Diariamente, nas redes sociais, Dilma critica as medidas adotadas por Temer e tenta responsabilizá-lo pela situação desastrosa em que deixou o país
Duas semanas de governo provisório já são suficientes para constatar que o presidente interino, Michel Temer, logrou dois objetivos: formar uma boa equipe econômica, com credibilidade junto aos agentes financeiros, e garantir a base política necessária para aprovação do ajuste fiscal. A incógnita que ainda resta é a aprovação definitiva do impeachment pelo Senado, embora a volta da presidente Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto seja remotíssima. Basta imaginar o cenário em que isso ocorreria para descartar a hipótese.
Temer reforçou o caráter técnico da equipe econômica ontem, ao dar posse aos novos presidentes da Petrobras, Pedro Parente; do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Sílvia Bastos; do Banco do Brasil (BB), Paulo Rogério Caffarelli; da Caixa Econômica Federal (CEF), Gilberto Occhi, e do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA), Ernesto Lozados. O fim da política dos “campeões nacionais” nos financiamentos públicos e a decisão de não utilizar o preço dos combustíveis para mascarar a inflação corroboram esse caráter da equipe.
Ao contrário do que acontece com a equipe econômica, porém, Temer deixou claro que não existe blindagem política para os ministros em relação às investigações da Operação Lava-Jato: “A toda hora leio uma ou outra notícia que o objetivo é interferir. Sem nenhum deboche, digo pela enésima vez: não há a menor possibilidade de qualquer interferência do Executivo nesta matéria”. A queda de dois ministros no curto espaço de duas semanas, o senador Romero Jucá, que ocupava o Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência, Fiscalização e Controle, é suficiente para demonstrar que ninguém é imexível no governo provisório.
Temer vive uma situação inédita na política nacional, nenhum vice assumiu a Presidência em circunstâncias parecidas. José Sarney foi alçado ao comando da nação em razão da morte do presidente Tancredo Neves, antes da posse, numa transição à democracia ainda tutelada pelas Forças Armadas. Itamar Franco assumiu o posto com o afastamento de Fernando Collor de Mello, que renunciou; batido nas ruas e no Congresso, não ofereceu resistência ao novo governo, também definitivo. Temer, não; enfrenta a resistência do PT e seus aliados ainda encastelados na máquina federal e nos movimentos sociais, enquanto a presidente Dilma Rousseff permanece no Palácio da Alvorada, transformado em bunker de um “governo fantasma”.
Autoengano
Diariamente, nas redes sociais, Dilma critica as medidas adotadas por Temer e tenta responsabilizá-lo pela situação desastrosa em que deixou o país. Se o ministro de Relações Exteriores, José Serra, se encontra com o presidente francês, François Hollande, no dia seguinte, por exemplo, o assessor especial Marco Aurélio Garcia, eminência parda da política externa dos governos petistas, desanca a nova orientação do Itamaraty. Há um pouco de pantomina em tudo isso, mas a estratégia serve para manter a chama dos protestos petistas e alguns desatinos dos militantes, como a ocupação do gabinete da Presidência da República em São Paulo, durante manifestação na Avenida Paulista.
Na Inglaterra, o Partido Trabalhista mantém um gabinete composto por cinco membros ex-officio, remunerados para isso, e 19 deputados eleitos, que criticam as medidas do governo e oferecem propostas alternativas, o Official Loyal Opposition Shadow Cabinet (Leal Oposição Oficial do Gabinete Sombra). O “governo fantasma” do Alvorada é uma espécie de “me engana que eu gosto”, pois a maioria de seus integrantes não tem a menor esperança de voltar ao cargo. Na Comissão de Ética Pública da Presidência da República, há 127 pedidos de quarentena, dos quais 28 concedidos a ex-ministros e outros ocupantes de cargos no governo, que continuarão sendo remunerados por seis meses. Essa quarentena é uma espécie de salva-vidas para a dura travessia do poder para a planície.
Misto de autoengano e jus sperneandi. O estímulo à participação de servidores e ex-ocupantes de cargos de confiança em ocupações e manifestações que degeneram em violência não é um bom caminho. Essas ações isolam ainda mais o PT; a radicalização não agrada à maioria da população. Agora, curiosamente, o PT afirma que o impeachment é um golpe para abafar a Lava-Jato, mas toda vez que as investigações chegam perto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o discurso muda e recrudescem os ataques ao juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.
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