonia com a tese de que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi um golpe contra a democracia, começa-se a ensaiar um discurso de que o julgamento de Lula é uma violação do Estado de direito democrático, o que é completamente falso.
A Frente Brasil Popular, que reúne o PT, o PSB e movimentos sociais, desde ontem realiza manifestações em Curitiba, que culminaram com uma vigília na catedral. Hoje, os protestos começarão pela manhã e somente terminarão às 18h, com um ato na Boca Maldita, ao qual a ex-presidente Dilma Rousseff confirmou presença e talvez o próprio Lula compareça. Ou seja, não faltará oportunidade para confusão nas ruas. Toda essa produção é meio cenográfica, pois tem a intenção de produzir farto material audiovisual para os programas do PT. Na outra ponta, os manifestantes a favor da Lava-Jato e de Moro deverão se concentrar no Centro Cívico, em número imprevisível, até porque Moro fez um apelo para que não realizassem a manifestação. Acontece que “invasão” petista de Curitiba pode ter mexido com os brios dos “coxinhas” da cidade, que tem 1,9 milhão de habitantes, sem considerar os municípios vizinhos.
A estratégia de Lula para enfrentar a Lava-Jato não tem nada de original, segue a lógica dos movimentos de esquerda durante a guerra fria. Ou melhor, é mais antiga ainda, parte do princípio de que o julgamento deve ser politizado e os papéis invertidos, como no julgamento do líder comunista búlgaro George Dimitrov, dirigente da Internacional Comunista preso na Alemanha nazista sob a falsa acusação de ser o autor do famoso incêndio do Reichstag, o parlamento alemão, em fevereiro de 1933. Tendo dispensado advogados, Dimitrov assumiu a própria defesa e desmascarou, no julgamento do processo, a farsa montada pelo nazismo para desencadear feroz repressão contra a oposição alemã.
Estratégia
É mais ou menos essa a estratégia do PT e de Lula, com a diferença de que não estamos na Alemanha nazista, nem em meio à guerra fria; não se trata de um processo político, mas penal. Pode-se ponderar que houve excessos na Lava-Jato, como afirma o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, ou mesmo questionar certas decisões do juiz Moro, como a condução coercitiva de Lula, mas existe o devido processo legal. É nele que Lula pode se estribar para sair da enrascada em que se meteu. O problema do discurso político de Lula, quando se volta contra Moro e a Justiça Federal, é que essa estratégia não tem a menor chance de dar certo.
O problema de Lula não é o juiz Moro, são as trapalhadas que andou fazendo. Ontem, em Porto Alegre, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região rejeitou o pedido da defesa para adiar o depoimento. Em Brasília, o juiz substituto Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, determinou, a pedido do Ministério Público Federal, a suspensão das atividades do Instituto Lula, entidade comandada pelo ex-presidente. O magistrado justificou a decisão com a afirmação de que, mesmo que o Instituto Lula desenvolva projetos de cunho social, há indícios “veementes” de “delitos criminais” que podem ter sido iniciados ou instigados na sede da entidade, localizada em São Paulo.
“Como o próprio acusado mencionou que no local se discutiam vários assuntos, e há vários depoimentos que imputam pelo menos a instigação de desvios de comportamentos que violam a lei penal, a prudência e a cautela recomendam a paralisação de suas atividades. Há indícios abundantes de que se tratava de local com grande influência no cenário político do país, e que possíveis tratativas ali entabuladas fizeram eclodir várias linhas investigativas”, despachou o juiz.
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