O presidente interino se tornou refém do chamado Centrão da Câmara, que emplacou um deputado acusado de tentativa de homicídio como novo líder do governo
O presidente Michel Temer já vive numa espécie de purgatório, no qual terá que pagar todos os pecados de sua interinidade no cargo, até que o Senado aprove em caráter definitivo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, que somente não poderá rir por último porque sua derrota na Casa já é irreversível. Explico: Temer está sendo obrigado a aceitar todas as exigências das forças que até as vésperas do impeachment apoiavam o governo petista.
Temer precisa aprovar com urgência o pacote de medidas econômicas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para restabelecer um precário equilíbrio fiscal, a começar pela meta de superavit, que deverá ser alterada pelo Congresso para um deficit de R$ 150 bilhões, até terça-feira. O presidente interino se tornou refém do chamado Centrão da Câmara, que emplacou um deputado envolvido na Operação Lava-Jato e acusado de tentativa de homicídio como novo líder do governo: André Moura (PSC-SE), cuja bancada tem apenas oito deputados.
André Moura era o candidato do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Apesar do filme queimado, graças ao padrinho, o novo líder do governo conta com o apoio de 300 deputados do Centrão, o bloco formado por 13 partidos na Câmara: PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, PSL, PEN, SD, PTN, PHS, Pros e PTdoB. Esse dispositivo parlamentar pode aprovar a maioria das propostas de Meirelles, mas emendas constitucionais polêmicas terão dificuldade. É o caso da recriação da CPMF, o antigo imposto do cheque, e da idade mínima para as aposentadorias.
DEM, PPS e PSB, os partidos de oposição, que defendiam o nome de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o posto, dizem que não vão aceitar a indicação. No caso do DEM, deputados já cogitam, inclusive, pressionar ministros da sigla a entregarem cargos na administração de Temer, como é o caso de José Carlos Aleluia (BA) — o que obviamente não ocorrerá, uma vez que o ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho (DEM), está feliz da vida no novo cargo. Os líderes do PPS, Rubens Bueno (PR), e do DEM, Pauderney Avelino (AM), souberam da indicação de Moura pelos jornais.
Foi também pelos jornais que o presidente do PPS, Roberto Freire, ficou sabendo de que o secretário de Cultura do MEC seria Marcelo Calero, 33 anos, que ocupava o mesmo cargo na prefeitura carioca, com passagens anteriores pela Petrobras e pela Comissão de Valores Mobiliários. Um dos jovens assessores do prefeito Eduardo Paes, foi responsável pela festa dos 450 anos da Cidade Maravilhosa. Até o fim da tarde de terça-feira, o escolhido para o cargo era o cineasta João Batista de Andrade, que Freire havia indicado, mas cujo nome foi descartado por Mendonça, numa reunião com Temer, da qual participou o prefeito de Salvador, ACM Neto.
Outra confusão armada é a permanência do deputado Waldir Maranhão (PP-MA) na Presidência interina da Câmara. PSDB, DEM, PSB e PPS querem a saída do deputado trapalhão, que mal consegue presidir uma sessão da Casa, mas o Centrão prefere mantê-lo no cargo. Impotente diante da situação, Temer prefere se manter longe dessa queda de braço. O poder de influência de Cunha continua sinistro. Seu ex-advogado Eduardo Gustavo do Vale Rocha foi nomeado subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil e o ex-assessor especial Carlos Henrique Sobral, chefe de gabinete da Secretaria de Governo. Ou seja, a tutela se estende aos ministros Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima, respectivamente.
Itamaraty
O senador José Serra (PSDB-SP) assumiu ontem o cargo de ministro das Relações Exteriores e anunciou uma ruptura com a política externa dos governos Lula e Dilma. “A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior. A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido”, disse.
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