É um erro, porém, tratar Jovair como uma espécie de novo Severino Cavalcanti (PR-PE), que foi o rei do baixo clero e conseguiu se eleger presidente da Câmara
O Diário Oficial da União circulou ontem com a nomeação de Jorge Luiz de Andrade da Silva para uma diretoria da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, com orçamento de R$ 2,95 bilhões e “muita capilaridade”. Seria apenas mais uma nomeação se não fosse também um sinal de boa vontade do Palácio do Planalto em relação ao deputado Jovair Arantes (PTB-GO), candidato do Centrão à Presidência da Câmara.
O principal adversário de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que pleiteia a reeleição à presidência da Câmara, é uma espécie de último dos moicanos entre os líderes da Casa que pontificaram durante os governos Lula e Dilma. Também teve um papel decisivo, ao lado de Rogério Rosso (PSD-DF), outro dos postulantes ao cargo, no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Jovair foi o relator do pedido de Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Junior, por indicação direta do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi cassado e está preso; Rosso, o presidente da comissão especial do impeachment. Apesar das pressões, Jovair não vacilou em nenhum momento e fez um parecer favorável ao afastamento. Costuma ser objetivo nas conversas com os pares.
“Sou um político à moda antiga, meu negócio é cargo. Não consigo controlar a minha bancada sem os cargos. É toma lá dá cá mesmo”, disparou Jovair, para espanto geral, na primeira reunião de líderes de bancada com o então recém-nomeado ministro da secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, já defenestrado do cargo por causa de um rolo imobiliário, após Michel Temer assumir a Presidência definitivamente. A frase foi dita com ênfase, para que os demais líderes também ouvissem, depois de uma intervenção política na qual o líder do PTB mostrou plena sintonia com o novo governo.
É um erro, porém, tratar Jovair como uma espécie de novo Severino Cavalcanti (PR-PE), que foi o rei do baixo clero e conseguiu se eleger presidente da Câmara em pleno governo Lula, mas durou pouco no cargo, por causa de um pedido de propina ao dono de uma lanchonete que funcionava na Casa. Jovair é muito mais preparado, articulado e também opera a grande política. Além disso, é corajoso. Não tem medo de duros enfrentamentos políticos. Aliado de Temer, porém, tem política própria e já mandou recado de que pretende conduzir a Câmara com independência.
A grande cartada de Jovair como candidato a presidente da Câmara, ao contrário do que muitos podem deduzir, não é operar o fisiologismo básico do baixo clero, o que ele sabe fazer muito bem. É operar a grande política, com a promessa de salvar a elite política do país, tanto da Operação Lava- Jato como da revolta das urnas. Como? Levando à votação no plenário da Câmara a chamada anistia do caixa dois eleitoral e aprovando uma reforma eleitoral capaz de blindar os políticos com mandatos, tornando inviável a renovação política via novos partidos. O voto em lista e o aumento das verbas do fundo partidário, como quer o PT, pode ser a salvação para todos os “anistiados” nas urnas.
Jovair faz campanha dizendo aos colegas enrolados que fará o que Maia não teve peito de fazer. Ao mesmo tempo, questiona na Justiça a candidatura à reeleição do presidente da Câmara, que até agora faz uma campanha envergonhada, ou seja, Maia se movimenta como candidato, mas não assume a candidatura, que parecia imbatível, caso não pudesse ser impugnada. Mas Jovair cresceu nos bastidores. Não foi à toa que seu apadrinhado acabou nomeado. Se Maia for retirado da disputa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), imbatível será Jovair.
Haiti é aqui
Policiais civis e agentes penitenciários do Rio de Janeiro entraram em greve, o que agrava a crise de segurança no estado. Secretários de segurança de todo o país, reunidos com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, querem que o governo federal garanta uma fonte permanente de recursos para manutenção do sistema prisional nos estados. Sobrou para as Forças Armadas, que vão ter de ajudar a manter os presídios sob controle, o que cria um novo problema: não foram treinados para isso. A ideia é empregar as tropas nas varreduras dos presídios. Talvez a experiência do Haiti ajude em alguma coisa. Mas a César o que é de César. Se as fronteiras não estivessem tão vulneráveis ao tráfico de armas e de drogas, talvez a situação fosse outra.
O presidente brasileiro defendeu a taxação de operações financeiras de super-ricos, para financiar o combate…